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A casa do meu melhor amigo

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casa_do_meu_melhor_amigo_miolo_Layout 1 19/10/2010 08:37 Page 85

animadas folhas lilases e azuis, a fosforescer entre réstias de

luz solar.

Olhei para o Rhino e disse que queria ir embora com

eles. Disse que nunca mais voltaria a viver sem asas. Meu

destino era ser cupim para sempre. Viver mudando de casa

e conhecendo outros mundos.

– Nossa vida não é bem assim, amigo Bento – advertiu

Rhino enquanto rodopiava.

– Como não, se estamos voando? – questionei fazendo

uma acrobacia.

– É que logo, logo, perderemos as nossas asas. Elas

não são permanentes. Só duram até aterrissarmos na madeira

onde construiremos a nossa nova colônia.

– Então, eu também vou deixar de ter asas novamente?

– Claro que sim, você vai deixar de ter asas daqui a

pouco. É da natureza dos cupins criar e perder asas, e você

está em forma de cupim, esqueceu?

Que chato saber dessa condição em pleno voo. Se eu

estivesse lendo um livro ou vendo um filme e fosse interrompido

naquele momento, diria que tinha sido obrigado

a parar bem na hora do conflito. Pois bem, já que era a

hora do meu conflito, eu não poderia deixar que ninguém

desligasse a minha história.

Voltei a me aproximar do Rhino e perguntei como ele

imaginava que eu ficaria quando ficasse sozinho, sem asas e

tendo de voltar para casa. Ele me disse que eu não me preocupasse,

porque eu tinha uma família que me amava muito e

que estava sempre perto de mim, fazendo as coisas junto.

– E é só para isso que servem as famílias? – perguntei

com certo ar de desprezo.

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