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Gosto da ideia de visões distintas,menos engessadas, das fotógrafas.Olho aqui as fotografias dasmoças para essa edição e se notaclaramente que são visões diferentes,dentro de uma ideia mais ou menosconsensuadas.Em breve Amara e Ignus estarãoexpondo, em projeto da designerNathalia Amorim. O projetoparticipa de editais e hoje, diadesta entrevista, 22 de março, otrabalho de conclusão de Nathaliaacaba se ser aprovado com nota10, com louvor, pelo Centro deArtes da Universidade Federalde Pernambuco, com indicação aparticipar de prêmios e congressosde design colaborativo. A exposição,claro, se chama “Caos”.ignusSim, nós entramos em consensosobre o “Caos”, pois é algo quevivemos em nossas vidas enquantofotógrafas, é o que nos chamaatenção.amaraO caos que falamos é puramente oreal pelo real, a gente registra semmaquiar a realidade, isso paraalguns pode ser visto como o caos,mas o caos está mesmo na falta deacesso, na falta de políticas públicasefetivas, na falta do básico paraviver.ignusDe modo muito simples, o belo nãonos atrai. Queremos fogo, queremossujeira, retratar a violência e, acimade tudo, representações reais docotidiano.amaraSim. A fotografia em si é bastantebranca e elitista, a minha vivênciana fotografia já se torna puro caos,em uma perspectiva de não lugar.Por isso escolhemos o tema devivência no caos, pois precisamosser honestas com o mundo em quevivemos.ignusRetratá-lo de maneira bela e falsanão está de acordo com nossaconduta.As vozes, textos, pensamentosse misturam mais. São mentesdiferentes:amaraTemos até características muitopróprias e distintas de linguagem etécnica, mas nossa visão e filosofiasão muito compartilhadas, o quefacilita nossa comunicação e porisso o trabalho flui tão bem.ignusMinha narrativa aborda temasque remetem ao underground, aoartista de rua, periférico, faveladoe aos projetos realizados na cidade.Procuro viabilizar canais para queos artistas possam ter lugar de fala,de forma independente, a minhacaminhada já se faz há alguns anosnesse ritmo.Saímos do teatro e seguimos parapegar um ônibus. Ignus se afastoupara fumar. Nem precisava... Amaralia em voz alta um livro imaginário.Acho que falava sobre o começo desua formação acadêmica, na Unicap.amaraDesde meu ensino médio, sempre fuimuito politizada, e atenta em quemeu era, é necessário na verdadeque seja assim, principalmente porperceber que o caminho que eu vejopara mim não faz parte de umatrajetória linear. Ser fotógrafa éuma escolha não convencional parameu contexto. Fiz o vestibular daUnicap e ter conseguido a bolsa deestudos foi uma grande realização,mesmo em meio caos da pandemia81