“A partir dessa profundareflexão sobre a sociedadecontemporânea, Beiguelmannos faz pensar e discutiracerca da sociabilidade,da tecnologia e da culturaatuais, abrindo um campode olhar a fotografia nãoapenas como elementode registro do cotidiano emomentos especiais, mascomo instrumento de poder econtrole, que permite amplavigilância do comportamentodas pessoas.p. 125) alerta que o racismoalgorítmico ocorre “porque ouniverso de dado que construiureflete a presença do racismoestrutural da indústria e dasociedade às quais pertence e queo expandem em novas direções”.Neste sentido, surgem novas formasde exploração do trabalho e depreconceito que atende a interesseseconômicos e políticos na relaçãoda exploração racial-colonial aindaexistente. Importante salientarque, nesta perspectiva, as imagensdigitais não apenas registram eapresentam os referentes com adevida iluminação, mas carregammetadados, que contém informaçõescomo geolocalização, tipo deequipamento, local, data e técnicafotográfica, o que faz com que existauma imagem expandida acerca dedados na captura das cenas.Memória Botox trata sobre a culturadas redes que possibilita registraro cotidiano desenfreadamente,gerando um volume de dados imensoque serve a diversos usos comintencionalidades várias (sobretudocapitalistas, pois quase tudo estáà venda), mas que ao mesmotempo não consolida um arquivopara estudos históricos. Esse bigdata é fortemente alimentadopor registros que estão além dacaptura do momento, pois após osdispositivos absorverem luz, há umagrande quantidade de aplicativospara retocar, modificar, alterar,realçar e “embelezar” as imagens.Tudo isso com a finalidade deobter informações para refinar osalgoritmos. Beiguelman (2021, p.145) afirma que “o processamentodas imagens, em todos, é feito portécnicas de deep learning por meiode redes neurais, transferindoestilos e comportamentos para asimagens. Para tanto, dezenas demilhares de imagens são usadaspara treinar os algoritmos que dãocor, movimento e profundidade àsfotos e vídeos que inserimos em seusservidores”. Dados esses que servempara impulsionar o consumo e aremixagem dos produtos culturais,entre outros.No último ensaio, Políticas do pontobr ao ponto net, a questão da era doAntropoceno é tratada através dapandemia causada pela covid-19, quecausou uma crise política-econômicaculturalglobal gerando imagensimpactantes como hospitais lotados,covas coletivas em cemitérios,descarte de máscara inadequado,abrindo um novo parâmetro devisualidade com elementos debiocontrole do corpo, que precisouficar confinado e vigiado. Políticosse aproveitaram do momento dediversas formas, inclusive com aconstrução e remodelação de suaimagem, tanto de forma positiva(pedindo que a população se proteja)quanto negativa (como atitudesde necropolítica e descaso com apopulação). “Internacionalmenteconhecido como um centro produtore irradiador de memes, o Brasiltornou-se, com o coronavírus, nãoapenas símbolo da pior políticade gestão da pandemia, mas umaverdadeira Memeflix” (beiguelman,2021, p. 184).A partir dessa profunda reflexãosobre a sociedade contemporânea,Beiguelman nos faz pensar e discutiracerca da sociabilidade, da tecnologiae da cultura atuais, abrindo um campode olhar a fotografia não apenas comoelemento de registro do cotidianoe momentos especiais, mas comoinstrumento de poder e controle,que permite ampla vigilância docomportamento das pessoas. A obraé um alerta de que os mecanismos deinteligência artificial e plataformizaçãopossibilitam ser utilizados paradiversos fins, portanto devem servirpara o progresso da sociedade deforma coletiva, não como espaço deracismo, misoginia e preconceito,assim os usuários das redes sociaisdevem observar com atenção osconteúdos que aparece em seus perfis,sobretudo publicitários, e seremcríticos e céticos diante dos fatos.62
work in progressentalheslíquidosum ensaio em andamentoKari Galvão63