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COMUNIDADES
A V MARIA DOS SANTOS
M.S. Como surgiu a oportunidade
de vir abraçar este projecto na
Missão Católica portuguesa de
Zurique?
P.C. Esta possibilidade surgiu pelas
mãos do moderador da MCLP (Missão
Católica Portuguesa de Zurique)
daquela época. Na verdade, eu também
procurava uma nova aventura/
experiência. E neste caso juntou-se o
último ao agradável, uma vez que acabei
por trabalhar na minha área e com
uma equipa fantástica.
M.S. Por detrás desta proposta,
estava também a integração num
contexto, totalmente diferente.
Como foi adaptar-se à escolha
desta nova vida em terras Suíças?
P.C. Por incrível que possa parecer
a adaptação foi mesmo muito fácil.
O que mais “custou” foi habituar-me
aos horários de cá principalmente. A
língua foi a principal barreira, que dia
após dia vamos tentando superar, uma
vez que também é a principal porta de
abertura à integração. Sem dúvida que
o facto de trabalhar com e para portugueses
facilitou muito a minha integração
e adaptação. E na verdade somos
mesmo um povo muito acolhedor. Eu
senti isso quando cá cheguei.
M.S. Desde quando é sócio do
C.L.Z. e porque é que aderiu a
esta associação?
P.C. Eu conheço o CLZ desde a minha
chegada à Suíça, uma vez que a MCLP
e o CLZ partilhavam o mesmo edifício.
No entanto, e embora até tivesse
já chegado a colaborar com a revista,
por vários motivos nunca se proporcionou
tornar-me sócio. Até que em
2019 decidi mesmo associar-me. É verdade,
sou um sócio recente…
M.S. O C.L.Z. é uma Associação
que procura estar presente
na vida da nossa Comunidade.
Tem inúmeras secções culturais e
de apoio aos portugueses aqui residentes.
Considera que o C.L.Z é
uma referência? Como vê este associativismo
ao nosso serviço?
P.C. O CLZ é único porque alguém o
tornou único. Os que por lá passaram
foram capazes de deixar a sua marca na
comunidade portuguesa. Apenas conheci
um único presidente, o Armindo.
Ele é a pessoa certa no lugar certo.
Não há pessoas insubstituíveis, há sim
pessoas difíceis de substituir. Tornar
o CLZ numa referência no cantão de
Zurique e em toda a Suíça foi e é uma
tarefa “hercúlea”. Além disso, é também
a única associação que tem várias
e diversificadas valências. Sei que é
muito difícil conseguir ter uma associação
que consiga responder a todas
as necessidades que vão surgindo, mas,
considero que há ainda algumas valências
no CLZ que deveriam ser melhoradas.
O CLZ tem condições únicas
para ser uma verdadeira referência cultural.
Claro que sendo uma associação
que depende única e exclusivamente
dos sócios o dinheiro não chega para
tudo.
M.S. Considera que esta nova
geração, vai conseguir “salvar”
o movimento associativo e estimular
o que a linhagem dos anos
80 consegui fazer?
P.C. Espero estar enganado, mas ou o
associativismo se reinventa, ou então
corre o risco de acabar. Pensemos um
pouco na quantidade de associações
que existem no cantão de Zurique. O
que fazem pela nossa cultura? Que cultura
transmitem aos nossos filhos? As
primeiras associações começaram por
ser pontos de encontro e de intercâmbio
cultural. Mas com o tempo isso
foi-se esfumando. Hoje as associações
tornaram-se meros pontos de restauração,
na maioria dos casos. Os jovens
não procuram isso. Basta observar que
faixas etárias frequentam actualmente
estas associações. No meu ponto de
vista, a tarefa torna-se mais difícil se
esta nova geração não se sentir 100%
portuguesa. Eles têm de sentir a nossa
língua como a sua língua e a nossa cultura
como a sua cultura.
M.S. Actualmente, vive e trabalha
parcialmente na paróquia de
St. Josef em Schlieren e ocupa-se,
ainda da Missão Católica e de toda
a sua logística. A catequese com
os adolescentes têm-lhe trazido
muitas alegrias e vi que se sente
recompensado por alguns destes
jovens. A actual situação está
a ser difícil de ultrapassar sem o
contacto físico e visual?
P.C. Sem dúvida. E não só em relação
aos jovens. Desde Março de 2020 que
já não me cruzo com pessoas que até
então via com regularidade. No que
diz respeito aos jovens, eles também
não são excepção. Estas medidas têm
sido muito castradoras para quem precisa
de estar e de saber estar. As plataformas
digitais podem ser, e são, uma
grande ajuda. Mas não são a mesma
coisa. Os nossos laços afectivos estão
a ser postos à prova, e só restarão os
mais fortes. Resta-nos, neste momento,
minimizar os danos e preparar estratégias
de reactivação.
M.S. Muitas das pessoas que vão
à missa a cada domingo perguntam-se
para onde vai o dinheiro
que se recolhe durante a Eucaristia.
Muitos desconhecem o seu
destino. Estes fundos são utilizados
como?
P.C. Esse dinheiro é usado, na sua
maioria, para ajuda a pessoas mais necessitadas.
Sendo dinheiro do povo,
ele deve estar ao serviço do povo. Cada
situação é analisada em pormenor a
fim de evitar abusos, pois infelizmente
há ainda quem abuse da generosidade.
Há ainda alguns peditórios cujos destinatários
estão já definidos pela diocese
de Chur, como por exemplo para
a Caritas.
M.S. Todos sabemos que os grandes
encontros de jovens nos mais
variados países do mundo têm
mostrado que a espiritualidade
e a crença está muito patente
numa classe etária juvenil. Porque
não, através do C.L.Z, organizar
um encontro para jovens em
Zurique e falar do catolicismo, da
espiritualidade, de Deus e Jesus?
P.C. Seria uma possibilidade, sem dúvida.
Ou então, porque não envolver
o CLZ na preparação das próximas
Jornadas Mundiais da Juventude de
2023 que serão em Lisboa? Enquanto
MCLP estaremos presentes. E quantos
mais se associarem a nós, melhor.
Fica aqui o desafio.
M.S. A sua tese foi realizada em
Zurique, dedicando-se ao estudo
da relação dos jovens portugueses
com a religião. Que conclusão tirou
dos nossos jovens?
P.C Os nossos jovens são únicos e de
um potencial enorme. Na sua relação
com a Igreja, estes jovens inserem-se
naquele grupo que não estando contra
Deus nem contra a Igreja, estão
Lusitano de Zurique - Março 2021 | www.cldz.eu
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