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Newslab 156

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GESTÃO LABORATORIAL<br />

LABORATÓRIO DE APOIO:<br />

Leviatã ou parte da solução?<br />

No artigo anterior apresentamos o Programa<br />

Nacional para Profissionalização da Gestão Laboratorial<br />

– PROGELAB. Combinamos que os<br />

seguintes iriam mostrar de forma individual,<br />

sintética, todos os sete produtos (softwares)<br />

componentes do Programa. Contudo, devido<br />

à permanente presença do assunto do papel<br />

desempenhado pelos laboratórios de apoio<br />

no cluster das análises clínicas, em todos os<br />

congressos, grupos e “rodas de bate-papo” que<br />

participo, onde sempre sou solicitado a opinar<br />

sobre o tema, percebi que esta questão se<br />

tornou extremamente polêmica, exacerbada,<br />

diria até que predominando a passionalidade<br />

sobre a racionalidade. Então decidi escrever o<br />

artigo desta edição sobre isto, interrompendo<br />

momentaneamente a sequência do PROGELAB.<br />

Depois retornaremos sobre este assunto.<br />

Como nos contos de fada tudo começou<br />

assim:<br />

Era uma vez, nos tempos distantes, um reino<br />

onde os laboratórios eram muito felizes. Neles,<br />

pequeninos, trabalhavam pessoas alegres,<br />

competentes e apaixonadas pelo que lá faziam.<br />

Havia muito mais pessoas necessitadas de<br />

exames do que a capacidade destes laboratórios<br />

produzirem, pois todos os processos eram<br />

absolutamente, manuais. Os cidadãos do reino<br />

pagavam em “dinheiros” à vista, ninguém conhecia<br />

a palavra “inadimplência”, achamos até<br />

que esta palavra nem existia naquela época.<br />

Os valores dos exames quem os determinavam<br />

eram os donos dos laboratórios. A concorrência<br />

era branda, bastava se formar e abrir o<br />

seu negócio, o sucesso vinha ao natural. Todos<br />

eram muito felizes! Mas neste conto de fadas,<br />

a felicidade não dura para sempre. Os tempos<br />

mudaram, surgiram nuvens ameaçadoras,<br />

prenúncio da tormenta que virou os tormentos<br />

característicos da primeira disrupção. Agora, os<br />

processos produtivos são automatizados, poucas<br />

pessoas podem fazer muito, na verdade, milhares<br />

de exames, caracterizando a produção<br />

industrial de informações, gerando excedente<br />

em relação à necessidade da sociedade,<br />

causando o desequilíbrio entre oferta e<br />

demanda.<br />

Concomitantemente, a carteira de clientes<br />

deixou de ser dos laboratórios e passou aos seguros<br />

e planos de saúde, que organizados em<br />

grupos passaram a deter o poder da negociação<br />

coletiva. Ainda, a verticalização tomou conta do<br />

mercado, catalisando a força dos já poderosos,<br />

caracterizando uma socialização da medicina.<br />

Isto, basicamente causou a precipitação<br />

dos valores pagos pelos exames, gerando<br />

uma crise de sub-financiamento para os<br />

pequenos e médios empreendimentos<br />

na área das análises clínicas. Este fato, aliado à<br />

gestão empírica dos laboratórios, definiu<br />

o verdadeiro problema do setor: aumento<br />

do risco de insolvência decorrente da<br />

queda na competitividade empresarial.<br />

Teve início, então, o caos no mercado, derivado de<br />

uma concorrência aguerrida, muitas vezes predatória.<br />

Muito bem, aqui termina o conto de fadas e<br />

começam os tempos atuais.<br />

A ciência progrediu e a tecnologia mudou<br />

ocasionando um aumento considerável no<br />

elenco de exames disponibilizados à população.<br />

Concomitantemente, os equipamentos são caros,<br />

de manutenção complexa e elevados custos,<br />

sendo necessária a substituição periódica<br />

em função da imperiosa atualização, exigindo<br />

elevados investimentos dos pequenos e médios<br />

laboratórios que não têm capacidade para operar<br />

com comodatos, visto a inexistência de escala.<br />

Contudo, se você não faz, o concorrente faz!<br />

A consequência todos sabemos: é simplesmente<br />

impossível para os pequenos e<br />

médios laboratórios gerarem caixa suficiente<br />

para produzirem todos os exames<br />

localmente (in house), acompanhando<br />

as necessidades da população em receber uma<br />

atenção de qualidade para a saúde.<br />

Qual a consequência disto? A terceirização<br />

de exames para os laboratórios de<br />

apoio, nascidos pela necessidade imperiosa<br />

de atender uma demanda de exames especializados,<br />

exóticos (esotéricos), que somente juntando<br />

uma grande quantidade podem ser feitos<br />

de maneira viável economicamente, devido ao<br />

ganho de escala. Para isto não existe alternativa<br />

técnica e econômica viável, a não ser, centrais de<br />

produção regionais. Mas neste momento existe<br />

o confronto com algo praticamente impossível:<br />

vencer o egoísmo, a soberba dos proprietários<br />

de laboratórios que vêm os concorrentes como<br />

inimigos, jamais como parte da solução! Esta<br />

dificuldade somente será transposta com HU-<br />

MILDADE, o que torna a tarefa gigantesca numa<br />

sociedade em que predomina o orgulho, a crença<br />

na superioridade do indivíduo.<br />

A racionalidade do ser humano identifica<br />

isto facilmente, todavia, a vaidade impede de<br />

fazer o óbvio. Digo até o ecologicamente correto,<br />

pois como pode uma cidade com 200.000<br />

habitantes ter 20 ou mais centrais de produção<br />

de exames operando, de forma ineficiente, desperdiçando<br />

os recursos finitos do planeta? É um<br />

modus operandi insano dos pequenos e médios<br />

laboratórios do País! E, de uma forma geral,<br />

quase todos defendem acirradamente o “seu<br />

direito de fazer os exames”. Pessoalmente vejo e<br />

certamente posso estar errado, que os profissionais<br />

da área das análises clínicas devem<br />

procurar se atualizar no modo de<br />

exercerem a profissão. O mundo mudou!<br />

Não podem continuar a fazer de forma obstinada,<br />

o que faziam antes, na época dos exames<br />

manuais. Devemos respeitar, apreender com o<br />

passado. Ouso até dizer, honrar o passado, como<br />

honramos os nossos próprios antepassados, porém,<br />

no tocante aos processos profissionais, se<br />

não nos atualizarmos, seremos simplesmente<br />

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Revista NewsLab | Out/Nov 2019

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