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2001_Luzes-ApostoloPulchrum

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LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ<br />

ASainte Chapelle (Santa Capela), mandada construir<br />

pelo rei São Luís de França, é um desses<br />

tesouros da arte católica, inspirado por uma Fé<br />

tão rica e tão florescente, que sempre encontramos algo<br />

de novo a se dizer e se comentar a respeito dela.<br />

Por exemplo, acerca de seus magníficos vitrais.<br />

Quando os conheci, tive a impressão de estar ouvindo<br />

um fabuloso coro cantando, no qual cada vitral era uma<br />

voz, e que entoava uma melodia entendida de maneira peculiar<br />

por mim, assim como era compreendido de modo diverso<br />

pelas diferentes almas que o “escutavam”. E como é<br />

o próprio da interlocução, deram-me oportunidade de discernir,<br />

no meu interior, mil virtualidades, anseios, sedes<br />

que eu tinha e que só percebi no momento de “beber a<br />

água”, ou seja, “ao ouvir” aquele cântico feérico dos vitrais<br />

da Sainte Chapelle. Supérfluo dizer que me encantaram ao<br />

ponto do indizível. A partir desse momento, ao pé da letra,<br />

vários espaços de minha alma começaram a viver.<br />

Que lembranças guardo do que eles me diziam com suas<br />

“vozes” que não emitiam sons, mas fabulosos coloridos?<br />

Eu não imaginava que daquelas cores — digamos, de<br />

um azul, de um vermelho, de um verde, etc. — fosse pos-<br />

sível obter tantos matizes, finos, suaves, fazendo aparecer<br />

o que essas cores têm de mais delicado, sem se transformarem<br />

em cor-de-rosa, azul claro ou verde-água triviais que<br />

por aí existem.<br />

Por outro lado, desmentiam para mim uma idéia primitiva,<br />

segundo a qual essas cores muito delicadas só eram obteníveis<br />

com matérias-primas raras e com elas apenas se<br />

podiam pintar superfícies pequenas, deteriorando-se logo. E<br />

que, portanto, havia um irremediável divórcio entre a grandeza<br />

e aquela forma de delicadeza matizada que estava lá.<br />

Ora, diante de mim reluziam vitrais enormes, apresentando<br />

matizes de extrema suavidade, sem serem homogêneos,<br />

com uma agradável variedade de tons dentro de cada<br />

painel. E então este instantâneo da delicadeza fixada, tornada<br />

grandeza, e o débil que se apresenta rei, deu-me a impressão<br />

de uma vitória da alma justa, de uma vitória de tudo<br />

quanto é frágil, reto, inocente, sobre o que é ruim, uma<br />

impressão de fato extraordinária, que produziu no meu espírito<br />

um “tressaillement” de contentamento.<br />

Agora, num misto de análise artística e psicológica, notei<br />

também que esses matizes que assim se ostentavam não venciam<br />

com a arrogância de um boxeur que derruba o adver-

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