v22. n22 2024
Revista do curso da fotografia do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco
Revista do curso da fotografia do curso de Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
editorial
todas as almas
brasileiras
Se você acha que as grandes dúvidas entre fotógrafos
se limitam a saber se a marca de equipamentos A é
melhor que a marca B, sugiro passar na redação de
Unicaphoto, qualquer dia. Até chegarmos à capa desta
edição, muitas águas rolaram. O centenário do húngarobrasileiro
Thomaz Farkas concorria com o centenário do
Robert Frank (1924-2019). No debate rolou a questão
de técnica, a força da luz e a dureza da sombra, os temas
dos seus documentários, as manipulações fotográficas &
fotomontagens (em Frank) e até certo experimentalismo
& surrealismo (em Farkas), levantado por alguém.
Houve réplica, tréplica, ranger de dentes mas, ao final,
o conselho editorial resolveu dar preferência àquele
que abraçou e ajudou a criar a alma e o imaginário
brasileiro: Thomaz Fark. E que revolucionou nossa
fotografia. O departamento de design, no entanto,
pediu para fazer menção à capa que “não-foi”. E fica
nosso respeito ao trabalho desse outro grande mestre
da fotografia, o suíço Robert Frank.
Mas nem só de efeméride vivem o jornalismo cultural
e as revistas de fotografia. Neste número 22, muitos
temas dariam excelentes capas também.
Você verá: temas como ecologia e meio-ambiente
terminaram formando uma tendência nos artigos e
colaborações em nossa caixa de correios. O tópico
está presente em “Gigantes silenciosos”, de Girleide
Germana da Silva, onde inclusive você pode ler o “poema
ecológico” de Augusto dos Anjos, que também faz data
redonda neste ano; em “Entalhes líquidos”, um ensaio
work in progress de Kari Galvão, sobre rochas e águas
do sertão. Transversalmente, ainda, o tema está em
“Atomizados pela tecnologia e a violência’, no trabalho
de José Arthur Nóbrega de Pontes sobre cianotipia,
que fala, um pouco, da botânica no Recife. Por falar em
tecnologia (e fotografia), esses são assuntos da resenha
de Julianna Nascimento Torezani, para o livro Políticas
da Imagem: vigilância e resistência da dadosfera, da
pesquisadora, Giselle Beiguelm.
Se houver outra palavra-chave para sua
Unicaphoto 22 ela seria: poesia.
Ela passa pelo poema-trípitico-visual de Izabele
Margarida de Oliveira Brito, (“Daqui do Capibaribe”),
que se apoia em imagens do Recife e relembra
João Cabral de Melo Neto. Poesia também é a
chave para “Um haikai, uma imagem”, coordenado
pela professora Catarina Andrade, na disciplina
Literatura, Fotografia e Audiovisual, da pós-graduação
“As narrativas contemporâneas da fotografia e do
audiovisual”, desta Unicap, onde vários autores e
autoras experimentam a correlação entre a palavra
escrita e a imagem.
Mais poesia resume o ensaio de Renata Victor sobre
os profetas do Aleijadinho, em Congonhas, Minas
Gerais. O ensaio é costurado por texto da poeta Cecília
Meireles (1901-1964); e crônica do poeta Mário de
Andrade (1893-1945) na qual se ressente de o Brasil
não reconhecer a genialidade de Antônio Francisco
Lisboa (1738-1814), o Aleijadinho.
A gente estava se organizando para falar de outro tema
alto desta edição.
Em entrevista exclusiva, as artistas visuais Juliana
Amara [Amara] e Ignus [Thalyta Tavares] falam para
Unicaphoto qual é mesmo a delas. E como veem e
vêm ao mundo. Do centro para fora. Da periferia para
dentro. Alunas da formação e, agora, da pós-graduação
da Unicap, seu trabalho tem forte acento e atuação
sociais. as fotógrafas atuam na periferia do Recife
e região metropolitana auxiliando na comunicação
de coletivos e artistas da “nova” e invisível cena do
audiovisual, do teatro, da dança, da poesia, em meio ao
caos do Recife. É comum vê-las no centro da cidade,
na velha Boa Vista, ou em Peixinhos, ou no morro da
Conceição, em ação, discutindo o caos, para além da
filosofia. São um tipo de mecenas sem grana, mas com
um grande tesouro que é a capacidade de interpretar e
mudar o mundo. Coletivamente. “Tudo misturado”.