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Em Defesa da Ação Católica<br />
ouviam-nos e estavam de acordo. E,<br />
por debaixo do pano, até sopravam<br />
essas ideias. Percebi que esses clérigos,<br />
antigamente amigos do Legionário<br />
e meus, iam nos deixando<br />
à margem e colocando<br />
em cargos diretivos o pessoal<br />
dessa nova corrente. Armava-se,<br />
assim, uma verdadeira<br />
conspiração para<br />
introduzir as ideias novas<br />
em lugar das antigas.<br />
Resolvi, então, continuar<br />
a usar a tática de, em<br />
vez de combater, ouvir e<br />
sorrir, levando-os a revelar,<br />
apesar do suposto medo<br />
de mim, a arrière pensée 5 deles.<br />
Quando eu tivesse me informado<br />
bem, tomaria as providências<br />
que as circunstâncias pudessem<br />
comportar.<br />
Com esse objetivo, fui mantendo<br />
o convívio, conversas, gentilezas,<br />
sorrisos, ares feitos para fazer<br />
passar o medo. Diante dos maiores<br />
absurdos, eu não podia concordar<br />
com eles, mas podia perguntar: “Ah,<br />
é, é?!” Em determinado momento,<br />
creio terem pensado que eu estava<br />
meio convertido.<br />
Arquivo <strong>Revista</strong><br />
Infiltração organizada,<br />
apoiada por eclesiásticos<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> num evento das Congregações<br />
Marianas no Rio de Janeiro, em 1937<br />
Dei-me conta, então, de que essa<br />
conspiração tinha caminhado muito<br />
e galgara graus dos mais excelsos na<br />
hierarquia eclesiástica, pouco mais<br />
ou menos a perder de vista.<br />
Quanto ao Movimento Litúrgico,<br />
cuja “cidadela” encontrava-se no<br />
Rio de Janeiro, recebia apoio de um<br />
bom número de monges do prestigioso<br />
mosteiro de São Bento, como<br />
também do Tristão de Ataíde,<br />
homem de total confiança<br />
do Cardeal Arcebispo do Rio<br />
de Janeiro, D. Sebastião Leme<br />
da Silveira Cintra 7 .<br />
Em São Paulo, a Ação<br />
Católica gozava de todo<br />
o apoio do jovem bispo<br />
auxiliar, D. José Gaspar<br />
d’Afonseca e Silva<br />
8 , homem alto, moreno,<br />
com sobrancelhas pretas,<br />
um pouco grossas, que terminavam<br />
num ponto meio<br />
indefinido, olhos pretos, ar<br />
muito sonhador, com umas espécies<br />
de olheiras, um tom de<br />
voz aveludado. Era o contrário do<br />
velho Arcebispo D. Duarte Leopoldo<br />
9 . D. José Gaspar não parecia feito<br />
de granito como aquele, mas de açúcar-cande.<br />
Pessoa assaz política e labiosa,<br />
extraordinariamente atraente,<br />
não muito inteligente, mas com ares<br />
de muito culto, embora não o fosse.<br />
Qualquer assunto de cultura que se<br />
falava em sua presença, ele deitava<br />
um olhar de profunda compreensão,<br />
mas tomando o cuidado de não dizer<br />
nada. Depois, conforme fosse o caso,<br />
Assim, pude constatar que, a partir<br />
de uma espécie de ordem religiosa<br />
clandestina fundada na Bélgica<br />
e trazida para o Brasil por Mademoiselle<br />
de Lhoneux 6 – uma mulher<br />
meio leiga, meio religiosa –, instalara-se<br />
nos meios católicos a mentalidade<br />
que, em matéria de Ação Católica,<br />
correspondia ao que o Movimento<br />
Litúrgico representava em liturgia.<br />
Não tardei a perceber que essa<br />
gente da Ação Católica colaborava<br />
intimamente com os liturgistas e<br />
que esses dois movimentos constituíam<br />
o verso e o reverso de uma só<br />
realidade, embora uns não falassem<br />
muito a respeito dos outros.<br />
Posse de <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> como presidente da Junta Arquidiocesana<br />
da Ação Católica, em 12 de maio de 1940<br />
Arquivo <strong>Revista</strong><br />
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