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Medicina e Religião - História da Medicina

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anteontem, Lister, Pavlov, Oswaldo Cruz, Fleming) etc,<br />

etc, haviam prestado a mais lídima homenagem - em<br />

compromisso com os princípios que a mesma figura<br />

simbolizava. A ela chamaram bioética, informando-se<br />

os linguistas de que podiam dicionarizar a forma. E,<br />

subitamente, o nosso dia a dia de leitores mais ou<br />

menos atentos ao complicado cosmos <strong>da</strong> investigação<br />

médica surge potenciado pela arremeti<strong>da</strong> de<br />

expressões como: “princípios éticos”, “exigências<br />

éticas”, “controlo ético”, “eticamente reprovável”,<br />

“eticamente neutro”, “eticamente aceitável”, “ética<br />

científica”... Outro tipo de investi<strong>da</strong>s paralizava-nos o<br />

sangue. Um sábio afirmava algures mais ou menos<br />

isto: “Sinto enorme orgulho nos benefícios que a<br />

medicina moderna trouxe a milhões de seres, mas<br />

não posso esconder que esse facto teve como<br />

consequência o crescimento insustentável <strong>da</strong><br />

população do globo, com o seu cortejo de sofrimento<br />

e de miséria”. Em consequência: vivam as guerras !!!.<br />

E um outro não só colocava o dedo mas esmagava a<br />

própria feri<strong>da</strong> ao dizer que (e lembramos de cor) o<br />

custo enorme de certas inovações como o coração<br />

artificial irá trazer delicados problemas de justiça social.<br />

De justiça, isto é: de injustiça, dizemos nós.<br />

No singular desalinho que anuvia nos nossos dias a<br />

atmosfera <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana e considerando a<br />

impossibili<strong>da</strong>de de se corporizar uma generaliza<strong>da</strong>,<br />

universal, ético-cracia (a palavra é de Daniel Serrão)<br />

dota<strong>da</strong> de poder real, resta-nos acreditar no<br />

aniquilamento dos desvios (sempre ilegítimos e<br />

inimigos <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de humana) e no triunfo <strong>da</strong><br />

legitimi<strong>da</strong>de - na ciência e em tudo o mais. Conta-se<br />

que a deusa Esperança perdeu a sua quali<strong>da</strong>de de<br />

divina porque quis baixar à Terra e entregar-se ao<br />

mundo dos homens, trocando a sua eterni<strong>da</strong>de no<br />

além pela deseja<strong>da</strong> condição de nossa companheira<br />

e junto a nós (e permitam-me que me cite) “rescender<br />

no silêncio de lágrimas verti<strong>da</strong>s”.<br />

A ela rezemos então para que a medicina do futuro<br />

seja (e estou a parafrasear não sei bem quem) a<br />

educação, a prevenção, a higiene, o saneamento do<br />

meio, a água potável, a alimentação e a habitação<br />

adequa<strong>da</strong>s, a vacinação e a escolari<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

crianças.<br />

Tanto se fala hoje em preocupações éticas, em<br />

cui<strong>da</strong>dos de saúde diferenciados e primários... Eu,<br />

masculino e feminino, sou tão somente um dos<br />

milhões e milhões com direito aos cui<strong>da</strong>dos de saúde,<br />

direito que se ramifica aliás em outros direitos: o<br />

respeito pela minha autonomia como pessoa, o direito<br />

de ser informado acerca de, etc, etc... O meu<br />

entendimento acaba aí. Do resto ignoro a mensagem.<br />

A bioética, julgo configurar-se no seu ‘agir’ como<br />

uma estrutura pirami<strong>da</strong>l que tem o seu cume e a sua<br />

base de aplicação respectivamente (e como exemplo)<br />

no mais sofisticado e misteriosos laboratório e no mais<br />

recôndito hospital ou centro de saúde de uma periférica<br />

região. No cimo e na base, uma manobra de<br />

intervenção sobre o ser humano é leva<strong>da</strong> a efeito. Do<br />

que se passa no ‘alto’, e uma vez que não se encontra<br />

em vigor o tal poder ético-crático, vamos humildemente<br />

revestindo e conformando a nossa inquietação com o<br />

verde <strong>da</strong> esperança... Cá por baixo, e na perspectiva<br />

<strong>da</strong> nossa ignorância de utentes, a ética (sem bio, por<br />

redun<strong>da</strong>nte) torna-se naturalmente uma espécie de<br />

enti<strong>da</strong>de comezinha, sinónimo de simpatia, de interesse<br />

por, de comportamento médico fraterno. E ‘isto’<br />

nos bastará.<br />

* Escritor<br />

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