You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Em Defesa da Ação Católica<br />
ACMSP<br />
D. Benedetto Aloisi Masella, Núncio Apostólico no<br />
Brasil, num dos eventos do Congresso Eucarístico<br />
— O senhor quereria me dizer<br />
bem exatamente o que tem em mente<br />
com a sua atuação desenvolvida à<br />
testa da Ação Católica em São Paulo?<br />
Porque ela vai criando uma divisão<br />
dentro da Ação Católica brasileira<br />
inteira, e eu quereria saber<br />
qual é o objetivo que o senhor tem<br />
em vista.<br />
Pensei: “Esse homem é mandado<br />
por outrem. Ele não veio me fazer<br />
essa interpelação só da cabeça dele.<br />
Mas é muito esperto e experiente. A<br />
primeira atitude que devo tomar para<br />
este padre me dar apoio é não fazer<br />
o papel de bobo e perguntar-lhe<br />
quem o mandou falar comigo. Ele<br />
vai me dar a entender isso aos poucos.”<br />
Entendi que o melhor seria jogar<br />
o todo pelo todo e me abrir com<br />
ele, e lhe respondi:<br />
— Pe. Dainese, vou ser franco<br />
com o senhor. A situação é a seguinte:<br />
trata-se de uma corrente com<br />
uma doutrina errada, que pretende<br />
destruir toda a autoridade eclesiástica,<br />
a Moral e as devoções tradicionais<br />
da Igreja, e colocar no lugar<br />
uma religião feita de pagodeiras,<br />
de toda sorte de prazeres, de concessões<br />
ao mundo, em última análise,<br />
uma religião que reproduz o Modernismo<br />
condenado pelo Papa Pio<br />
X. Eu me sinto profundamente chocado<br />
e luto contra isso. Pode ser que<br />
eu seja esmagado nesse embate, mas<br />
eu lutarei até o fim porque essa luta<br />
é pela Igreja Católica.<br />
Ele foi ouvindo tudo<br />
e disse:<br />
— É, o senhor tem<br />
toda a razão e merece<br />
verdadeiramente<br />
apoio. O senhor nunca<br />
procurou informar<br />
a ninguém?<br />
Então lancei a minha<br />
rede:<br />
— Pe. Dainese, eu<br />
moro em São Paulo e<br />
tenho pouca oportunidade<br />
de ir ao Rio.<br />
A quem eu dirigiria<br />
minhas informações<br />
seria o Núncio Apostólico,<br />
mas me falta<br />
quem sirva de instrumento<br />
de ligação<br />
com ele.<br />
— Algo eu posso<br />
dizer.<br />
— Então, padre,<br />
eu poderia fazer para<br />
o senhor um relatório<br />
e daqui a algum<br />
tempo apareço<br />
na Nunciatura Apostólica<br />
para conversarmos.<br />
— Pois não. Então<br />
o senhor faça assim.<br />
Um encontro com o<br />
Núncio, patrocinado<br />
pelo Pe. Dainese<br />
Dois ou três dias depois, o relatório<br />
estava seguindo para o Rio pelo<br />
correio. Passado algum tempo veio<br />
um recado do Pe. Dainese.<br />
— Olha, aquele personagem gostaria<br />
de conversar com o senhor.<br />
— Quando?<br />
— Ele passa essa semana toda<br />
aqui no Rio. O senhor pode vir<br />
quando quiser.<br />
Foi nessa ocasião que pude conhecer<br />
pessoalmente o Núncio Apostólico,<br />
D. Benedetto Aloisi Masella 1 .<br />
Com pouco mais de sessenta anos,<br />
de família nobre da Itália, homem de<br />
altura mediana, claro, com um rosto<br />
um pouco quadrado, os traços muito<br />
regulares, cabelos já brancos, corado,<br />
atitudes muito distintas, sumamente<br />
reservado, era um típico diplomata.<br />
Toquei à porta da Nunciatura e me<br />
apresentei:<br />
— Sou o <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> Corrêa de Oliveira,<br />
desejo falar com o Sr. Núncio.<br />
— Ah, ele o espera.<br />
Entrei, havia uma sala de visitas<br />
grande, tudo arranjado à maneira de<br />
um palácio. O Núncio entrou, muito<br />
amável, apresentou-me o anel para<br />
beijar, depois me chamou:<br />
— Venha comigo.<br />
E me fez entrar para uma segunda<br />
sala de visitas menor, também bem<br />
arranjada, feita evidentemente para<br />
confidências. Sentou-se no sofá e me<br />
perguntou:<br />
— Caro Doutor, o que o senhor<br />
tem para me dizer?<br />
Ele me ouviu impassível durante<br />
o tempo inteiro. A fisionomia dele<br />
não mudou nada. Nem um gesto<br />
de aprovação, nem de desaprovação.<br />
Um diplomata perfeito.<br />
No final, ele disse:<br />
— É, precisamos rezar muito. O<br />
senhor reze muito, eu vou rezar muito<br />
também.<br />
22