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v22. n22 2024

Revista do curso da fotografia do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco

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“A partir dessa profunda

reflexão sobre a sociedade

contemporânea, Beiguelman

nos faz pensar e discutir

acerca da sociabilidade,

da tecnologia e da cultura

atuais, abrindo um campo

de olhar a fotografia não

apenas como elemento

de registro do cotidiano e

momentos especiais, mas

como instrumento de poder e

controle, que permite ampla

vigilância do comportamento

das pessoas.

p. 125) alerta que o racismo

algorítmico ocorre “porque o

universo de dado que construiu

reflete a presença do racismo

estrutural da indústria e da

sociedade às quais pertence e que

o expandem em novas direções”.

Neste sentido, surgem novas formas

de exploração do trabalho e de

preconceito que atende a interesses

econômicos e políticos na relação

da exploração racial-colonial ainda

existente. Importante salientar

que, nesta perspectiva, as imagens

digitais não apenas registram e

apresentam os referentes com a

devida iluminação, mas carregam

metadados, que contém informações

como geolocalização, tipo de

equipamento, local, data e técnica

fotográfica, o que faz com que exista

uma imagem expandida acerca de

dados na captura das cenas.

Memória Botox trata sobre a cultura

das redes que possibilita registrar

o cotidiano desenfreadamente,

gerando um volume de dados imenso

que serve a diversos usos com

intencionalidades várias (sobretudo

capitalistas, pois quase tudo está

à venda), mas que ao mesmo

tempo não consolida um arquivo

para estudos históricos. Esse big

data é fortemente alimentado

por registros que estão além da

captura do momento, pois após os

dispositivos absorverem luz, há uma

grande quantidade de aplicativos

para retocar, modificar, alterar,

realçar e “embelezar” as imagens.

Tudo isso com a finalidade de

obter informações para refinar os

algoritmos. Beiguelman (2021, p.

145) afirma que “o processamento

das imagens, em todos, é feito por

técnicas de deep learning por meio

de redes neurais, transferindo

estilos e comportamentos para as

imagens. Para tanto, dezenas de

milhares de imagens são usadas

para treinar os algoritmos que dão

cor, movimento e profundidade às

fotos e vídeos que inserimos em seus

servidores”. Dados esses que servem

para impulsionar o consumo e a

remixagem dos produtos culturais,

entre outros.

No último ensaio, Políticas do ponto

br ao ponto net, a questão da era do

Antropoceno é tratada através da

pandemia causada pela covid-19, que

causou uma crise política-econômicacultural

global gerando imagens

impactantes como hospitais lotados,

covas coletivas em cemitérios,

descarte de máscara inadequado,

abrindo um novo parâmetro de

visualidade com elementos de

biocontrole do corpo, que precisou

ficar confinado e vigiado. Políticos

se aproveitaram do momento de

diversas formas, inclusive com a

construção e remodelação de sua

imagem, tanto de forma positiva

(pedindo que a população se proteja)

quanto negativa (como atitudes

de necropolítica e descaso com a

população). “Internacionalmente

conhecido como um centro produtor

e irradiador de memes, o Brasil

tornou-se, com o coronavírus, não

apenas símbolo da pior política

de gestão da pandemia, mas uma

verdadeira Memeflix” (beiguelman,

2021, p. 184).

A partir dessa profunda reflexão

sobre a sociedade contemporânea,

Beiguelman nos faz pensar e discutir

acerca da sociabilidade, da tecnologia

e da cultura atuais, abrindo um campo

de olhar a fotografia não apenas como

elemento de registro do cotidiano

e momentos especiais, mas como

instrumento de poder e controle,

que permite ampla vigilância do

comportamento das pessoas. A obra

é um alerta de que os mecanismos de

inteligência artificial e plataformização

possibilitam ser utilizados para

diversos fins, portanto devem servir

para o progresso da sociedade de

forma coletiva, não como espaço de

racismo, misoginia e preconceito,

assim os usuários das redes sociais

devem observar com atenção os

conteúdos que aparece em seus perfis,

sobretudo publicitários, e serem

críticos e céticos diante dos fatos.

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