NOREVISTA JANEIRO 2021
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amigas eventualmente com a família estão minadas<br />
e nós vemos, às vezes, pessoas que já não nos dizem grandes<br />
conversas ao telefone ou que nos mandam SMS muito secos<br />
que já não têm conteúdo, porque estão demasiado cercadas<br />
num mundo que não é saudável e isto é um sinal de alerta,<br />
alguém que nós conhecemos e que vai perdendo a capacidade<br />
de contacto e isto é um processo lento, há uma fase em que<br />
a pessoa reage, revolta-se, mas à medida que o tempo vai<br />
passando vai perdendo as forças e vai perdendo a razão para<br />
lutar e vai-se submetendo e vai-se esquecendo de si própria até<br />
na sua imagem, na sua aparência, na sua maneira de arranjar<br />
para se vestir para sair ou cuidar da sua cara e vai dando mais<br />
razões ao agressor para ser eventualmente mal tratada. Eu<br />
acho que isso é o grande sinal de alerta, é a perda do contacto<br />
com o mundo e o ter de encontrar estratégias para se tirar<br />
desse mundo”.<br />
Por outro lado, um outro sinal de alerta “tem a ver com essa<br />
incapacidade de se distanciar de si própria. Quando alguém<br />
não consegue ver o sítio onde está e as coisas que está a<br />
viver está muito mais vulnerável e muito mais fragilizada, tem<br />
de sair para poder olhar para si própria e para se ver. Não são<br />
só aquelas imagens que aparecem nas campanhas com os<br />
olhos negros ou com ferida, não! As pancadas muitas vezes<br />
são interiores, são humilhações, é a violência verbal, é o<br />
desrespeito pelas suas escolhas, por aquilo que ela gosta ou<br />
quer ser, por aquilo que ela acha que está certo e é um triturar<br />
permanente daquilo que é a pessoa, é que é a grande marca<br />
aquela que é mais difícil de se ver, mas é aquela que a pessoa<br />
tem de se distanciar para se<br />
reconhecer (…) e isso é preciso<br />
olhar, saber interpretar os sinais<br />
de mudança no comportamento<br />
da vítima para poder ajudar<br />
e pegar no fio da meada e<br />
começar a fazer com que esta<br />
pessoa saia desse mundo e<br />
possa verbalizar”.<br />
Os procedimentos para pedir<br />
ajuda às instituições vai<br />
depender de como é que aquela<br />
mulher se encontra naquele<br />
preciso momento. No período<br />
de confinamento “foram elas<br />
próprias que minimizavam essa<br />
violência, porque elas estavam<br />
centradas no seu papel de mães<br />
em apoiar, em arranjar os meios<br />
de comunicação para que os<br />
filhos pudessem ter a escola em<br />
casa nas devidas condições.<br />
Muitas destas mulheres<br />
tiveram que cuidar de outros<br />
familiares, nomeadamente mães<br />
e pais dependentes e havia o<br />
minimizar desta violência, ou<br />
seja, “ela amanhã vai passar,<br />
ela amanhã vai-se resolver” e<br />
o que é que estas mulheres<br />
fizeram? Fizeram o exercício<br />
imenso de não se olharem para<br />
si enquanto mulheres, mas se<br />
olharem para si enquanto<br />
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