Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
casa_do_meu_melhor_amigo_miolo_Layout 1 19/10/2010 08:35 Page 40
para lavar o rosto no bebedouro. Ninguém entendeu nada,
mas eu olhei discretamente para o alto do cajueiro e dei
uma piscada para os meus amigos cupins que tinham lançado
de forma tão certeira aquelas bolinhas de cocô nos
olhos do Mané.
Celise ficou de pé. Deu um leve sorriso para mim e foi
para a sala de aula. Demorei um pouco e resolvi ir compartilhar
o ocorrido com o meu melhor amigo. Precisava conversar
com alguém que soubesse me ouvir. A minha ansiedade me
fez cometer o erro de entrar na casa de cupim sem anunciar a
minha presença e me deparei com uma discussão do Rhino
com os pais dele. Cheguei bem no instante em que ele dizia
que ia se mudar para a minha casa, porque lá nós éramos estimulados
a estudar, a ir para a escola e a conviver com outras
crianças nas mais variadas atividades.
Rhino reclamava exatamente da ausência daquelas
coisas que eu costumava maldizer por tê-las em meu cotidiano.
Tentei chamar a atenção, mas nem ele nem seus pais
conseguiam se desligar da discussão. Pelo visto, o ponto
principal do desentendimento era o fato de os filhos de
cupim, depois de ninfa, supostamente não precisarem aprender
mais nada; estaria tudo muito certinho, com cada um
sabendo o que iria fazer.
– Não acredito que a cultura seja um privilégio dos
humanos – bradava Rhino, que continuava: – Por que nós,
os insetos, não assumimos de vez que também podemos
aperfeiçoar a comunicação dos sons que emitimos, dos
cheiros e dos movimentos do nosso corpo?
– Tenha calma, meu filho, essa sua amizade com o
Bento está mexendo com a sua cabeça – replicava a mãe.
40