edição de 17 de abril de 2023

enTreviSTA
Sergii DenySenko
CEO global da MGID
MeTA É ApoiAr
oS publiSherS
e porTAiS
ucrAniAnoS
Propor conexões com audiências por meio de
tecnologia contextual e tecnologia privacyfirst
para anúncios publicitários no âmbito
digital é uma das expertises da ucraniana
MGID, que tem inventário próprio de publishers
(portais de notícias premium). Segundo o CEO da
empresa, Sergii Denysenko, a invasão da Rússia ao
seu país causou muitos problemas, mas transferiu a
sede para Santa Mônica (EUA) e tem operação em São
Paulo e outros 12 países, em 70 idiomas. Sergii mora
na Itália e mantém operação na Ucrânia, na capital
Kyiv, com foco em inteligência e desenvolvimento.
Paulo Macedo
Como o conflito armado na Ucrânia
interferiu na gestão do negócio?
Desde o fim de 2021, tivemos
conversas sobre a possibilidade
da invasão, mas o cenário de
uma guerra dessa magnitude
parecia ser completamente ilógico
e impossível. De qualquer
maneira, nos preparamos para
diferentes cenários a depender
do desenrolar da situação. A
MGID é uma empresa global e,
enquanto a maioria dos nossos
times de negócios ficam alocados
próximos aos clientes, o
time de tecnologia e o back-office
ficam sediados na Ucrânia.
Essa descentralização nos ajudou
a manter a nossa capacidade
operacional na íntegra. Não
mudamos absolutamente nada
na parte técnica, já que usamos
uma rede de servidores bastante
resistente sem presença física
na Ucrânia. Mas, servidores
e software não são nada sem
as pessoas e os nossos colaboradores,
que representaram a
parte mais importante do planejamento.
Criamos um plano de
evacuação com base em diferentes
cenários, mas nenhum deles
incluía mísseis atingindo áreas
residenciais na capital. Dois dias
antes da invasão, nós também
reservamos todos os quartos em
hotel na zona oeste do país, o
que nos ajudou a realocar nossos
colaboradores para áreas
seguras e providenciar todo o
suporte necessário para o seu
bem-estar. Apesar da guerra em
andamento, o nosso comprometimento
com os clientes permaneceu
firme.
A empresa deixou a Ucrânia?
O número total de colaboradores
ucranianos na MGID é
de 489, com aproximadamente
120 vivendo atualmente fora
do país. Esse número foi praticamente
o dobro em março do
ano passado, o que significa que
aproximadamente 50% dos colaboradores
ucranianos foram
forçados a deixar suas casas e
irem para outros países. No entanto,
com o passar do tempo,
enquanto Kyiv resistia à invasão
russa, nossos colegas começaram
a voltar para casa. Então,
naturalmente, o escritório de
Kyiv ainda está funcionando
normalmente. Na verdade,
quando os militares russos começaram
a atacar a infraestrutura
de energia da Ucrânia, em
novembro de 2022, o escritório
chegou até a ficar lotado novamente,
pois o equipamos com
geradores, um Starlink e baterias,
além de termos feito um
estoque com fornecimento de
água e montarmos um local para
tomar banho. Fazer reuniões e
encontros no escritório traz uma
sensação de normalidade (mesmo
que seja a curto prazo) à nossa
equipe que está na Ucrânia,
apesar dos apagões regulares
e bombardeios de mísseis (de
qualquer forma, antes mesmo
da invasão, já trabalhávamos
com o modelo home office).
Como trata o mercado ucraniano?
Provamos ser resilientes, focados
em nossos negócios, e até
mesmo capaz de crescer durante
esse período turbulento na
Ucrânia. O mesmo aconteceu
com diversas empresas ucranianas.
O mercado ucraniano
de publicidade digital caiu 42%
em 2022 por causa da eclosão da
guerra. Mas está se recuperando
gradualmente – as empresas
estão encontrando novas maneiras
de operar, explorando
novos mercados e se adaptando
rapidamente às mudanças e circunstâncias
operacionais. Para
apoiar os publishers e portais
ucranianos, a MGID tem compartilhado
90% de seus ganhos
com eles, cobrando apenas pelos
custos operacionais.
A Rússia era um grande mercado
para a MGID?
A empresa era líder como plataforma
de recomendação de
conteúdo nativo na Rússia, mas
fizemos questão de encerrar todas
as operações com o país desde
o princípio da invasão, assim
como paramos de trabalhar com
todos os publishers russos.
Uma medida foi romper com a russa
SemRush?
Encerramos nossas operações
na Rússia, assim como fizeram
diversas empresas ucranianas
e globais. Até agora quase mil
companhias restringiram ou retiraram
operações. Nós também
nos certificamos que não usamos
nenhum produto ou serviço
com origem russa (Tilda, Convead,
Unisender, Semrush etc.).
As empresas devem pensar duas
vezes antes de manter “os negócios
como sempre” na Rússia. A
era da mídia digital trouxe uma
transparência sem precedentes,
com as marcas sendo flagradas –
e denunciadas – de forma muito
mais fácil do que era antes. Manter-nos
fiéis e alinhados aos nossos
valores como marca é uma
questão ética muito importante
para toda a empresa.
Como usou o inventário que mantinha
na Rússia?
Tínhamos espaços de anúncios
em praticamente 80%
dos portais russos de notícias.
Então, como maneira de combater
a desinformação sobre a
guerra, a MGID uniu forças com
mais de 50 empresas, incluindo
o Ministério Ucraniano de
Transformação Digital e a IAB
Ucrânia, para lançar campanhas
contra fake news e falar sobre
a situação atual da Ucrânia. Os
anúncios traziam à tona a verdade
sobre o que estava acontecendo
na Ucrânia, derrubando o
argumento usado por Putin de
que era apenas “uma operação
militar especial” e revelando
fatos reais como o número de
soldados designados. Durante o
período da campanha, tivemos
mais de 83 milhões de interações
com as peças.
O conhecimento da marca MGID
cresceu depois do conflito?
A nossa presença já era relevante
no mercado global AdTech,
assim como na imprensa
(Exchange Wire, Business Insider,
Ad Exchanger, Martech
etc.), o que nos possibilitou
atrair várias empresas globais de
publicidade e tecnologia que nos
abordaram com propostas cooperativas
para comunicar nossa
carta aberta à indústria e combater
a propaganda russa de forma
voluntária.
12 17 de abril de 2023 - jornal propmark