RCIA - ED. 106 - MAIO 2014
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<strong>ED</strong>ITORIAL<br />
De Santi, na história política da<br />
cidade se transformou em lenda<br />
É triste olhar a cidade sem o Waldemar de Santi. Por<br />
mais de 80 dias na UTI da Beneficência Portuguesa, ele<br />
enfrentou sua mais problemática campanha, embora<br />
tendo um importante aliado, o Pai Celestial que é Aquele<br />
que clamamos pela presença nos momentos mais difíceis<br />
da nossa passagem por aqui. Nas outras, De Santi tirou<br />
de letra, embora sua afinidade tenha sido com números.<br />
Como bom contabilista, se tornou amigo inseparável das<br />
vitórias que o transformaram no mais lendário dos políticos<br />
e quando afastado da vida pública, fez Araraquara<br />
perder uma referência. Para ele, político do povo humilde,<br />
era hora de partir. A exemplo de tantos outros que<br />
partiram antes, cansou da hipocrisia.<br />
De Santi foi o que foi: audacioso, corajoso, honesto;<br />
tentado por corruptos, se absteve das falcatruas que<br />
resguardadas as proporções, são as mesmas que levam<br />
hoje o país a perder alguns valores: a ética e o respeito.<br />
O valor econômico capenga, maquiado por números e<br />
índices que não espelham a realidade, é o que resta.<br />
O “Wardemá” de alguns era diferente e tinha a sua<br />
própria ideologia de compromisso com a cidade. Me<br />
lembro que num dia de céu aberto, realizou uma negociata<br />
que entrou para a história: saio do MDB e entro<br />
para o PDS se devolverem para Araraquara a Região<br />
Administrativa. Dito e feito. Não se importava se estava<br />
se aliando a Paulo Maluf; interessante é que a cidade<br />
retomava o que perdera anos antes mesmo tendo cinco<br />
deputados em uma única gestão: Pedro Marão, Scalamandré<br />
Sobrinho, Leonardo Barbieri, Oswaldo Santos<br />
Ferreira e Amaral Gurgel. O prefeito então deixava o<br />
partido que sempre sonhou ter nas mãos, para a prática<br />
de uma política voltada para o<br />
desenvolvimento da cidade. Por tão<br />
menos, anos mais tarde, o próprio<br />
PT que mais criticava Maluf, foi pedir<br />
seu apoio na eleição de Fernando<br />
Waldemar De Santi e Reginaldo Galli, amigos inseparáveis<br />
Haddad para prefeito de São Paulo. E olha que o Lula teve<br />
que participar do encontro na casa do Maluf.<br />
Eram fatos assim que faziam De Santi, o “calabrês”, ser<br />
cada vez mais popular. Ele sentia o cheiro do povo, atendendo<br />
uma vez por semana no improvisado gabinete do<br />
térreo, as pessoas que o procuravam. Nada de conversar<br />
com secretário, diretor disso ou daquilo ou com a minha<br />
secretária. O povo falava com De Santi, reclamava diretamente<br />
com ele. Depois disso, feliz da vida, ia ao Restaurante<br />
do Cidinho para se reunir com seus fiéis companheiros.<br />
Ele era autêntico, na sua loja de refrigeração, Prefeitura, no<br />
Cidinho ou no Bar do Zinho que em inúmeras ocasiões se<br />
transformou em seu comitê eleitoral. Aliás, não me lembro<br />
do De Santi ter montado em período eleitoral algum comitê<br />
para ganhar eleição. Sua conversa era frente a frente com<br />
o eleitor. Sua política morava na rua.<br />
É pena que partiu, mergulhado talvez em pensamentos,<br />
refletindo sobre as coisas que fez para manter um caráter<br />
inatacável; imaginando quem sabe a vida maravilhosa ao<br />
lado de dona Carmem e da filha Júnia, lá do outro lado.<br />
Lembrando os tempos de garoto, entregando leite nas madrugadas<br />
da sua cidade e do serviço de empacotador na<br />
Fábrica de Meias Lupo. Tal como na música do Chico, “Mirem-se<br />
no exemplo, daquelas mulheres de Atenas”, seria<br />
importante nos transportarmos à realidade que hoje vivemos,<br />
e, olharmos De Santi como exemplo: a nós, de cidadão;<br />
aos políticos, de decência e ética; de família, marido<br />
e pai honrado; de fidelidade, aos amigos que sempre respeitou<br />
e os manteve encorajados para enfrentar qualquer<br />
desafio. Até mesmo agora, quando os visitam para chorar<br />
com ele essa dor que não tem fim.<br />
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