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II. Horizonte carregado de oposições e ameaças<br />
Mas o que os lábios<br />
não proferiam, os olhos<br />
diziam. O olhar era sumamente<br />
complacente,<br />
amável, como quem me<br />
dava a entender, assim<br />
meio por debaixo do pano,<br />
que ele atuaria.<br />
Voltei para São Paulo<br />
e seguiu-se uma série<br />
de novos encontros com<br />
o Pe. Dainese, com novas<br />
informações de minha<br />
parte, que iam naturalmente<br />
para a Nunciatura.<br />
Nomeação do<br />
Côn. Mayer como<br />
Vigário Geral<br />
De repente chega<br />
a notícia de que estavam<br />
tentando destituir<br />
o Côn. Mayer da função<br />
de assistente eclesiástico<br />
da Ação Católica.<br />
Derrubando-o, derrubavam<br />
a mim. Que eu<br />
perdesse o cargo, não tinha<br />
importância nenhuma.<br />
O católico foi feito<br />
para ser despojado. Mas<br />
a questão era quem viria<br />
no lugar.<br />
Telefonei para o Pe. Dainese.<br />
Contei o caso, ele me disse:<br />
— Está bem, vamos ver o que há<br />
para fazer.<br />
Algum tempo depois, eu estava<br />
dando aula na Faculdade Sedes<br />
Sapientiæ 2 , quando uma freirinha<br />
veio me dizer que havia um padre<br />
do Rio de Janeiro querendo falar<br />
comigo ao telefone, com muita<br />
urgência. Fui “voando” ao telefone,<br />
e ele, sem dizer seu nome, perguntou:<br />
— Como vai passando?<br />
Percebi bem que ele não queria<br />
que desse o nome dele. Eu disse:<br />
— Bem, e o senhor como está?<br />
<strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> com o Pe. Mariaux e alguns membros<br />
do Legionário, na década de 1940<br />
Arquivo <strong>Revista</strong><br />
— Bem. Olhe aqui, se o seu amigo<br />
receber um convite para ser promovido,<br />
diga que não recuse.<br />
— Pode estar certo de que eu digo<br />
para não recusar.<br />
Dois ou três dias depois, o Côn.<br />
Mayer me diz:<br />
— Você não imagina que coisa<br />
curiosa se passou. O Arcebispo me<br />
promoveu. Convidou-me para ser Vigário<br />
Geral da Arquidiocese de São<br />
Paulo. Segundo as instruções do Dainese,<br />
respondi logo que sim.<br />
A Nunciatura, sabendo que D.<br />
José ia demitir o Côn. Mayer, mandou-lhe<br />
um daqueles recados bonitos,<br />
como se faziam naqueles tempos.<br />
Provavelmente foi<br />
assim:<br />
“Sr. Arcebispo, cumprimentando<br />
V. Exa.<br />
com todo respeito e afeto,<br />
tenho a alegria de felicitar-vos<br />
pelo excelente<br />
Assistente Geral da<br />
Ação Católica que V.<br />
Exa., com tanta sabedoria,<br />
designou. Uma pergunta<br />
me passa pela cabeça:<br />
não seria melhor<br />
aproveitar esse ótimo<br />
auxiliar nomeando-o Vigário<br />
Geral?”<br />
Era uma ordem. Porque<br />
naquele tempo as<br />
coisas funcionavam assim.<br />
De maneira que em<br />
vez de vir a degringolada,<br />
veio a promoção.<br />
Era o cargo-chave para<br />
eu poder dar a bombarda<br />
que eu queria.<br />
Um novo e importante<br />
contato: Pe.<br />
Walter Mariaux<br />
Outro sacerdote jesuíta<br />
de quem recebi<br />
importante apoio foi<br />
o Pe. Walter Mariaux,<br />
alemão da Renânia,<br />
descendente de protestantes franceses<br />
expulsos da França por Luís<br />
XIV, mas que não tinha mais nada<br />
do espírito protestante de seus antepassados.<br />
Conhecemo-nos por ocasião de<br />
uma conferência católica a que fui<br />
convidado. Na saída, aproximaram-<br />
-se de mim dois sacerdotes amigos<br />
meus e me apresentaram o Pe. Mariaux<br />
que os acompanhava, dizendo:<br />
— Pe. Walter Mariaux, vindo recentemente<br />
de Roma. Foi Diretor<br />
Mundial das Congregações Marianas<br />
e agora está viajando pela América<br />
do Sul à escolha de um lugar para<br />
se fixar. E nós estamos fazendo<br />
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