edição de 17 de abril de 2023
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MERCADO<br />
Fragmentação digital tirou o bordão<br />
<strong>de</strong> cena na criação publicitária<br />
Frases e expressões em comerciais que caíam no gosto popular e se<br />
tornaram clássicas são cada vez mais raras na propaganda brasileira<br />
Pedro Yves<br />
Os bordões saíram <strong>de</strong> moda na publicida<strong>de</strong>?<br />
Primeiramente, vale esclarecer que<br />
o bordão nada mais é do que uma frase ou<br />
expressão que caiu no gosto popular. Mas<br />
a impressão que se tem é que o bordão na<br />
propaganda “tomou Doril... e sumiu”. Ao<br />
longo <strong>de</strong> décadas, os criativos brasileiros<br />
criaram bordões a partir <strong>de</strong> paródias <strong>de</strong> expressões<br />
populares que se tornaram clássicos.<br />
Quem não se lembra <strong>de</strong> frases e expressões<br />
que marcaram época como “Não<br />
é assim uma Brastemp”, “Bonita camisa,<br />
Fernandinho”, “51, uma boa i<strong>de</strong>ia”, “Skol<br />
<strong>de</strong>sce redondo”, “1001 utilida<strong>de</strong>s”, entre<br />
tantas outras guardadas na memória popular<br />
que hoje quase não se ouve mais na<br />
mídia? Essas frases marcantes tinham alta<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se fixar na mente das pessoas<br />
e aumentar o share of mind da marca ou<br />
produto.<br />
O bordão geralmente aparecia em comerciais<br />
nos canais <strong>de</strong> TV aberta, em spots<br />
<strong>de</strong> rádio e em anúncios impressos, ou seja,<br />
seu espaço era a mídia tradicional. Agora,<br />
na era das re<strong>de</strong>s sociais, as marcas, agências<br />
e profissionais <strong>de</strong> social media monitoram<br />
os assuntos mais discutidos no<br />
Twitter para bolar posts <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong><br />
que gerem os famosos “likes” e compartilhamentos,<br />
ou virar um meme replicado<br />
via internet.<br />
“O bordão tem sido cada vez menos<br />
utilizado por conta, em gran<strong>de</strong> parte, das<br />
mudanças no nosso comportamento e na<br />
forma como consumimos mídia. Com o<br />
aumento da disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações<br />
e o acesso à internet, passamos a ter<br />
mais opções e nos tornamos mais críticos<br />
e refinados em relação à publicida<strong>de</strong>. As<br />
mensagens <strong>de</strong> marketing precisam ser<br />
mais sutis e menos invasivas para captar<br />
nossa atenção. Além disso, as re<strong>de</strong>s sociais<br />
e as plataformas digitais oferecem novas<br />
formas <strong>de</strong> interação com as marcas, que<br />
po<strong>de</strong>m ser mais eficazes do que um simples<br />
bordão”, diz Ricardo Miller, diretor<br />
<strong>de</strong> criação da Oliver. “Com uma distribuição<br />
mais dividida <strong>de</strong> mídia, a construção<br />
<strong>de</strong> um bordão leva mais tempo e esforço.<br />
Importante também é a consistência e<br />
continuida<strong>de</strong> das marcas ano após ano na<br />
mesma direção”, completa Laura Esteves,<br />
VP <strong>de</strong> criação da DM9.<br />
Washington Olivetto, um dos mais famosos<br />
publicitários brasileiros e craque<br />
no assunto bordões, não resume a questão<br />
O ator Carlos Moreno interpretou diversos personagens em campanhas da Bombril criadas pela DPZ nos anos 1970<br />
“O bOrdãO tem sidO cada<br />
vez menOs utilizadO pOr<br />
cOnta, em gran<strong>de</strong> parte,<br />
das mudanças nO nOssO<br />
cOmpOrtamentO e na fOrma<br />
cOmO cOnsumimOs mídia”<br />
Reprodução<br />
à fragmentação digital e põe o <strong>de</strong>do numa<br />
ferida da publicida<strong>de</strong> atual ao comentar o<br />
sumiço das frases antológicas nos comerciais:<br />
“existiam gran<strong>de</strong>s bordões quando<br />
existiam gran<strong>de</strong>s conceitos, criados e trabalhados<br />
por gran<strong>de</strong>s talentos. Sem gran<strong>de</strong>s<br />
talentos, não existem gran<strong>de</strong>s conceitos,<br />
muito menos gran<strong>de</strong>s bordões. O<br />
resto é algoritmo”.<br />
O PROPMARK ouviu a opinião <strong>de</strong> diversos<br />
profissionais brasileiros sobre o tema.<br />
Leia os <strong>de</strong>poimentos nas páginas 16 e <strong>17</strong>.<br />
14 <strong>17</strong> <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2023</strong> - jornal propmark