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edição de 17 de fevereiro de 2020

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opinião<br />

Ross Sokolovski/Unsplash<br />

A liberda<strong>de</strong> será tão<br />

maior quanto nossa<br />

gran<strong>de</strong>za para tolerá-la<br />

ElianE Proscurcin QuintElla<br />

Vivemos em um novo mundo. O século<br />

20 passou. Estamos todos interligados<br />

pela internet. Hoje o po<strong>de</strong>r não está mais<br />

nas mãos <strong>de</strong> poucos. Antigamente eram as<br />

emissoras <strong>de</strong> televisão, os jornais, as gravadoras<br />

e as editoras que <strong>de</strong>cidiam o que<br />

você iria ver, ler e escutar. Agora não. Todos<br />

po<strong>de</strong>m pelo próprio celular produzir<br />

conteúdo. Todos têm agora a oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> se lançarem no mundo pela internet<br />

com suas músicas, seus livros, seu conteúdo<br />

digital.<br />

Agora são as pessoas que se lançam na<br />

internet e conquistam seu público com a<br />

ajuda das plataformas digitais.<br />

As plataformas digitais<br />

não aprovam conteúdo, como<br />

se fazia no século 20, elas<br />

<strong>de</strong>ixam as próprias pessoas<br />

livres para produzirem o que<br />

quiserem e conquistarem o<br />

seu público. Muito diferente.<br />

Essa é uma realida<strong>de</strong> que<br />

veio para ficar. No mundo <strong>de</strong><br />

hoje não cabe mais alguém<br />

dizendo o que você <strong>de</strong>ve assistir, ver ou ler<br />

e em que horário. Não. Tudo mudou.<br />

É você quem <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> ver o que quiser, a<br />

hora que quiser. E se quiser também produzir<br />

conteúdo, você po<strong>de</strong> sim. Por que não<br />

po<strong>de</strong>ria? O po<strong>de</strong>r mudou <strong>de</strong> mãos, está em<br />

cada um <strong>de</strong> nós com nossos aparelhos celulares.<br />

E, é claro, nas plataformas digitais,<br />

que a todos nós conecta e a todos nós viabiliza<br />

infinitas possibilida<strong>de</strong>s.<br />

Agora todos estão preocupados. Muito<br />

preocupados. Como <strong>de</strong>ixar tudo tão solto?<br />

Esse é o gran<strong>de</strong> engano. Nada está solto.<br />

Não. O mercado tem se ajustado rapidamente,<br />

aliás muito rapidamente. A velocida<strong>de</strong><br />

é espantosa. A autovigilância e a<br />

autorregulamentação caminham passo a<br />

passo com todas essas mudanças. Ferramentas<br />

<strong>de</strong> controle. Canais <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia.<br />

Autovigilância constante e veloz.<br />

“Temos <strong>de</strong><br />

luTar para ser<br />

uma socieda<strong>de</strong><br />

madura, que<br />

saiba viver<br />

nesse novo<br />

mundo”<br />

Tudo isso faz com que conteúdos impróprios<br />

sejam <strong>de</strong>nunciados, fake news <strong>de</strong>smascaradas,<br />

frau<strong>de</strong>s <strong>de</strong>tectadas, enfim, temos<br />

encontrado uma forma <strong>de</strong> expelir tudo<br />

aquilo que é nocivo e criminoso, e, por isso,<br />

proibido por lei. Mas é claro que a liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> expressão não entra nesse jogo. Ela não<br />

po<strong>de</strong> ser tolhida. É um direito constitucional<br />

dos mais relevantes.<br />

E encontra o apoio das plataformas e<br />

dos anunciantes. Por quê? Porque é o que<br />

torna o negócio <strong>de</strong>las ainda mais rico,<br />

porque nasceram da liberda<strong>de</strong>, inúmeros<br />

são os motivos. E eu pergunto: não <strong>de</strong>veríamos<br />

todos nós também lutar por esse<br />

direito tão caro? Não é chegada a hora <strong>de</strong><br />

convivermos cada um <strong>de</strong> nós, com as diferentes<br />

opiniões, pontos <strong>de</strong><br />

vistas? Por que não po<strong>de</strong>mos<br />

tolerar alguém fazendo o próprio<br />

conteúdo e expressando<br />

as próprias opiniões, inclusive,<br />

e, por que não, falando bem ou<br />

mal <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada marca?<br />

No momento em que começarmos<br />

a ingressar na liberda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> expressão das pessoas dizendo<br />

o que elas po<strong>de</strong>m falar e<br />

sobre o que po<strong>de</strong>m falar, estaremos censurando.<br />

Os limites do abuso e do crime já<br />

são muito bem <strong>de</strong>finidos em lei. Cada um<br />

tem a sua responsabilida<strong>de</strong> perante a lei.<br />

Temos <strong>de</strong> lutar para sermos uma socieda<strong>de</strong><br />

madura, que saiba viver nesse novo<br />

mundo em que as pessoas hoje po<strong>de</strong>m,<br />

sim, exercer seu po<strong>de</strong>r e influência na internet,<br />

um novo mundo em que esse po<strong>de</strong>r<br />

já não está mais nas mãos <strong>de</strong> poucos.<br />

Precisamos educar, precisamos da autovigilância,<br />

precisamos que anunciantes<br />

tenham limites éticos e precisamos que<br />

cada um <strong>de</strong> nós respeite a lei. Claro. A<br />

responsabilida<strong>de</strong> precisa ser gran<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />

toda a socieda<strong>de</strong> no momento em que a<br />

liberda<strong>de</strong> é vasta.<br />

Quero terminar com a frase <strong>de</strong> Simone<br />

<strong>de</strong> Beauvoir: “Que nada nos limite. Que nada<br />

nos <strong>de</strong>fina. Que nada nos sujeite. Que a<br />

liberda<strong>de</strong> seja nossa própria substância, já<br />

que viver é ser livre”.<br />

Eliane Proscurcin Quintella é vice-presi<strong>de</strong>nte do<br />

Comitê Jurídico da ABA (Associação Brasileira<br />

<strong>de</strong> Anunciantes), conselheira do Conar e head of<br />

legal <strong>de</strong>partment na Danone<br />

eliane.quintella@danone.com<br />

26 <strong>17</strong> <strong>de</strong> <strong>fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2020</strong> - jornal propmark

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