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Em Defesa da Ação Católica<br />
Divulgação<br />
Alceu Amoroso Lima, conhecido como Tristão de Ataíde<br />
Não passava pela cabeça de nenhum<br />
católico a hipótese de que outro<br />
congregado mariano, ou qualquer<br />
outra congregação ou associação, tivesse<br />
uma intenção desleal, malévola,<br />
anticatólica e estivesse fazendo um<br />
trabalho de sabotagem. A mim mesmo<br />
não ocorria essa ideia. Eu julgava<br />
que havia os católicos, de um lado,<br />
e depois o mundo composto de<br />
homens e mulheres sensíveis à influência<br />
cinematográfica de Hollywood,<br />
às más revistas, à má imprensa em geral,<br />
constituindo, portanto, uma massa<br />
diferente da nossa, não diretamente<br />
em guerra contra nós, mas que nos<br />
via com maus olhos.<br />
Existia, isto sim, um começo de<br />
corrente comunista. Então este era o<br />
grande “dragão”, o principal adversário.<br />
Na realidade, essa grande concórdia<br />
no movimento católico, não conhecendo<br />
inimigos internos, apresentava<br />
um quadro irreal, porque<br />
dos movimentos de esquerda católica<br />
na Europa começavam a chegar<br />
propagandistas apoiados por pessoas<br />
de prestígio nos meios católicos,<br />
como Tristão de Ataíde 2 e numerosos<br />
eclesiásticos, que mandavam vir<br />
essa gente para fundar aqui grupos<br />
que de modo velado queriam espalhar<br />
as ideias esquerdistas.<br />
As doutrinas difundidas pelo Movimento<br />
Litúrgico 3 e pela Ação Católica<br />
4 constituíam os grandes meios<br />
de penetração dessa propaganda velada.<br />
Novas ideias impulsionadas<br />
por moças arrojadas<br />
Habituado a viver nessa atmosfera<br />
de concórdia, notei com muita<br />
simpatia que, em determinado momento,<br />
o ambiente católico de São<br />
Paulo estava se enriquecendo pela<br />
presença de um grupo de moças<br />
provenientes de boas famílias, extraordinariamente<br />
capazes, inteligentes,<br />
e julguei que tinha aparecido<br />
mais uma força definida, decidida,<br />
capaz de lutar a favor da Causa<br />
Católica. Donde então eu as ter acolhido<br />
muito bem e, guardadas as diferenças<br />
que naturalmente deve haver<br />
entre os sexos, ter feito com elas<br />
boas relações.<br />
Porém, ao cabo de algum tempo,<br />
comecei a perceber haver nelas qualquer<br />
coisa de meio esquisito, modernoso,<br />
arrojado, igualitário. Eu não<br />
tinha a sensação de que elas possuíssem<br />
a mentalidade católica.<br />
Contudo, elas procuravam nos<br />
agradar e manter muito boas relações<br />
conosco, que constituíamos o grupo<br />
do Legionário. Eu ficava, até certo<br />
ponto, com desconfianças, mas, de<br />
outro lado, achando que talvez isso<br />
ainda se compusesse. Quiçá um bom<br />
padre, um bom diretor espiritual daria<br />
a elas uma boa orientação.<br />
Começaram a trabalhar em torno<br />
da Ação Católica, apresentada<br />
por elas como uma novidade que<br />
haveria de reformular por completo<br />
os métodos de ação da Igreja,<br />
com uma capacidade extraordinária<br />
de conversão. Eu achava aquilo um<br />
pouco estranho... Algo assim tão extraordinário,<br />
uma espécie de raio<br />
laser em matéria de apostolado, era<br />
esquisito.<br />
A era dos círculos de estudos<br />
Esse grupo de moças não gostava<br />
de promover reuniões em estilo de<br />
conferência e sim círculos de estudos<br />
onde todos opinavam, pois elas<br />
diziam ser inamistosa e até anticristã<br />
uma conferência na qual o conferencista<br />
pretende saber mais do que os<br />
ouvintes e lhes faz sentir isto.<br />
Certa ocasião realizou-se, numa<br />
casa particular alugada por elas, um<br />
círculo de estudos para o qual me<br />
convidaram, e eu fui. Encontrei ali,<br />
entre os participantes, aquele perpétuo<br />
sorrisinho conciliador e superficial.<br />
Fiz algumas perguntas a respeito<br />
das ideias estranhas que se difundiam<br />
entre eles, mas ninguém respondeu.<br />
Tristeza geral no círculo de<br />
estudos. Dias depois, um sacerdote<br />
me procurou e disse:<br />
— <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong>, queria lhe dizer que<br />
seria melhor o senhor não comparecer<br />
aos círculos de estudos. Eu preciso<br />
lhe confiar o efeito que a sua simples<br />
presença causou lá.<br />
— Diga. Qual foi o efeito? Eu realmente<br />
desejo muito conhecer.<br />
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