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A casa do meu melhor amigo

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casa_do_meu_melhor_amigo_miolo_Layout 1 19/10/2010 08:36 Page 78

– Claro que posso.

– Espere um momento – pediu-me com certo nervosismo

e a nossa comunicação voltou à mudez.

Com muito esforço percebi que ele estava se deslocando

dentro de casa. Pelos sons que me chegavam, eu ia

imaginando o que ele estaria fazendo. Depois de ouvir passos

rápidos, não foi difícil saber que ele havia parado em

algum lugar. Escutei o som de uma gaveta sendo aberta;

com gesto tenso, não dava para negar. Novamente os ruídos

de pisadas tomaram conta da transmissão. Uma cadeira

foi arrastada. Ao fundo, escutei a voz do Mané.

– O que você está fazendo, papai?

– Tenho uma coisa muito importante para lhe dar de

presente hoje à noite, meu filho.

– Que paninho é esse?

– Não é só um paninho, meu filho, é uma oração que

a sua vovó bordou e deixou de presente para você, antes

de partir.

Não dava para pegar tudo o que eles falavam, mas para

mim já era de grande alegria notar que eles estavam conversando

e que a história de que o Mané estava esperando o

pai para um momento de leitura antes de dormir era verdadeira.

Enquanto a minha cabeça se agitava fora do meu controle,

eu procurava exercitar ao máximo a paciência.

A informação sonora que me chegava dizia que o aparelho

telefônico estava novamente no ouvido do pai do

Mané, com sons de pequenos esfregados que revelavam

sua sustentação entre o ombro e a orelha. Dirigindo-se a

mim, ele me pediu para cantar a oração de ninar. E eu fui

cantarolando a música lentamente pelo telefone e o sr. Manoel

repetia aos prantos para o filho.

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