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Revista Dr Plinio 300

Março de 2023

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III. O lance profético<br />

O Côn. Sílvio, mordomo<br />

do Palácio Arquiepiscopal,<br />

contou-me que<br />

na noite em que meu livro<br />

deu entrada no Palácio,<br />

o Arcebispo passou-<br />

-a em claro e o Cônego<br />

notou que D. José andou<br />

muito. De manhã, encontrou<br />

o dossiê de meu<br />

livro aberto.<br />

Um livro “mal<br />

escrito”…<br />

intervenção da<br />

Nunciatura<br />

No dia seguinte, D. José<br />

me chamou e tivemos<br />

um outro encontro.<br />

Recebeu-me mais amável<br />

do que nunca, dizendo<br />

ter lido o livro com o<br />

enorme interesse que consagrava<br />

à Ação Católica,<br />

e ficava bem provada minha<br />

grande dedicação por<br />

ter expendido, em meio a todas as minhas<br />

ocupações, tanto esforço para escrevê-lo.<br />

Mas a amizade por ele devotada<br />

a mim o levava a dizer que estava<br />

muito mal redigido. Além de confuso,<br />

pois não se entendia bem o que queria<br />

dizer, tinha um português muito ruim.<br />

E o pior era que o livro padecia de excesso<br />

de ideias. Por isso, ele achava não<br />

ser possível publicá-lo naquelas condições.<br />

E continuou:<br />

— Eu arranjei um doutor – não me<br />

disse o nome – que vai passar o livro<br />

por uma reforma completa: suprimir<br />

muitas ideias, pôr aquilo num estilo<br />

claro, aproveitando o essencial. Então,<br />

o senhor e eu juntos, com as correções<br />

desse professor de português, vamos<br />

remanipulando, fazendo um livro<br />

que esteja verdadeiramente bem, e o<br />

senhor poderá publicar em seu nome.<br />

Ora, é a maior injúria que se pode<br />

fazer ao autor de um livro. Mas tudo<br />

dito muito amavelmente.<br />

Pe. Mayer ao lado de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> e mais<br />

alguns membros do Legionário<br />

Logo a mim, professor universitário<br />

com mais de trinta anos de idade,<br />

que tinha sido deputado, alguém<br />

dizer que meu livro estava confuso<br />

e inapresentável do ponto de vista<br />

do português, era uma coisa muito<br />

singular. Eu era considerado um dos<br />

professores mais claros da Faculdade<br />

de Direito. Meus artigos eram claríssimos.<br />

Algum tempo antes, o próprio<br />

D. José Gaspar, comentando com o<br />

Pe. Mayer um artigo meu do Legionário,<br />

havia dito: “Quando a gente lê os<br />

artigos do <strong>Plinio</strong>, desanima de escrever.<br />

Porque é tanta clareza, que depois<br />

tem-se medo de escrever uma<br />

coisa que fique confusa.”<br />

Por que logo aquele livro haveria<br />

de estar obscuro?<br />

Eu disse:<br />

— O que V. Ex.ª me diz me enche<br />

de surpresa, pois sou professor universitário<br />

há anos, escrevo correntemente,<br />

por exemplo, no Legionário, e<br />

me faço entender por todo<br />

o mundo. De modo<br />

que eu não compreendo,<br />

mas a opinião de V. Ex.ª<br />

é muito abalizada. Eu<br />

não a contradigo, apenas<br />

fico tomado de uma<br />

apreensão: esse processo<br />

que V. Ex.ª me propõe,<br />

quanto tempo tomará?<br />

— Vamos fazer uma<br />

coisa: eu vou lendo aos<br />

pouquinhos e pondo<br />

umas notas. Está bem?<br />

Tal era a ação de presença<br />

dele que eu me<br />

retirei da sala contente,<br />

sem perceber a cilada<br />

em que caíra. Saí pela<br />

Rua São Luís em direção<br />

à da Consolação<br />

e quando cheguei ao fim<br />

da grade do Palácio, parece<br />

que a ação de presença<br />

se desfez. Então<br />

pensei: “Meu Deus! Estou<br />

liquidado. Este negócio<br />

nunca mais sai.”<br />

Telefonei ao Pe. Dainese explicando-lhe<br />

as razões pelas quais o livro<br />

tinha encalhado. Mas, tomado<br />

de perplexidade diante da situação,<br />

escrevi-lhe uma carta contando<br />

pormenorizadamente o que estava<br />

acontecendo e pedindo a ele que falasse<br />

com o Núncio.<br />

Dias depois, chegava ao Palácio<br />

São Luís uma carta da Nunciatura<br />

mandando o Arcebispo entregar o<br />

livro à imprensa para ser publicado<br />

como estava.<br />

D. José Gaspar chamou Mons.<br />

Mayer e disse:<br />

— Mayer, eu estive vendo aqui este<br />

livro. Vamos mandar publicá-lo.<br />

Você leu o livro?<br />

— Sim, Sr. Arcebispo.<br />

— Bem, se você leu, então dê o<br />

imprimatur.<br />

— Pois não.<br />

Mons. Mayer redigiu o imprimatur:<br />

“De mandato Ecmi. ac Revmi.<br />

Arquivo <strong>Revista</strong><br />

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