INTRODUÇÃONo século 19, a bióloga inglesaAnna Atkins construiu seuensaio Photographs of BritishAlgae (Atkins, 1843) e crioupela primeira vez um livroque continha um processofotográfico. Neste livro elarepresenta a flora marinhada região onde morava,mimetizando as algas através dacianotipia. A técnica no século19 também foi amplamenteutilizada em processos dereprodutibilidade das artes ecópias de documentos, desdeblueprints na arquitetura, designde objetos, biologia, engenharianaval entre outros. O pigmentoazul Prússia feito através daunião de ferricianeto de potássioe citrato de ferro quando expostoà radiação UV mimetiza o objetoa ser revelado, trazendo afotografia ou fotograma atravésde um processo que pode serfeito em casa com poucosequipamentos.O INDIVÍDUO NEOLIBERALATOMIZADO NA FOTOGRAFIANo século 21, vivemos um processoautomatizado da fotografia;celulares, câmeras digitais einteligência artificial colocam afotografia nas mãos do sujeitoatomizado que perde o contato comas ruas e o coletivo. A produçãofotográfica lentamente fica cadavez mais resumida e automática,deixando o fotógrafo numa posiçãoonde ele perde a chance de vivera construção da fotografia, acidade, a natureza e os meios queenvolvem a produção fotográfica.A insegurança pública e a violênciana região metropolitana tornaram oRecife e suas ruas um lugar hostilpara a fotografia. Muitas vezesdeixamos de registrar a cidade porconta do medo, seja pelo receiode ser assaltado e/ou apenas porum imagético popular onde arua é um lugar onde não se deveestar, e muito menos estar comequipamentos fotográficos.“…a racionalidade neoliberal esvaziao lugar da cidadania , atomizando aconsciência política do sujeito que passaa se reduzir à esfera privada. Essaconformação do sujeito neoliberal constituiuma peça-chave para compreender deque maneira o neoliberalismo pode sertomado como uma máquina de produção deprecariedade” (Alves, 2020)A violência registrada pelafotografia dos grandes veículos decomunicação alimenta ainda maiso imagético coletivo de que nãodevemos estar nas ruas. Terminaassim calando a fotografia produzidapor aqueles que não são detentoresdos meios de produção ou grandescanais de comunicação, deixandoassim a narrativa fotográfica nasmãos da publicidade ou grandesjornais e TVs. Desta forma, nasredes sociais, TVs e celulares temosuma invasão de marcas, locais eelementos que representam a cidadeem locais privados, deixando asruas, praças e espaços públicosmarginalizados no imagético popular,contribuindo ainda mais para queos significados das fotografiasproduzidas sejam meramentecomerciais ou em ambientes fechadose particulares, retratando a família,comidas e eventos privados. Ocelular, a inteligência artificial e osaplicativos trazem para o indivíduoatomizado pelo neoliberalismo aprecarização do lazer e da interaçãocom o coletivo, afastando aspessoas dos locais públicos, praças,transportes coletivos, naturezae de toda e qualquer vivência doTerceiro Lugar. Entendemos aquio Terceiro Lugar todo e qualquerlugar de interação que não sejamlocais de trabalho privado ou nossaprópria casa, locais onde podemoster relações sociais com pessoas quenão sejam diretamente relacionadas anossa vida pessoal.30
2. Pata de Vaca- Bauhinia forficata(Piedade, Jaboatão dos Guararapes- PE). Cianotipia, Papel A4, 60g31