Medicina e Religião - História da Medicina

Francisco, que nascera em 1826 e viera residir na
Madeirã em meados do século XIX, onde foi
Presidente da Junta de Paróquia, Regedor e Bandeira
da Confraria de Santo António, sucederam alguns dos
seus filhos, Guilherme Barata Dias (1858) Francisco
Barata Dias (1866) e António Barata Dias da Silva
(1880-1959) o último Barbeiro Sangrador da Madeirã
que, simbólicamente, fez a ponte com a Medicina do
Século XX, sendo ajudante do primeiro Médico que
veio assistir semanalmente ao povo da freguesia. O
seu espólio bibliográfico e de seu primo residente na
Cava, Alfredo Barata Dias da Silva Girão (1881-1967)
hoje na posse dos herdeiros, documenta a fonte de
estudo que acompanhou a prática desta antiga
profissão.
Entre outras obras, a História das Plantas da
Europa, e das mais usadas que vem de Ásia, de África
& da America, da autoria de Joaon Vigier, foi editada
em Lion, em 1718. Este francês, que publicou
Thesouro Apollineo, estabelecera em Lisboa uma casa
para venda de drogas medicinaes e preparações
pharmaceuticas, tendo traduzido para o português o
referido catalogo de plantas, um texto poligloto e
dotado de desenhos, um para cada espécie, com
indicação das propriedades curativas, local e época
adequada para recolha das plantas.
Outro livro existente na Madeirã, a Ilustração Médica,
datada de 1762 e da autoria do médico da côrte,
Duarte Rebello de Saldanha, a par das reflexões
médico-cirúrgicas adequadas ao seu tempo, refere
aspectos climáticos das províncias portuguesas e sua
influência nas populações, citando os males
específicos da Beira e os perigos no uso da Quina e
do recurso frequente à Sangria. No espólio dos
Barbeiros Sangradores, recordamos entre outras
obras, a Cirurgia Clássica Lusitana, Anatomica,
Pharmaceutica, Medica, de António Gomes Lourenço,
que aborda aspectos do corpo humano e suas partes,
o tratamento de feridas, contusões e tumores, e
esclarece sobre os cuidados a aplicar para
conservação dos corpos, nos “sufrágios dilatados”. E
ainda, o exemplar muito manuseado da Arte de se
curar a si mesmo nas Doenças Venereas, pelo Conde
de Liancourt, e o Manual de Saude ou Medicina e
Pharmacea Domesticas, por François Raspail, editado
em 1851, e que inclui um capítulo sobre Veterinária,
muito proveitoso no isolado meio rural. Na terapêutica
recorriam também à Pharmacopeia Portuguesa,
editada em 1876 e coordenada por douta comissão
presidida por Bernardino António Gomes.
No âmbito deste vasto conhecimento, associamos
o exemplar encontrado na Igreja Matriz da Madeirã,
antiga sede da Junta de Paróquia de que Francisco
Barata Dias foi Presidente, o Socorro Delphico ou
Medicina Lusitana de Mirandella, edição póstuma da
obra do Dr. Francisco da Fonseca Henriques (1665-
1731) médico de D. João V.
Esta resenha histórica provém do trabalho colectivo
realizado para escrever a monografia, Madeirã
Freguesia Serrana da Beira Baixa, editada
recentemente pelo Grupo de Amigos da Freguesia da
Madeirã, trabalho que tive a honra de coordenar.
* Investigadora
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