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III. O lance profético<br />
consultá-lo, embora eu não tivesse a<br />
mínima obrigação, pois ele era assistente<br />
eclesiástico de um setor e eu<br />
presidente da Junta Arquidiocesana.<br />
Lembro-me de que, quando<br />
os mal-entendidos entre<br />
nós estavam muito grandes,<br />
com algumas intrigas pelo<br />
meio, combinei com ele<br />
e D. Teodoro que nunca<br />
um de nós tomaria atitude<br />
contra o outro sem antes<br />
avisar e consultar para<br />
ver se a divergência podia<br />
ser desfeita.<br />
Obtenção do<br />
prefácio, conversas<br />
com um hábil jesuíta<br />
Inspetoria Salesiana de São Paulo<br />
Núncio Apostólico<br />
D. Benedetto Aloisi Masella.<br />
Ao lado: fac-símiles de seu<br />
prefácio ao livro Em Defesa<br />
da Ação Católica<br />
Entretanto, eu me dava<br />
bem conta de que a publicação<br />
do livro seria um estouro<br />
do outro mundo e corresponderia<br />
à obra de um kamikaze. Eu destruiria<br />
o adversário, mas me destruiria<br />
também. Era, portanto, uma autoimolação.<br />
Marquei um encontro com o Pe.<br />
Dainese e lhe disse:<br />
— Pe. Dainese, não tenho a menor<br />
dúvida de que esse livro vá ser<br />
uma explosão e que com essa explosão<br />
eu me liquido. Estou disposto<br />
a essa liquidação se for em condições<br />
de representar uma bomba<br />
para o adversário. Porque, eu me liquidar<br />
em vão, não. Liquidar-me em<br />
proveito de nossa Causa, com toda<br />
a alegria. Esse livro só sairá se tiver<br />
um prefácio do Núncio Apostólico.<br />
Sem isso, o livro não sai.<br />
— Oh, mas com um prefácio do<br />
Núncio Apostólico, onde é que se<br />
viu…<br />
— É assim. Se não for, não sai.<br />
— Eu não sei, preciso falar com o<br />
Sr. Núncio.<br />
Algum tempo depois, encontramo-nos<br />
no Rio, na linda casa de retiros<br />
que os jesuítas tinham na Gávea.<br />
Ele era homem inteligente, mas nervoso.<br />
Era preciso saber tratá-lo, conversar<br />
muito com ele, distraí-lo, diverti-lo;<br />
quando ele estava no ponto,<br />
entrava-se com a questão.<br />
A certa altura da conversa, ele me<br />
disse:<br />
— O Núncio prometeu o prefácio.<br />
— Está perfeito, Pe. Dainese.<br />
Fiquei mais uns dois ou três dias<br />
no Rio. Em outro encontro, na Gávea,<br />
estávamos andando, um ao lado<br />
do outro, quando ele ponderou:<br />
— Sabe de uma coisa? Eu achava<br />
melhor não haver prefácio do Núncio.<br />
Porque com esse prefácio ninguém<br />
poderá escrever contra seu livro<br />
e seria muito melhor que saísse<br />
um estouro, e que todo mundo escrevesse<br />
contra.<br />
— Pe. Dainese, a coisa é sim ou<br />
não. Ou sai com o prefácio do Núncio<br />
ou não sai nada. Essa história de<br />
dizer que sai um estouro... Vão começar<br />
por fazer uma campanha de<br />
silêncio seguida de difamação oral<br />
contra mim, dizendo que meu livro<br />
não vai ter saída. Enquanto que com<br />
um prefácio do Núncio o livro tem<br />
saída. Eu me incumbo disso.<br />
— Bem, se o senhor quer, então<br />
chega o prefácio.<br />
É preciso dizer que o Pe. Dainese<br />
era um dos jesuítas mais pitorescos<br />
que conheci, muito parecido fisicamente<br />
com Santo Inácio de Loyola.<br />
Sutil, baixinho, com aquela vivacidade<br />
e capacidade de estar por toda parte,<br />
de se meter por tudo, de observar tu-<br />
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