LUZES DA CIVILIZAÇÃO CRISTÃ poca áurea da Civilização Cristã em que todos eram católicos. Assim, tornava-se possível que a maioria dos fiéis assistisse às missas e participasse das cerimônias litúrgicas dentro do recinto sagrado, ao abrigo das vicissitudes climáticas, nevascas, tempestades, fortes calores, etc. A igreja era a própria casa do povo, porque era o palácio de Deus, onde havia lugar para ricos e pobres, reis e senhores feudais, autoridades eclesiásticas e representantes civis, para nobres e plebeus. Dentro, formavam uma só família cristã, sob o manto da Santa Madre Igreja e a celeste proteção de Maria Santíssima. Todos podiam se beneficiar da amplitude daqueles espaços interiores, das sólidas e imponentes colunas que se lançam para o alto abrindo-se e se encontrando em ogivas góticas, das grossas paredes de pedra e — mais que tudo — da maravilhosa luminosidade multicolorida, proporcionada por seus deslumbrantes vitrais. Verdadeiras rendas de vidros policromados, fundindo-se numa mescla de cores capaz de encantar ao mais insensível dos homens. ixando-se neles a atenção, é-nos permitido discernir uma série de figurinhas que se movem, que tomam atitudes, que falam e gesticulam: em geral são representações de episódios do Antigo e do Novo Testamentos, cenas históricas da Cristandade, batalhas memoráveis, ou acontecimentos decisivos para a humanidade, como a Ressurreição dos mortos e o Juízo inal. Nessa feeria de cores predomina o azul, profundo, lindíssimo, lembrando o anil de certas asas de borboletas que embelezam nossos bosques tropicais. Talvez não fosse exagerado afirmar que o azul de Bourges é o azul da rança, posto em vitrais que não só entusiasmam, como encerram lições de História Sagrada: os fiéis que não sabiam ler, acabavam conhecendo a Bíblia através daquelas luminosas e coloridas páginas de vidro... * Vale apontar, ainda, a beleza dos chamados botaréus, os contrafortes que arrimam as paredes externas da igreja. Parece que os medievais não possuíam pleno domínio dos cálculos necessários para garantir a estabilidade de gigantescos edifícios como a Catedral de Bourges. Para evitar que ruíssem, erguiam do lado de fora uma Nos vitrais de Bourges, a Bíblia escrita em páginas de vidro série de arcos-botantes, colocados de encontro ao corpo da igreja. Mas essa função prática se oculta sob formas tão bonitas, tão elegantes, tão leves que, se alguém pensasse em tirar essas escoras, os artistas da rança e do mundo inteiro protestariam. Compreende-se: quando se tem uma grande alma, até o não-conhecimento leva ao belo... Eis a Catedral de Bourges, o fruto de almas cristianizadas e estuantes de fé, que acabaram dando origem a esse magnífico estilo gótico, por meio do qual nos aproximamos da grandiosidade e da força, da harmonia e leveza infinitas de Deus Nosso Senhor. v 34
Os arcos-botantes da Catedral de Bourges, símbolo da grandeza da alma cristã sempre à procura do mais belo