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2001_Luzes-ApostoloPulchrum

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LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ<br />

diplomacia cavalheiresca. Um nobre veneziano e um<br />

representante da Áustria conversavam num daqueles<br />

encantadores balcões da cidade das águas, e os olhares<br />

de ambos se detiveram na imagem do leão alado. O austríaco<br />

virou-se para o veneziano e disse num tom de<br />

pouco caso, como quem graceja:<br />

— Curioso este país onde os leões têm asas...<br />

O outro respondeu ato contínuo, na mesma toada:<br />

— Mais curioso o país onde as águias têm duas<br />

cabeças...<br />

Na verdade, estavam fazendo uma<br />

brincadeira quase que de salão,<br />

porque, de si, nem uma coisa<br />

nem outra é ridícula. Tratamse<br />

de símbolos, aos quais se<br />

permite uma ousadia que<br />

não se concede aos se-<br />

alta expressão da arte, sobretudo a arte inspirada pela<br />

Igreja, seja a de proporcionar ao homem a manifestação<br />

dos símbolos que tanto enriquecem sua inteligência e seu<br />

espírito.<br />

Havia uma escola de pintura do século XIX que costumava<br />

apresentar a realidade sempre envolta numa espécie<br />

de névoa. Na verdade, esta missão da arte tinha em vista<br />

apresentar um certo caráter simbólico que a névoa confere<br />

aos ambientes e aos objetos por ela abarcados.<br />

Imagine-se, por exemplo, um castelo gótico no<br />

alto de um monte ou na encosta de<br />

uma colina, meio agasalhado na<br />

bruma. Assim ele diz mais o que<br />

deseja expressar do que se estivesse<br />

sem a bruma. Por<br />

quê? Porque esta apresenta<br />

o lado irreal, que<br />

res vivos. Com efeito,<br />

o universo dos símbolos,<br />

embora exprima uma realidade,<br />

é até certo ponto o<br />

mundo da fantasia. Ele se situa<br />

entre a fantasia e a realidade: não podendo<br />

ser inteiramente fantasia, não será —<br />

senão mais raramente — uma mera realidade. De fato, o<br />

símbolo será tanto mais artístico quanto mais exprima o<br />

fundo da realidade, distanciando-se ao mesmo tempo das<br />

aparências desta.<br />

Qual é o papel do leão alado ou da águia bicéfala? É,<br />

novamente, fazer repercutir na nossa sensibilidade algo que<br />

a mente já compreendeu, tornando essa compreensão ainda<br />

mais completa. Por isso o símbolo é tão conveniente<br />

para o conhecimento humano. E, a meu ver, talvez a mais<br />

é preciso a fantasia<br />

juntar ao real, para a<br />

sensibilidade ser inteiramente<br />

tocada. Numa palavra, o símbolo ajuda a<br />

sensibilidade a se elevar às alturas, onde o intelecto<br />

do homem foi conduzido pela razão, e,<br />

sobretudo, pela fé.<br />

Para concluir, lembremos que Deus outorga a certos<br />

homens e mulheres a missão de simbolizar. E, curioso,<br />

nem sempre são pessoas de muito valor. Porém, possuem<br />

uma estampa, um modo de ser, que, se corresponderem à<br />

graça, externam e tornam particularmente atraentes determinadas<br />

virtudes. Por causa disso, são chamados a<br />

praticá-las eximiamente, transformando-se em anúncios<br />

luminosos da perfeição moral. Estes são os Santos. E um<br />

Santo nunca se apagará da história.<br />

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