v22. n22 2024
Revista do curso da fotografia do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco
Revista do curso da fotografia do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco
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Datas redondas.
Há 140 anos, nascia o poeta paraibano
Augusto dos Anjos, morto há 110 anos.
Poeta de difícil catalogação, até hoje,
pode-se dizer que seu interesse pela
natureza (o termo tem várias acepções
em sua obra) como, por exemplo,
nestes versos de “Tristezas de um
quarto minguante”: Pelos respiratórios
tênues tubos/ Dos poros vegetais, no
ato da entrega/ Do mato verde, a terra
resfolega/ Estrumada, feliz, cheia de
adubos.
“A árvore da Serra” é um dos seus
sonetos mais conhecidos.
Um poema “ecológico”, escrito
em um tempo onde ainda
não se falava de ecologia.
Bem a calhar nos lembrarmos
dele diante deste ensaio de
Girleide Germana.
a árvore
da serra
— As arvores, meu filho, não têm alma!
E esta arvore me serve de empecilho.
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!
— Meu pai, porque sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pôs almas nos cedros... no junquilho.
Esta arvore, meu pai, possui minh’alma!
— Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa:
“Não mate a arvore, pai, para que eu viva!”
E quando a arvore, olhando a patria serra,
Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!
do livro Eu de Augusto dos Anjos (1884-1914),
publicado em 1912
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