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Revista Empresários Edição Janeiro Fevereiro 2021

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Pós- COVID-19: Movimentos de retomada e os desafios econômicos brasileiros

em um cenário de incertezas – Por: Pedro Bono é CEO e cofundador na Receiv,

plataforma inteligente de contas a receber. É Doutor pela FGV , professor de gestão

de risco de crédito nas melhores escolas de negócio do país.

Quais as perspectivas econômicas

para o Brasil em um cenário pós

COVID-19? Responder tal pergunta –

que, com motivações razoáveis, surge

frequentemente nos cadernos especializados

e debates entre pesquisadores

do mercado – não é algo simples.

Para além das próprias incertezas em

torno da resolução da crise de saúde

gerada pela pandemia de coronavírus;

em termos econômicos, temos um

cenário complexo, heterogêneo e no

qual alguns dos efeitos das medidas

emergenciais de auxílio – bem como,

do redesenho de contratos e renegociação

de dívidas no mercado financeiro

– ainda não podem ser completamente

avaliados.

Peguemos o caso da renegociação de

dívidas durante a pandemia, que foi

analisada, por exemplo, em relatório

divulgado pelo Bacen (Banco Central

do Brasil) no último mês de outubro.

Segundo a análise, diante da repactuação

de dívidas e definição de prazos

estendidos de pagamento, há uma incerteza

sobre o risco de tais operações

de crédito e, consequentemente, sobre

a possibilidade de aumento de inadimplência,

fator que, por sua vez, pode ter

influência direta no aumento das taxas

de juros cobradas pelos bancos, reduzir

o acesso ao crédito e, em última

instância, impactar a recuperação econômica

do país.

Atentos a esse possível risco, como

bem destaca o relatório do BC, as

instituições financeiras aumentaram

suas reservas para se precaver de possíveis

calotes.

De acordo com dados de agosto divulgados

pela Folha de S. Paulo, os quatro

maiores bancos do país provisionaram,

juntos, R$ 54,96 bilhões ao longo do

primeiro semestre de 2020 – valor que

91,7% maior do que o mesmo período

em 2019.

Dentro desta equação para entendermos

as perspectivas de retomada econômica

no país, temos de levar em

conta também a questão do equilíbrio

fiscal e da retomada de teto de gastos,

a qual é esperada para 2021, mas depende,

por sua vez, de fatores como a

não-necessidade de continuidade, para

o ano que vem, do auxílio emergencial

que, se por um lado, tem servido de

apoio essencial para os agentes econômicos

mais afetados no contexto atual

de crise; por outro, tem um peso significativo

para as contas públicas do país.

Vale salientar que a não-adoção de medidas

para o controle de déficit fiscal

(que, segundo o Ministério da Economia,

deve fechar o ano na casa R$ 861

bi) pode criar novas pressões sobre o

câmbio e influenciar, inclusive, na

inflação do país em um cenário de

pouco espaço para políticas monetárias

de estímulo à economia, conforme

afirmou o próprio presidente do BC,

Roberto Campos Neto, em evento de

outubro.

Ademais, de acordo com nota técnica

divulgada pelas consultorias de

Orçamento do Senado e da Câmara no

último mês de outubro, por exemplo,

as ações emergenciais adotadas para o

enfrentamento da COVID-19 devem

gerar um déficit equivalente a 12,1% do

PIB neste ano e provocar um

déficit substancial nas contas públicas

em 2021.

Dadas estas diferentes variantes, ainda

temos de levar em conta que os movimentos

de retomada não são uniformes

em uma economia complexa e diversificada

como a brasileira.

Se setores como o agro mantiveram

bom ritmo de crescimento mesmo

durante os meses mais agudos da pandemia;

outros como setores, como o

industrial, sofrem, inclusive, com a

falta de matéria prima para a retomada

plena da produção – muito embora

o próprio segmento industrial conte

com alguns movimentos positivos de

retomada em determinadas regiões do

país.

Em uma análise mais geral, analistas

tem previsto uma recuperação lenta,

porém gradual, da atividade econômica

no país. O último Boletim Focus do

Banco Central, lançado no fim de

outubro, por sua vez, projetou crescimento

de 3,47% para a economia em

2021. Já o Governo Federal tem uma

visão mais otimista e projeta crescimento

superior a 4%.

O fato é que, como vimos, a recuperação

econômica do país dependerá da

combinação de uma série de fatores,

incluindo o de como Governo Federal

irá equilibrar a necessidade de ajuste

fiscal X medidas assistenciais aos agentes

econômicos mais impactos pela crise.

Somemos a este cenário a possibilidade

de uma nova elevação de casos de

COVID-19 que já afetou alguns países

e pode desencadear no país toda uma

série de efeitos adversos de ordem social,

econômica e de saúde.

Precisamos, por tudo isso, de cautela

na extensão das análises econômicas

sobre um cenário pós-pandêmico.

É importante, em contrapartida, acompanharmos

com atenção os índices,

discussões, análises – além dos movimentos

políticos e dos órgãos reguladores

da atividade econômica do país

– que podem nos fornecer, pouco a

pouco, mais clareza quanto as perspectivas

de futuro e jogar luz sobre um

cenário que, em larga medida, ainda

apresenta mais perguntas do que

respostas.

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