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A casa do meu melhor amigo

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casa_do_meu_melhor_amigo_miolo_Layout 1 19/10/2010 08:36 Page 59

violência. Mané deu uma risada sarcástica e me sentou diante

de uma das máquinas.

– Tu agora vai ver o que é bom, ô, queridinho das meninas.

Nesse jogo a gente pode fazer tudo o que é proibido,

mano. Vou carregar a máquina e tu bota pra fora todo o ódio

reprimido que tu tem dentro de ti. Pode espancar, atropelar,

beber antes de dirigir e matar prostitutas e velhinhas. Depois

é só fugir da polícia e ganhar pontos – anunciou Mané.

– Não vou fazer isso não, cara – declinei do convite

sem encará-lo.

Ele deu um soco nas minhas costas. Puxou meu cabelo

e bateu na minha cabeça com o cotovelo. Eu estava mal,

mas lembrei do dia em que joguei com o meu irmão e avancei

uma fase difícil em nosso jogo eletrônico, imaginando

que estava no túnel dos cupins. Encarei o Mané e disse a ele

que podia passar o cartão e carregar a máquina, que eu estava

pronto para enfrentar o desafio.

Apertei o botão verde e o jogo começou. Acelerei. Potência

total. Não dei um só tiro e comecei a ouvir o Mané reclamar.

– Ai, porqueira, o que é isso? – começou a gritar e a

passar as mãos pelo corpo.

Procurei não perder a concentração e mantive a máquina

com potência total. Quanto mais eu acelerava, milhares

e milhares de cupins atacavam o corpo de Mané, pelas

axilas, pela garganta, entrando nos ouvidos, nas narinas e

até pelo bumbum. Enquanto Mané gritava sob o ataque

massivo dos cupins eu comecei a fazer uma música muito

doida, um heavy metal eletrônico que transfomou tudo em

som maciço, pesado, um som tão extremo que ninguém

sabia mais o que era game e o que era vida real. Parecia que

tínhamos caído todos dentro da máquina.

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