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opinião<br />
Ross Sokolovski/Unsplash<br />
A liberda<strong>de</strong> será tão<br />
maior quanto nossa<br />
gran<strong>de</strong>za para tolerá-la<br />
ElianE Proscurcin QuintElla<br />
Vivemos em um novo mundo. O século<br />
20 passou. Estamos todos interligados<br />
pela internet. Hoje o po<strong>de</strong>r não está mais<br />
nas mãos <strong>de</strong> poucos. Antigamente eram as<br />
emissoras <strong>de</strong> televisão, os jornais, as gravadoras<br />
e as editoras que <strong>de</strong>cidiam o que<br />
você iria ver, ler e escutar. Agora não. Todos<br />
po<strong>de</strong>m pelo próprio celular produzir<br />
conteúdo. Todos têm agora a oportunida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> se lançarem no mundo pela internet<br />
com suas músicas, seus livros, seu conteúdo<br />
digital.<br />
Agora são as pessoas que se lançam na<br />
internet e conquistam seu público com a<br />
ajuda das plataformas digitais.<br />
As plataformas digitais<br />
não aprovam conteúdo, como<br />
se fazia no século 20, elas<br />
<strong>de</strong>ixam as próprias pessoas<br />
livres para produzirem o que<br />
quiserem e conquistarem o<br />
seu público. Muito diferente.<br />
Essa é uma realida<strong>de</strong> que<br />
veio para ficar. No mundo <strong>de</strong><br />
hoje não cabe mais alguém<br />
dizendo o que você <strong>de</strong>ve assistir, ver ou ler<br />
e em que horário. Não. Tudo mudou.<br />
É você quem <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> ver o que quiser, a<br />
hora que quiser. E se quiser também produzir<br />
conteúdo, você po<strong>de</strong> sim. Por que não<br />
po<strong>de</strong>ria? O po<strong>de</strong>r mudou <strong>de</strong> mãos, está em<br />
cada um <strong>de</strong> nós com nossos aparelhos celulares.<br />
E, é claro, nas plataformas digitais,<br />
que a todos nós conecta e a todos nós viabiliza<br />
infinitas possibilida<strong>de</strong>s.<br />
Agora todos estão preocupados. Muito<br />
preocupados. Como <strong>de</strong>ixar tudo tão solto?<br />
Esse é o gran<strong>de</strong> engano. Nada está solto.<br />
Não. O mercado tem se ajustado rapidamente,<br />
aliás muito rapidamente. A velocida<strong>de</strong><br />
é espantosa. A autovigilância e a<br />
autorregulamentação caminham passo a<br />
passo com todas essas mudanças. Ferramentas<br />
<strong>de</strong> controle. Canais <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia.<br />
Autovigilância constante e veloz.<br />
“Temos <strong>de</strong><br />
luTar para ser<br />
uma socieda<strong>de</strong><br />
madura, que<br />
saiba viver<br />
nesse novo<br />
mundo”<br />
Tudo isso faz com que conteúdos impróprios<br />
sejam <strong>de</strong>nunciados, fake news <strong>de</strong>smascaradas,<br />
frau<strong>de</strong>s <strong>de</strong>tectadas, enfim, temos<br />
encontrado uma forma <strong>de</strong> expelir tudo<br />
aquilo que é nocivo e criminoso, e, por isso,<br />
proibido por lei. Mas é claro que a liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> expressão não entra nesse jogo. Ela não<br />
po<strong>de</strong> ser tolhida. É um direito constitucional<br />
dos mais relevantes.<br />
E encontra o apoio das plataformas e<br />
dos anunciantes. Por quê? Porque é o que<br />
torna o negócio <strong>de</strong>las ainda mais rico,<br />
porque nasceram da liberda<strong>de</strong>, inúmeros<br />
são os motivos. E eu pergunto: não <strong>de</strong>veríamos<br />
todos nós também lutar por esse<br />
direito tão caro? Não é chegada a hora <strong>de</strong><br />
convivermos cada um <strong>de</strong> nós, com as diferentes<br />
opiniões, pontos <strong>de</strong><br />
vistas? Por que não po<strong>de</strong>mos<br />
tolerar alguém fazendo o próprio<br />
conteúdo e expressando<br />
as próprias opiniões, inclusive,<br />
e, por que não, falando bem ou<br />
mal <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada marca?<br />
No momento em que começarmos<br />
a ingressar na liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> expressão das pessoas dizendo<br />
o que elas po<strong>de</strong>m falar e<br />
sobre o que po<strong>de</strong>m falar, estaremos censurando.<br />
Os limites do abuso e do crime já<br />
são muito bem <strong>de</strong>finidos em lei. Cada um<br />
tem a sua responsabilida<strong>de</strong> perante a lei.<br />
Temos <strong>de</strong> lutar para sermos uma socieda<strong>de</strong><br />
madura, que saiba viver nesse novo<br />
mundo em que as pessoas hoje po<strong>de</strong>m,<br />
sim, exercer seu po<strong>de</strong>r e influência na internet,<br />
um novo mundo em que esse po<strong>de</strong>r<br />
já não está mais nas mãos <strong>de</strong> poucos.<br />
Precisamos educar, precisamos da autovigilância,<br />
precisamos que anunciantes<br />
tenham limites éticos e precisamos que<br />
cada um <strong>de</strong> nós respeite a lei. Claro. A<br />
responsabilida<strong>de</strong> precisa ser gran<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />
toda a socieda<strong>de</strong> no momento em que a<br />
liberda<strong>de</strong> é vasta.<br />
Quero terminar com a frase <strong>de</strong> Simone<br />
<strong>de</strong> Beauvoir: “Que nada nos limite. Que nada<br />
nos <strong>de</strong>fina. Que nada nos sujeite. Que a<br />
liberda<strong>de</strong> seja nossa própria substância, já<br />
que viver é ser livre”.<br />
Eliane Proscurcin Quintella é vice-presi<strong>de</strong>nte do<br />
Comitê Jurídico da ABA (Associação Brasileira<br />
<strong>de</strong> Anunciantes), conselheira do Conar e head of<br />
legal <strong>de</strong>partment na Danone<br />
eliane.quintella@danone.com<br />
26 <strong>17</strong> <strong>de</strong> <strong>fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2020</strong> - jornal propmark