v22. n22 2024
Revista do curso da fotografia do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco
Revista do curso da fotografia do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco
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O TERCEIRO LUGAR COMO
ESPAÇO DE CONVIVÊNCIA
“o terceiro lugar é coração
da vitalidade social de uma
comunidade” (Oldenburg, 1989).
É como se vivêssemos a revolução
do indivíduo. As pessoas parecem
não querer mais interagir, formar
grupos, partidos, dialogar, viver a
cidade em seu coletivo. A ideologia
do Self Made Man toma conta da
fotografia, atomizando o ser humano,
fragmentando o coletivo, trazendo
a fotografia para uma negação da
cidade, de todo e qualquer interação
que possa gerar algo coletivo, feito
nas ruas, nas praças, bosques e locais
públicos na cidade.
Proponho com este ensaio não só
uma releitura da obra da Anna
Atkins utilizando a flora e a fauna
e os espaços públicos da RMR, mas
também uma proposta para que o
morador da Região Metropolitana do
Recife saia à rua e registre a cidade.
Aqui temos um registro de plantas,
insetos, lugares e pessoas feito no
Recife e na região metropolitana
em diversos terrenos baldios,
praças, canteiros, parques e outros
interstícios na cidade.
Agora, mais de 100 anos após os
primeiros ensaios da Anna Atkins
o processo fotográfico mudou e se
automatizou. O retorno ao passado
que proponho aqui faz com que o
indivíduo do século XXI atomizado
pelos processos tecnológicos e pelo
neoliberalismo econômico encontre
“O espaço público no Brasil se
consolida não como espaço de encontro,
da convivência social, como lugar
privilegiado para o exercício da
cidadania, para a prática do respeito a
um outro discurso mas, sim, como mero
espaço de circulação. ”(Leitão, P; 108)
nas ruas de sua cidade a natureza e
o coletivo. Esta natureza e paisagens
que encontrei nestes locais,
alterados ou não pelo ser humano,
podem me colocar num processo de
descobrimento da cidade onde moro
e de seus moradores, da vegetação e
das ruas da capital pernambucana.
CONCLUSÕES FINAIS
Para criar estas fotografias ou
fotogramas, como gosto de chamar
(visto que em alguns registros não
há uma câmera fotográfica para a
execução), é necessário caminhar
pela cidade, por seus terrenos, por
seus bairros, cruzar com moradores
de diversas regiões. Ação que nos
leva a vivência de um Terceiro Lugar
fora da nossa vida social, onde para
recolher essa vegetação e imagens
foi preciso caminhar pela cidade,
relacionarse com pessoas de diferentes
classes sociais, diferentes bairros,
moradores de ruas, comerciantes,
populares, pedestres, garis, todo tipo
de diversidade social, todo tipo de
locais não privados, colocando a rua e
sua natureza como um Terceiro lugar
de convivência social.
O processo de fotografia alternativo
nos dá a oportunidade de não só
registrar a flora e a fauna de onde
moramos como fez a Anna Atkins,
mas de viver a cidade como um
local coletivo, de descoberta e
de trocas. Há nas fotografias do
ensaio um aspecto urbano, mesmo
aos registros da natureza, criamos
um vínculo entre os indivíduos e o
espaço público com a vegetação da
RMR, despertando um olhar sobre a
A botânica e fotógrafa inglesa Anna Atkins
(1799-1871) teve acesso a uma câmara
fotogrática em 1841
cidade e o coletivo não com medo da
violência, mas com empatia e prazer
de caminhar de fazer uma fotografia
que seja ao mesmo tempo urbana e
coletiva. As ruas da RMR, que para
a maioria das pessoas faz parte de
um imagético violento e de abandono,
é colocada por este ensaio como
um local de abundância de espécies
de plantas, animais e pessoas.
A interação entre indivíduos,
caminhadas longas e observações de
cada fenda, cada terreno, cada vaso
de plantas para possamos encontrar
objetos para criar estas imagens,
servem como um convite para que
as pessoas ocupem a cidade, saiam
às ruas, saiam de seus núcleos
atomizados, isolados e participem de
um Terceiro Lugar fora das bolhas
sociais da internet, sem nenhuma
automatização. O uso de uma técnica
passada para fazer uma experiência
no presente.
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