edição de 15 de agosto de 2022
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merCaDo<br />
Cartas em <strong>de</strong>fesa da <strong>de</strong>mocracia<br />
divi<strong>de</strong>m a a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s<br />
Mercado diverge sobre assinatura <strong>de</strong> documentos que referendam a<br />
proteção ao Estado Democrático <strong>de</strong> Direito e ao sistema eleitoral<br />
Janaina Langsdorff<br />
Carta às Brasileiras e aos Brasileiros<br />
A em Defesa do Estado Democrático <strong>de</strong><br />
Direito, lida na última quinta-feira (11) no<br />
Pátio das Arcadas da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito<br />
da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (FDUSP),<br />
amealhou a a<strong>de</strong>são não só <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s<br />
dos mais variados setores da economia.<br />
De artistas, escritores e atletas a economistas,<br />
banqueiros e empresários, o manifesto<br />
atraiu cerca <strong>de</strong> um milhão <strong>de</strong> assinaturas<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu lançamento oficial,<br />
realizado no dia 26 <strong>de</strong> julho.<br />
O movimento encabeçado pela instituição<br />
localizada no Largo São Francisco,<br />
região central da capital paulista, reedita<br />
a Carta aos Brasileiros, narrada pelo<br />
professor Goffredo da Silva Telles Júnior<br />
em 1977. Em repúdio ao regime militar, o<br />
texto pedia o restabelecimento do Estado<br />
Democrático <strong>de</strong> Direito.<br />
Mais <strong>de</strong> quatro décadas <strong>de</strong>pois, o documento<br />
reafirma a <strong>de</strong>fesa da <strong>de</strong>mocracia<br />
após ataques do presi<strong>de</strong>nte Jair Bolsonaro<br />
(PL) contra as urnas eletrônicas e o sistema<br />
eleitoral brasileiro. “Não vou assinar<br />
cartinha”, disse Bolsonaro em encontro<br />
organizado com banqueiros no último dia<br />
8 <strong>de</strong> <strong>agosto</strong>.<br />
Divisão<br />
A postura irônica do governo - que já<br />
chamou também a Covid-19 <strong>de</strong> “gripezinha”<br />
- segue alimentando a divisão <strong>de</strong><br />
opiniões, confundindo a população e polarizando<br />
segmentos que tentam encontrar<br />
formas próprias <strong>de</strong> proteger princípios<br />
essenciais para a construção <strong>de</strong> uma<br />
socieda<strong>de</strong> justa e mais igualitária.<br />
“Ruptura favorece divisão. A divergência<br />
é a galvanização da oposição à postura<br />
anti<strong>de</strong>mocrática do presi<strong>de</strong>nte”, aponta<br />
VanDyck Silveira, consultor <strong>de</strong> negócios<br />
e cofundador da EducPay, que assinou a<br />
carta para “cumprir o seu <strong>de</strong>ver cívico”.<br />
A Fe<strong>de</strong>ração das Indústrias do Estado<br />
<strong>de</strong> São Paulo (Fiesp) e a Or<strong>de</strong>m dos Advogados<br />
do Brasil (OAB) endossaram outros<br />
documentos. “Hoje, boa parte das entida<strong>de</strong>s<br />
representativas associa a Carta da USP<br />
a uma certa i<strong>de</strong>ologia política, o que não<br />
é, pois a <strong>de</strong>mocracia é <strong>de</strong> todos”, pon<strong>de</strong>ra<br />
a publicitária paraense Conceição Golobovante,<br />
professora do curso <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong><br />
e jornalismo da Pontifícia Universida<strong>de</strong><br />
Católica <strong>de</strong> São Paulo (PUC-SP).<br />
Da indústria da comunicação, vem<br />
Fachada da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, no Largo São Francisco, região central <strong>de</strong> São Paulo<br />
o exemplo da Associação Brasileira <strong>de</strong><br />
Emissoras <strong>de</strong> Rádio e Televisão (Abert),<br />
Associação Nacional <strong>de</strong> Editores <strong>de</strong> Revistas<br />
(Aner) e Associação Nacional <strong>de</strong><br />
Jornais (ANJ), que se juntaram para assinar<br />
a carta pela Democracia e liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
imprensa, divulgada no dia 2 <strong>de</strong> <strong>agosto</strong>.<br />
“Optamos por fazer a nossa manifestação<br />
específica dos meios <strong>de</strong> comunicação,<br />
a partir do alerta sobre a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
imprensa e a sua associação direta com o<br />
Estado <strong>de</strong> Direito e o respeito aos resultados<br />
eleitorais”, posiciona Marcelo Rech,<br />
presi<strong>de</strong>nte da ANJ.<br />
Signatária também da Carta da FDUSP,<br />
Regina Bucco, diretora-executiva da Aner,<br />
<strong>de</strong>staca o trecho do documento articulado<br />
em parceria com a Abert e a ANJ, que<br />
diz: “Não existe <strong>de</strong>mocracia sem liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> imprensa. E não existe liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
imprensa sem <strong>de</strong>mocracia, que tem como<br />
pressuposto um Estado <strong>de</strong> Direito alicerçado<br />
no respeito aos resultados eleitorais”.<br />
Para VanDyck Silveira, a composição<br />
<strong>de</strong> cartas em separado é um erro porque<br />
“isso fortalece o governo <strong>de</strong> Bolsonaro,<br />
que aproveita para ironizar o movimento.<br />
Todas as pessoas que não aceitam certas<br />
aventuras anti<strong>de</strong>mocráticas e ditatoriais<br />
<strong>de</strong>veriam assinar”, insiste Silveira, que<br />
esperava uma a<strong>de</strong>são mais intensa. “Estou<br />
<strong>de</strong>cepcionado, pois imaginava ter 10<br />
milhões <strong>de</strong> assinaturas só na primeira semana”,<br />
lamenta o consultor.<br />
Divulgação/USP<br />
“Todas as pessoas<br />
que não aceiTam<br />
cerTas avenTuras<br />
anTi<strong>de</strong>mocráTicas<br />
e diTaToriais<br />
<strong>de</strong>veriam assinar”<br />
Luta<br />
Já a Associação dos Profissionais <strong>de</strong><br />
Propaganda (APP) confirmou a sua assinatura<br />
na Carta da FDUSP. “Des<strong>de</strong> a sua<br />
criação, em 1937, a APP <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> os interesses<br />
dos profissionais <strong>de</strong> comunicação.<br />
Lutar pelos direitos da nossa <strong>de</strong>mocracia<br />
é, certamente, uma forma <strong>de</strong> viabilizarmos<br />
cada vez mais a evolução do nosso<br />
país e fortalecer a missão da entida<strong>de</strong>”,<br />
comenta Silvio Soleda<strong>de</strong>, presi<strong>de</strong>nte da<br />
APP Brasil.<br />
O executivo ratifica que hoje não é mais<br />
possível tolerar e admitir a limitação <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ias e pensamentos. “A liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão<br />
é fundamental para a <strong>de</strong>mocracia<br />
e para o exercício <strong>de</strong> nossa ativida<strong>de</strong>, respeitando<br />
sempre os limites éticos e <strong>de</strong> regulação.<br />
Este manifesto abre espaço para<br />
24 <strong>15</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2022</strong> - jornal propmark