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edição de 29 de outubro de 2018

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inspiração<br />

Twitter, trapaças e HD fumegante<br />

Fotos: Divulgação<br />

“Nesses tempos on<strong>de</strong> tudo dura muito pouco, as vonta<strong>de</strong>s duram menos<br />

ainda <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós; somos HDs prestes a enfumaçar, diariamente”<br />

Daniel SantanDer<br />

especial para o PrOPMarK<br />

No ano em que o mundo começou a escrever<br />

em 140 caracteres, uma das minhas<br />

vonta<strong>de</strong>s mais antigas foi ganhando<br />

corpo, sílaba por sílaba. Redator <strong>de</strong> formação,<br />

apaixonado por Tarantino, resolvi<br />

<strong>de</strong>dicar minhas horas extras da agência a<br />

uma i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> roteiro original.<br />

O ano era 2006 e o storyline saiu todinho<br />

em uma noite. Personagens criados, nomes,<br />

conflitos e um baita <strong>de</strong> um final.<br />

Na semana seguinte meu macbook voou,<br />

mais <strong>de</strong> 30 páginas por dia, o roteiro tomava<br />

forma e eu tomava coragem para compartilhar<br />

uma prévia com uma amiga. E foi<br />

aí que a trama complicou, e não estou falando<br />

do roteiro.<br />

Aquelas <strong>de</strong>cisões que você nunca enten<strong>de</strong><br />

por que tomou, salvei o documento<br />

em um HD externo e, por hábito, <strong>de</strong>letei do<br />

computador.<br />

Sobe a trilha <strong>de</strong> suspense.<br />

Óbvio que isso não ia dar certo, e não<br />

<strong>de</strong>u.<br />

O HD queimou e bit por bit minha inspiração<br />

virou fumaça.<br />

Lembrei-me <strong>de</strong>ssa história esta semana,<br />

12 anos <strong>de</strong>pois do ocorrido, num papo com a<br />

equipe sobre motivação, inspiração e ação.<br />

Nesses tempos em que tudo dura muito<br />

pouco no ar, as vonta<strong>de</strong>s duram menos<br />

ainda <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós. Somos HDs prestes a<br />

enfumaçar, diariamente.<br />

Matamos uma série inteira numa tar<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Netflix, chegamos ao “fim” dos feeds<br />

todos os dias na cama. E sabe o que sobra<br />

disso? Muito pouco.<br />

Amanhã já seremos bombar<strong>de</strong>ados por<br />

uma nova série tipo Inocentes, que assisti<br />

até o final esperando que ela melhorasse em<br />

algum momento e nada, um novo post ou<br />

ví<strong>de</strong>o do YouTube que não vamos lembrar.<br />

Hitchcock que me perdoe, mas vou reescrever<br />

a sua celébre frase. “The length of<br />

a film should be directly related to the endurance<br />

of the human blad<strong>de</strong>r” (A duração<br />

<strong>de</strong> um filme <strong>de</strong>ve ser proprocional à resistência<br />

da bexiga). Dura um piscar <strong>de</strong> olhos,<br />

ou uma mensagem no whats, no máximo.<br />

Já passamos pelos 18 minutos do TED, 1 minuto<br />

no Insta. Hoje a nossa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

atenção é digna <strong>de</strong> um peixe, 8 segundos e<br />

olhe lá.<br />

Isso impacta tudo a nossa volta, e muita<br />

gente ainda não percebeu.<br />

Aquela i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> startup que <strong>de</strong>morou um<br />

pouco mais na prototipagem.<br />

A campanha que empacou (meia horinha<br />

hoje em dia) em alguma aprovação, o momento<br />

<strong>de</strong> glória que você não capitalizou.<br />

Aquele match que você sem querer arrastou<br />

pro lado errado do Tin<strong>de</strong>r. O Uber<br />

que cruzou a esquina antes que você apertasse<br />

o botão. Passou. E feeds passados não<br />

movem nada.<br />

É preciso se a<strong>de</strong>quar a esse novo mundo<br />

e principalmente a essa nova dinâmica do<br />

InstaTudo. Po<strong>de</strong>ria ficar aqui reclamando,<br />

que hoje ninguém mais para pra pensar, rabiscar,<br />

criar com calma e profundida<strong>de</strong> as<br />

coisas. O Dave Grohl fez isso no seu filme<br />

sobre o Sound City, e se nem eles escutaram,<br />

imagina se eu falar.<br />

Alguém vai falar, bota a culpa nos millennials.<br />

Nos “Nem Nem”.<br />

Nada disso, se for para colocar a culpa<br />

em alguém, culpem os Baby Boomers que<br />

tiraram o Rei do Pop da lista dos mais vendidos<br />

para colocar o Eagles. Isso sim é geração<br />

perdida.<br />

A verda<strong>de</strong> é que precisamos evoluir,<br />

apren<strong>de</strong>r e se a<strong>de</strong>quar aos novos tempos e<br />

formas <strong>de</strong> ser, pensar e agir. Fala-se muito<br />

do gênero fluido para o futuro (próximo).<br />

Eu tenho a tendência a usar o fluido para<br />

tudo. É preciso navegar entre tudo o que<br />

está rolando e ter a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se moldar<br />

o suficiente para enten<strong>de</strong>r os novos momentos,<br />

tecnologias e comportamentos.<br />

Mas todo cuidado é pouco, não é porque<br />

o K Pop e o K Beauty são trend que você vai<br />

sair por aí abusando <strong>de</strong>ssas referências. É<br />

só acertar na dose, no timing, na forma, no<br />

meio etc. Tá fácil!<br />

Sobre o meu roteiro? Talvez eu dê uma<br />

<strong>de</strong> Guy Ritchie e reescreva tudo melhor do<br />

que antes. Talvez eu, peraí, série nova na<br />

Netflix. Fui.<br />

Daniel Santan<strong>de</strong>r é sócio-fundador<br />

e diretor <strong>de</strong> criação da Agência Plug<br />

34 <strong>29</strong> <strong>de</strong> <strong>outubro</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark

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