RCIA - ED. 106 - MAIO 2014
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HISTÓRIA DE FAMÍLIA<br />
Uma rotina que ele fazia questão<br />
de preservar pelas ruas da cidade<br />
Não há como diferenciar na história política da cidade, a pessoa e o<br />
comerciante, do homem público - Waldemar de Santi. Ele conseguiu<br />
manter em toda sua vida, a humildade e o equilíbrio no trato com o<br />
próximo. Nunca subestimou a inteligência do povo. Nunca se curvou<br />
às ordens dos governadores ou até mesmo de presidentes. De Santi<br />
sempre foi o espelho da alma da terra que amou.<br />
Texto: Ivan Roberto Peroni<br />
Em seu escritório na loja de refrigeração que<br />
o viu entrar e sair por mais de 35 anos<br />
Naquela manhã de<br />
novembro, Waldemar<br />
fora acordado<br />
por Dona Carmem,<br />
sua esposa. Ela na<br />
verdade tinha sido<br />
despertada pelo toque<br />
do telefone. A<br />
filha Júnia, pequena<br />
ainda, adormecia<br />
num dos quartos do<br />
apartamento que o<br />
casal comprara em<br />
prestações no Edifício<br />
Vila do Sol. Num<br />
verão de quase dezembro, as chuvas não<br />
eram tantas. No telefone, tudo sob controle,<br />
disse Aldo Pierre, diretor do DAAE, após reunião<br />
que tivera com o José Benedito de Souza,<br />
o “Espingardinha”, no dia anterior. E a PRD 4,<br />
já tinha anunciado que a população poderia<br />
ficar tranquila pois o abastecimento de água<br />
seria normal naquele final de ano. Só que,<br />
justamente naquela manhã, Waldemar estava<br />
acordando exatamente 30 minutos mais cedo<br />
do que normalmente acontecia. Acorda homem,<br />
disse dona Carmem, em tom carinhoso.<br />
E completou: “Acorda que o dia vai ser longo”.<br />
De fato, o dia teria que ser longo. Entre<br />
um beijo na filha, um tchaaau prolongado<br />
depois de passar a mão de forma carinhosa<br />
no rosto da esposa, Waldemar se apressava<br />
para mais um dia como homem público.<br />
Entre sair do apartamento e chegar ao elevador,<br />
trocou palavras com João Primiano,<br />
alguma coisa sobre o Fisa que se preparava<br />
para uma nova feira no Parque Infantil.<br />
A partir do instante que botou os pés<br />
na José Bonifácio, capanga (bolsa) marrom<br />
debaixo do braço, o Waldemar ficara para<br />
trás. De Santi assumia a postura de prefeito<br />
da cidade que aprendera a amar. A camisa<br />
de mangas compridas, tom creme, punhos<br />
abotoados fora um presente de Carmem, no<br />
último aniversário, 9 de março. Foi naquele<br />
dia talvez que De Santi, mais lembrara dos<br />
seus pais, dona Vitória e Vitório. Vitorioso na<br />
vida, tanto quanto os pais.<br />
Embora prefeito, seguia ele pela Padre<br />
Duarte, quando não, pela São Bento. O cigarro,<br />
inseparável companheiro, sapatos<br />
normalmente marrons e os “bons dias” que<br />
se avolumavam nos quase quatrocentos<br />
passos entre uma ponta e outra do quarteirão.<br />
O Chico da Charutaria lhe fez um sinal<br />
com as mãos e do outro lado, De Santi respondeu,<br />
quase que da mesma forma.<br />
Ele sabia, o dia seria longo. Dona Carmem<br />
o preveniu. Da reunião com o Bogé<br />
(Santana), Santo Antônio (Vila), Carioca<br />
(Unidos), Sidney (Santana), ele não poderia<br />
faltar. Nem que fosse pra falar bom dia,<br />
meu povo. As escolas iam afinar os tamborins<br />
para o carnaval de 78. Mas, ele sabia<br />
também que tinha um assunto a tratar com<br />
o Renan Dall’Acqua e o Rubens Bressan,<br />
companheiros quase que inseparáveis ao<br />
lado do Manço, que como chefe de gabinete,<br />
lhe preparara uma agenda de compromissos<br />
que descartava doutores e empresários.<br />
Figuravam pessoas simples como<br />
Joaquim Sorbo que o levaria para uma<br />
reunião nos bairros Bocaiúva I e II com os<br />
lavradores reunidos pelo Oswaldo Silva. O<br />
vereador Júlio César Rente Ferreira, “Gugu”,<br />
não poderia faltar. Preciso dele lá, disse o<br />
prefeito. Na verdade, ele era o que era. Homem<br />
do povo, fiel aos companheiros, avesso<br />
às solenidades com grande pompa, degustador<br />
de bons aperitivos em companhia<br />
de gente como ele: Reginaldo Galli, Mário<br />
de Osti e trazia na conta amizades que não<br />
esquecera nos tempos de Câmara: Rubens<br />
Bellardi, Darcy Moralles, Flávio Ferraz e<br />
principalmente Elias Damus que o arrastara<br />
para conhecer cerca de 500 compadres<br />
que conseguira ao longo de cinco mandatos<br />
como vereador.<br />
Naquele dia, antes de um rápido café<br />
feito no coador de pano pelo Olívio no Bar<br />
do Pernambuco, o João Pereira falara nos<br />
seus ouvidos: “O senhor não pode deixar<br />
de ver a beleza que está ficando o Teatro<br />
de Arena, na Vila Melhado”.<br />
Autêntico, De Santi foi o prefeito que<br />
venceu três candidatos juntos num dia só<br />
e quantos houvessem seria ele o ganhador,<br />
tamanho o peso da sua popularidade e que<br />
a história sempre lembrará.<br />
Bolo de aniversário: presente da sobrinha<br />
Sônia De Santi que o adorava<br />
Saiu da política, se aposentou e bons dias<br />
foram passados na chácara no melhor estilo<br />
34<br />
Na rotina de sempre, uma passagem quase<br />
diária pelo Mercado Municipal