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Revista Dr Plinio 300

Março de 2023

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Em Defesa da Ação Católica<br />

ACMSP<br />

D. Benedetto Aloisi Masella, Núncio Apostólico no<br />

Brasil, num dos eventos do Congresso Eucarístico<br />

— O senhor quereria me dizer<br />

bem exatamente o que tem em mente<br />

com a sua atuação desenvolvida à<br />

testa da Ação Católica em São Paulo?<br />

Porque ela vai criando uma divisão<br />

dentro da Ação Católica brasileira<br />

inteira, e eu quereria saber<br />

qual é o objetivo que o senhor tem<br />

em vista.<br />

Pensei: “Esse homem é mandado<br />

por outrem. Ele não veio me fazer<br />

essa interpelação só da cabeça dele.<br />

Mas é muito esperto e experiente. A<br />

primeira atitude que devo tomar para<br />

este padre me dar apoio é não fazer<br />

o papel de bobo e perguntar-lhe<br />

quem o mandou falar comigo. Ele<br />

vai me dar a entender isso aos poucos.”<br />

Entendi que o melhor seria jogar<br />

o todo pelo todo e me abrir com<br />

ele, e lhe respondi:<br />

— Pe. Dainese, vou ser franco<br />

com o senhor. A situação é a seguinte:<br />

trata-se de uma corrente com<br />

uma doutrina errada, que pretende<br />

destruir toda a autoridade eclesiástica,<br />

a Moral e as devoções tradicionais<br />

da Igreja, e colocar no lugar<br />

uma religião feita de pagodeiras,<br />

de toda sorte de prazeres, de concessões<br />

ao mundo, em última análise,<br />

uma religião que reproduz o Modernismo<br />

condenado pelo Papa Pio<br />

X. Eu me sinto profundamente chocado<br />

e luto contra isso. Pode ser que<br />

eu seja esmagado nesse embate, mas<br />

eu lutarei até o fim porque essa luta<br />

é pela Igreja Católica.<br />

Ele foi ouvindo tudo<br />

e disse:<br />

— É, o senhor tem<br />

toda a razão e merece<br />

verdadeiramente<br />

apoio. O senhor nunca<br />

procurou informar<br />

a ninguém?<br />

Então lancei a minha<br />

rede:<br />

— Pe. Dainese, eu<br />

moro em São Paulo e<br />

tenho pouca oportunidade<br />

de ir ao Rio.<br />

A quem eu dirigiria<br />

minhas informações<br />

seria o Núncio Apostólico,<br />

mas me falta<br />

quem sirva de instrumento<br />

de ligação<br />

com ele.<br />

— Algo eu posso<br />

dizer.<br />

— Então, padre,<br />

eu poderia fazer para<br />

o senhor um relatório<br />

e daqui a algum<br />

tempo apareço<br />

na Nunciatura Apostólica<br />

para conversarmos.<br />

— Pois não. Então<br />

o senhor faça assim.<br />

Um encontro com o<br />

Núncio, patrocinado<br />

pelo Pe. Dainese<br />

Dois ou três dias depois, o relatório<br />

estava seguindo para o Rio pelo<br />

correio. Passado algum tempo veio<br />

um recado do Pe. Dainese.<br />

— Olha, aquele personagem gostaria<br />

de conversar com o senhor.<br />

— Quando?<br />

— Ele passa essa semana toda<br />

aqui no Rio. O senhor pode vir<br />

quando quiser.<br />

Foi nessa ocasião que pude conhecer<br />

pessoalmente o Núncio Apostólico,<br />

D. Benedetto Aloisi Masella 1 .<br />

Com pouco mais de sessenta anos,<br />

de família nobre da Itália, homem de<br />

altura mediana, claro, com um rosto<br />

um pouco quadrado, os traços muito<br />

regulares, cabelos já brancos, corado,<br />

atitudes muito distintas, sumamente<br />

reservado, era um típico diplomata.<br />

Toquei à porta da Nunciatura e me<br />

apresentei:<br />

— Sou o <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> Corrêa de Oliveira,<br />

desejo falar com o Sr. Núncio.<br />

— Ah, ele o espera.<br />

Entrei, havia uma sala de visitas<br />

grande, tudo arranjado à maneira de<br />

um palácio. O Núncio entrou, muito<br />

amável, apresentou-me o anel para<br />

beijar, depois me chamou:<br />

— Venha comigo.<br />

E me fez entrar para uma segunda<br />

sala de visitas menor, também bem<br />

arranjada, feita evidentemente para<br />

confidências. Sentou-se no sofá e me<br />

perguntou:<br />

— Caro Doutor, o que o senhor<br />

tem para me dizer?<br />

Ele me ouviu impassível durante<br />

o tempo inteiro. A fisionomia dele<br />

não mudou nada. Nem um gesto<br />

de aprovação, nem de desaprovação.<br />

Um diplomata perfeito.<br />

No final, ele disse:<br />

— É, precisamos rezar muito. O<br />

senhor reze muito, eu vou rezar muito<br />

também.<br />

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