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inspiração<br />
Twitter, trapaças e HD fumegante<br />
Fotos: Divulgação<br />
“Nesses tempos on<strong>de</strong> tudo dura muito pouco, as vonta<strong>de</strong>s duram menos<br />
ainda <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós; somos HDs prestes a enfumaçar, diariamente”<br />
Daniel SantanDer<br />
especial para o PrOPMarK<br />
No ano em que o mundo começou a escrever<br />
em 140 caracteres, uma das minhas<br />
vonta<strong>de</strong>s mais antigas foi ganhando<br />
corpo, sílaba por sílaba. Redator <strong>de</strong> formação,<br />
apaixonado por Tarantino, resolvi<br />
<strong>de</strong>dicar minhas horas extras da agência a<br />
uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> roteiro original.<br />
O ano era 2006 e o storyline saiu todinho<br />
em uma noite. Personagens criados, nomes,<br />
conflitos e um baita <strong>de</strong> um final.<br />
Na semana seguinte meu macbook voou,<br />
mais <strong>de</strong> 30 páginas por dia, o roteiro tomava<br />
forma e eu tomava coragem para compartilhar<br />
uma prévia com uma amiga. E foi<br />
aí que a trama complicou, e não estou falando<br />
do roteiro.<br />
Aquelas <strong>de</strong>cisões que você nunca enten<strong>de</strong><br />
por que tomou, salvei o documento<br />
em um HD externo e, por hábito, <strong>de</strong>letei do<br />
computador.<br />
Sobe a trilha <strong>de</strong> suspense.<br />
Óbvio que isso não ia dar certo, e não<br />
<strong>de</strong>u.<br />
O HD queimou e bit por bit minha inspiração<br />
virou fumaça.<br />
Lembrei-me <strong>de</strong>ssa história esta semana,<br />
12 anos <strong>de</strong>pois do ocorrido, num papo com a<br />
equipe sobre motivação, inspiração e ação.<br />
Nesses tempos em que tudo dura muito<br />
pouco no ar, as vonta<strong>de</strong>s duram menos<br />
ainda <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós. Somos HDs prestes a<br />
enfumaçar, diariamente.<br />
Matamos uma série inteira numa tar<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Netflix, chegamos ao “fim” dos feeds<br />
todos os dias na cama. E sabe o que sobra<br />
disso? Muito pouco.<br />
Amanhã já seremos bombar<strong>de</strong>ados por<br />
uma nova série tipo Inocentes, que assisti<br />
até o final esperando que ela melhorasse em<br />
algum momento e nada, um novo post ou<br />
ví<strong>de</strong>o do YouTube que não vamos lembrar.<br />
Hitchcock que me perdoe, mas vou reescrever<br />
a sua celébre frase. “The length of<br />
a film should be directly related to the endurance<br />
of the human blad<strong>de</strong>r” (A duração<br />
<strong>de</strong> um filme <strong>de</strong>ve ser proprocional à resistência<br />
da bexiga). Dura um piscar <strong>de</strong> olhos,<br />
ou uma mensagem no whats, no máximo.<br />
Já passamos pelos 18 minutos do TED, 1 minuto<br />
no Insta. Hoje a nossa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
atenção é digna <strong>de</strong> um peixe, 8 segundos e<br />
olhe lá.<br />
Isso impacta tudo a nossa volta, e muita<br />
gente ainda não percebeu.<br />
Aquela i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> startup que <strong>de</strong>morou um<br />
pouco mais na prototipagem.<br />
A campanha que empacou (meia horinha<br />
hoje em dia) em alguma aprovação, o momento<br />
<strong>de</strong> glória que você não capitalizou.<br />
Aquele match que você sem querer arrastou<br />
pro lado errado do Tin<strong>de</strong>r. O Uber<br />
que cruzou a esquina antes que você apertasse<br />
o botão. Passou. E feeds passados não<br />
movem nada.<br />
É preciso se a<strong>de</strong>quar a esse novo mundo<br />
e principalmente a essa nova dinâmica do<br />
InstaTudo. Po<strong>de</strong>ria ficar aqui reclamando,<br />
que hoje ninguém mais para pra pensar, rabiscar,<br />
criar com calma e profundida<strong>de</strong> as<br />
coisas. O Dave Grohl fez isso no seu filme<br />
sobre o Sound City, e se nem eles escutaram,<br />
imagina se eu falar.<br />
Alguém vai falar, bota a culpa nos millennials.<br />
Nos “Nem Nem”.<br />
Nada disso, se for para colocar a culpa<br />
em alguém, culpem os Baby Boomers que<br />
tiraram o Rei do Pop da lista dos mais vendidos<br />
para colocar o Eagles. Isso sim é geração<br />
perdida.<br />
A verda<strong>de</strong> é que precisamos evoluir,<br />
apren<strong>de</strong>r e se a<strong>de</strong>quar aos novos tempos e<br />
formas <strong>de</strong> ser, pensar e agir. Fala-se muito<br />
do gênero fluido para o futuro (próximo).<br />
Eu tenho a tendência a usar o fluido para<br />
tudo. É preciso navegar entre tudo o que<br />
está rolando e ter a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se moldar<br />
o suficiente para enten<strong>de</strong>r os novos momentos,<br />
tecnologias e comportamentos.<br />
Mas todo cuidado é pouco, não é porque<br />
o K Pop e o K Beauty são trend que você vai<br />
sair por aí abusando <strong>de</strong>ssas referências. É<br />
só acertar na dose, no timing, na forma, no<br />
meio etc. Tá fácil!<br />
Sobre o meu roteiro? Talvez eu dê uma<br />
<strong>de</strong> Guy Ritchie e reescreva tudo melhor do<br />
que antes. Talvez eu, peraí, série nova na<br />
Netflix. Fui.<br />
Daniel Santan<strong>de</strong>r é sócio-fundador<br />
e diretor <strong>de</strong> criação da Agência Plug<br />
34 <strong>29</strong> <strong>de</strong> <strong>outubro</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark