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I. Gênese de uma obra, sagacidade em defesa da Igreja<br />
moças para ver se me induzia à imprudência<br />
de soltar um dito qualquer<br />
que pudesse servir de slogan<br />
contra nossa orientação. Mas, para<br />
isso, transmitia imprudentemente o<br />
que se conversava nas rodas confidenciais.<br />
Era, portanto, o momento<br />
de eu me informar do que diziam lá.<br />
— Ah, é?!<br />
— Você representa, aqui no Legionário,<br />
um tipo antigo. Você é<br />
combativo, acha que a Doutrina Católica<br />
deve ser desfraldada por inteiro<br />
aos olhos dos outros e que a discussão<br />
é um bom meio de firmar os<br />
princípios. Você acha que quando<br />
uma pessoa não anda bem na doutrina<br />
e nos costumes é preciso combatê-la,<br />
dizer isso de frente. Você acha<br />
que o tipo do homem e da moça deve<br />
ser sério, pensar em coisas elevadas,<br />
ter uma linguagem nobre e bonita.<br />
Não! Acabou! Agora é uma era<br />
nova! Nós vivemos uma época de<br />
alegria, de despreocupação. É preciso<br />
acabar com o exame de consciência,<br />
essa coisa que amarrota o indivíduo.<br />
O gostoso é nunca examinar<br />
a consciência, ir a festas, bailes, para<br />
levar ali o Cristo, porque um membro<br />
da Ação Católica irradia o Cristo<br />
por toda parte aonde vai.<br />
— Mas, inclusive nos lupanares?<br />
— Ah, também nos lupanares. Entrando<br />
com a alma pura no lupanar,<br />
a gente o torna puro. Por isso, certas<br />
formas de piedade estão ultrapassadas.<br />
Via Sacra, por exemplo. As dores<br />
de Cristo passaram. Agora é a época<br />
de pensar nas alegrias de Cristo.<br />
— Ah, sei...<br />
— Ademais, nós vivemos no mundo<br />
da igualdade. A Ação Católica visa<br />
fazer a Igreja lutar por uma revolução<br />
para acabar com as desigualdades<br />
sociais. Ou vocês do Legionário se<br />
ajustam ou o Legionário está morto.<br />
Pensei: “Aqui estão os princípios<br />
da Revolução Francesa, a víbora contra<br />
a qual consagrei minha vida. Depois<br />
de tê-la martelado de todas as<br />
formas fora dos ambientes católicos,<br />
vejo-a entrar por debaixo do assoalho,<br />
e aqui está encarnada neste indivíduo<br />
que mais tem o aspecto de uma<br />
minhoca do que o de uma víbora.”<br />
Tendo feito o rapaz revelar tudo<br />
quanto sabia, eu lhe disse:<br />
— Pois bem, fique sabendo que<br />
o Legionário vai liquidar com vocês.<br />
Vocês representam uma doutrina errada,<br />
que é o contrário da Religião<br />
Católica. Portanto, constituem uma<br />
infiltração dentro da Igreja. Temos<br />
lutado contra tudo e contra todos.<br />
Chegou a hora de lutar contra vocês.<br />
Ele deu uma risada e concluiu:<br />
— Nós haveremos de ver quem fica<br />
com a melhor...<br />
Esse último dito me deixou intrigado.<br />
Essa gente, de si, não tinha<br />
forças para lutar comigo. Eles deviam<br />
se sentir apoiados por cima para<br />
iniciar essa batalha. Quem de cima<br />
os apoiava?<br />
Táticas diante da<br />
nova conspiração<br />
A primeira preocupação que tive<br />
foi de não enfrentar, observar muito,<br />
aproximar-me dos ambientes que<br />
eles frequentavam, ouvir o que pensavam.<br />
Não tardei a notar a existência de<br />
um certo número de padres, e mesmo<br />
de bispos, que davam apoio a eles,<br />
Divulgação<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> num evento da Escola de Serviço Social – Fotografia extraída<br />
do jornal Diário de São Paulo, 24 de outubro de 1937<br />
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