You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Pós- COVID-19: Movimentos de retomada e os desafios econômicos brasileiros
em um cenário de incertezas – Por: Pedro Bono é CEO e cofundador na Receiv,
plataforma inteligente de contas a receber. É Doutor pela FGV , professor de gestão
de risco de crédito nas melhores escolas de negócio do país.
Quais as perspectivas econômicas
para o Brasil em um cenário pós
COVID-19? Responder tal pergunta –
que, com motivações razoáveis, surge
frequentemente nos cadernos especializados
e debates entre pesquisadores
do mercado – não é algo simples.
Para além das próprias incertezas em
torno da resolução da crise de saúde
gerada pela pandemia de coronavírus;
em termos econômicos, temos um
cenário complexo, heterogêneo e no
qual alguns dos efeitos das medidas
emergenciais de auxílio – bem como,
do redesenho de contratos e renegociação
de dívidas no mercado financeiro
– ainda não podem ser completamente
avaliados.
Peguemos o caso da renegociação de
dívidas durante a pandemia, que foi
analisada, por exemplo, em relatório
divulgado pelo Bacen (Banco Central
do Brasil) no último mês de outubro.
Segundo a análise, diante da repactuação
de dívidas e definição de prazos
estendidos de pagamento, há uma incerteza
sobre o risco de tais operações
de crédito e, consequentemente, sobre
a possibilidade de aumento de inadimplência,
fator que, por sua vez, pode ter
influência direta no aumento das taxas
de juros cobradas pelos bancos, reduzir
o acesso ao crédito e, em última
instância, impactar a recuperação econômica
do país.
Atentos a esse possível risco, como
bem destaca o relatório do BC, as
instituições financeiras aumentaram
suas reservas para se precaver de possíveis
calotes.
De acordo com dados de agosto divulgados
pela Folha de S. Paulo, os quatro
maiores bancos do país provisionaram,
juntos, R$ 54,96 bilhões ao longo do
primeiro semestre de 2020 – valor que
91,7% maior do que o mesmo período
em 2019.
Dentro desta equação para entendermos
as perspectivas de retomada econômica
no país, temos de levar em
conta também a questão do equilíbrio
fiscal e da retomada de teto de gastos,
a qual é esperada para 2021, mas depende,
por sua vez, de fatores como a
não-necessidade de continuidade, para
o ano que vem, do auxílio emergencial
que, se por um lado, tem servido de
apoio essencial para os agentes econômicos
mais afetados no contexto atual
de crise; por outro, tem um peso significativo
para as contas públicas do país.
Vale salientar que a não-adoção de medidas
para o controle de déficit fiscal
(que, segundo o Ministério da Economia,
deve fechar o ano na casa R$ 861
bi) pode criar novas pressões sobre o
câmbio e influenciar, inclusive, na
inflação do país em um cenário de
pouco espaço para políticas monetárias
de estímulo à economia, conforme
afirmou o próprio presidente do BC,
Roberto Campos Neto, em evento de
outubro.
Ademais, de acordo com nota técnica
divulgada pelas consultorias de
Orçamento do Senado e da Câmara no
último mês de outubro, por exemplo,
as ações emergenciais adotadas para o
enfrentamento da COVID-19 devem
gerar um déficit equivalente a 12,1% do
PIB neste ano e provocar um
déficit substancial nas contas públicas
em 2021.
Dadas estas diferentes variantes, ainda
temos de levar em conta que os movimentos
de retomada não são uniformes
em uma economia complexa e diversificada
como a brasileira.
Se setores como o agro mantiveram
bom ritmo de crescimento mesmo
durante os meses mais agudos da pandemia;
outros como setores, como o
industrial, sofrem, inclusive, com a
falta de matéria prima para a retomada
plena da produção – muito embora
o próprio segmento industrial conte
com alguns movimentos positivos de
retomada em determinadas regiões do
país.
Em uma análise mais geral, analistas
tem previsto uma recuperação lenta,
porém gradual, da atividade econômica
no país. O último Boletim Focus do
Banco Central, lançado no fim de
outubro, por sua vez, projetou crescimento
de 3,47% para a economia em
2021. Já o Governo Federal tem uma
visão mais otimista e projeta crescimento
superior a 4%.
O fato é que, como vimos, a recuperação
econômica do país dependerá da
combinação de uma série de fatores,
incluindo o de como Governo Federal
irá equilibrar a necessidade de ajuste
fiscal X medidas assistenciais aos agentes
econômicos mais impactos pela crise.
Somemos a este cenário a possibilidade
de uma nova elevação de casos de
COVID-19 que já afetou alguns países
e pode desencadear no país toda uma
série de efeitos adversos de ordem social,
econômica e de saúde.
Precisamos, por tudo isso, de cautela
na extensão das análises econômicas
sobre um cenário pós-pandêmico.
É importante, em contrapartida, acompanharmos
com atenção os índices,
discussões, análises – além dos movimentos
políticos e dos órgãos reguladores
da atividade econômica do país
– que podem nos fornecer, pouco a
pouco, mais clareza quanto as perspectivas
de futuro e jogar luz sobre um
cenário que, em larga medida, ainda
apresenta mais perguntas do que
respostas.
15