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Medicina e Religião - História da Medicina

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alguns historiadores dizem existir entre Henriques de<br />

Paiva e António Nunes Ribeiro Sanches, como sabemos<br />

figura cimeira <strong>da</strong> medicina portuguesa conhecido<br />

dentro e fora de Portugal.<br />

Aos sete anos de i<strong>da</strong>de o jovem Manuel Joaquim<br />

Henriques de Paiva foi para o Brasil. Com dezoito<br />

anos, em 1770, consegue o diploma de boticário. De<br />

início não terá sido a arte farmacêutica a matéria que<br />

mais o cativou. Os estudos botânicos foram o objecto<br />

principal <strong>da</strong> sua curiosi<strong>da</strong>de, muito provavelmente<br />

influenciado pela diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> flora brasileira. Dois<br />

anos depois, Henriques de Paiva troca o Brasil por<br />

Portugal, fixando-se em Coimbra para tirar o curso de<br />

medicina na Universi<strong>da</strong>de que entretanto havia passado<br />

pela reforma considera<strong>da</strong> a mais marcante de to<strong>da</strong> a<br />

sua história.<br />

A sua enorme capaci<strong>da</strong>de de iniciativa fez-se sentir<br />

logo desde os primeiros tempos de permanência em<br />

Coimbra. No bairro de Celas, onde passou a residir,<br />

fundou a Socie<strong>da</strong>de de Celas ou Socie<strong>da</strong>de dos<br />

Mancebos Patriotas, que Henriques de Paiva e seus<br />

colegas pretendiam que fosse uma Socie<strong>da</strong>de científica.<br />

Os seus principais objectivos eram “a divulgação<br />

<strong>da</strong> ciência, dos métodos científicos, <strong>da</strong>s novas doutrinas,<br />

dos combates entre o novo e o her<strong>da</strong>do.<br />

Em suma, tinham como alvo difundir junto do mais<br />

vasto público possível a mentali<strong>da</strong>de científica que<br />

começava a impor-se e a rivalizar com a mentali<strong>da</strong>de<br />

religiosa, teológica e metafísica do passado”.<br />

Desde logo se deve sublinhar o interesse de<br />

Henriques de Paiva pela divulgação <strong>da</strong> ciência,<br />

particularmente <strong>da</strong> medicina, o que veio a ser um<br />

denominador comum em to<strong>da</strong> a sua vi<strong>da</strong>.<br />

Foi bacharel em Filosofia pela Facul<strong>da</strong>de de Filosofia<br />

em 1775 e formou-se em medicina em 1781. Entre<br />

1773 e 1777 foi demonstrador de química e de história<br />

natural na Facul<strong>da</strong>de de Filosofia. Divergências fortes<br />

para com as autori<strong>da</strong>des académicas ocasionaram o<br />

abandono do cargo que ocupava.<br />

Em 1777 trocou Coimbra por Lisboa. Neste ano e<br />

no ano seguinte, mesmo com o curso médico<br />

incompleto, iniciou o exercício <strong>da</strong> medicina em Lisboa<br />

e na Caparica.<br />

Ocupou diversos cargos na administração sanitária<br />

portuguesa, tendo sido médico <strong>da</strong> Casa Real;<br />

encarregado <strong>da</strong> administração do armazém e <strong>da</strong> botica<br />

<strong>da</strong> Marinha Real; deputado <strong>da</strong> Real Junta do<br />

Protomedicato; nomeado professor <strong>da</strong> cadeira de<br />

farmácia cria<strong>da</strong> em Lisboa em 1801. Em Lisboa<br />

desenvolveu intensa activi<strong>da</strong>de científica, de divulgador<br />

e activi<strong>da</strong>de clênica. Era membro <strong>da</strong> Academia Real<br />

<strong>da</strong>s Ciências de Lisboa.<br />

Henriques de Paiva teve também significativo<br />

protagonismo político. Foi Fi<strong>da</strong>lgo <strong>da</strong> Casa Real,<br />

Cavaleiro Professo <strong>da</strong> Ordem de Cristo, Censor Régio<br />

<strong>da</strong> Mesa do Desembargo do Paço mas as relações<br />

que manteve com os franceses na época <strong>da</strong>s invasões,<br />

alia<strong>da</strong>s às suas ideias liberais e maçónicas impuseram<br />

a Henriques de Paiva o abandono de Portugal e a<br />

retira<strong>da</strong> para o Brasil espoliado dos títulos, honras e<br />

cargos que recebera. Decorria o ano de 1809. Mais<br />

tarde, em 1818 veio a recuperar esses títulos. Na<br />

colónia portuguesa Henriques de Paiva teve uma<br />

acção directa no movimento que levou à independência<br />

do Brasil. Faleceu a 10 de Março de 1829.<br />

Henriques de Paiva: ciência e divulgação<br />

46<br />

... extensa a obra escrita de Manuel Joaquim<br />

Henriques de Paiva. Foi autor, tradutor e divulgador<br />

de obras científicas. A<strong>da</strong>ptou obras estrangeiras para<br />

o nosso país.<br />

São mais de cinquenta os seus trabalhos publicados<br />

muitos deles grossos volumes. Teve significativo papel<br />

editorial em publicações periódicas; a partir de 1788,<br />

foi re<strong>da</strong>ctor do Jornal Encyclopedico.<br />

Traduziu e a<strong>da</strong>ptou obras de história natural de autores<br />

como Scopoli, Lineu e Brisson. Por exemplo refiram-se<br />

a Divisão methodica dos animaes mammaes,<br />

conforme a distribuição de Scopoli (1786), a Divis, o<br />

methodica dos quadrupedes, conforme o methodo de<br />

mr. Brisson (1786), a Divisão methodica <strong>da</strong>s aves,<br />

conforme o methodo de Scopoli (1786), os<br />

Fun<strong>da</strong>mentos botanicos de Carlos Linneo (1807).<br />

No domínio <strong>da</strong> química, assinale-se, por exemplo,<br />

a publicação por Manuel Joaquim Henriques de Paiva<br />

<strong>da</strong> Philosophia Chimica, ou ver<strong>da</strong>des fun<strong>da</strong>mentais<br />

<strong>da</strong> chimica moderna, dispostos na nova ordem por A.<br />

F. Fourcroy (1801; 1816); <strong>da</strong> obra de sua autoria Memoria<br />

Chimico-Agronomica (1787), etc.<br />

Entre os textos médicos e farmacêuticos podemos<br />

distinguir três grandes grupos: as suas obras originais,<br />

traduções e, ain<strong>da</strong>, a edição de obras de autores<br />

estrangeiros muitas <strong>da</strong>s quais aumenta<strong>da</strong>s e<br />

a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s. Podem assinalar-se, por exemplo, os<br />

Elementos de Chimica e Pharmacia (1783; 1786), a<br />

Farmacopéa Lisbonense (1785; 1802), Memorias de<br />

Historia Natural, de Chimica, Agricultura, Artes e<br />

<strong>Medicina</strong> (1790), Pharmacopeia Collegii Regalis<br />

Medicorum Londinensis (1791), Curso de <strong>Medicina</strong><br />

Theorica e Pratica, destinado para os Cirurgiões que<br />

an<strong>da</strong>m embarcados, ou que não estu<strong>da</strong>ram nas<br />

Universi<strong>da</strong>des (1792), Instituições ou Elementos de<br />

pharmacial (1792), Exposição sobre os meios<br />

chimicos de purificar o ar <strong>da</strong>s embarcações (1798),<br />

Reflexões sobre a communicação <strong>da</strong>s enfermi<strong>da</strong>des<br />

contagiosas por mar (1803), Bosquejo de Physiologia,<br />

ou sciencia dos phenomenos do corpo humano no<br />

estado de saude (1803), Pharmacopea Naval (1807),<br />

Memoria sobre a excellencia, virtudes e uso medicinal<br />

<strong>da</strong> ver<strong>da</strong>deira agua de Inglaterra <strong>da</strong> invenção do<br />

doutor Jacob de Castro Sarmento, actualmente<br />

prepara<strong>da</strong> por José Joaquim de Castro (1815).

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