Medicina e Religião - História da Medicina
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Mensagem esta conti<strong>da</strong> numa pasta de madeira<br />
indígena embuti<strong>da</strong>.<br />
No modesto brinde referido na mensagem, uma<br />
magnífica taça de prata, pode ler-se a inscrição:<br />
Ao Dr. CARLOS FRANÇA, a Madeira agradeci<strong>da</strong>.<br />
Epidemia colérica 1910-1911.<br />
E a Junta Geral do Funchal oferece um esplêndido<br />
tabuleiro de prata onde podem ler-se as palavras: Ao<br />
Doutor CARLOS FRANÇA - A Junta Geral do Funchal,<br />
em nome do Distrito agradecido -1911<br />
O filho de Carlos França, António Mazziotti França<br />
nasce a 12 de Setembro de 1904 e morre a 15 de<br />
Dezembro de 1971, legando ao Centro Hospitalar de<br />
Coimbra, em testamento outorgado em 14 de Junho<br />
de 1971, folhas 24 a 28 do livro de testamentos<br />
públicos, número 61 do Cartório Notarial <strong>da</strong> Mealha<strong>da</strong>,<br />
dois microscópios que foram pertença de Carlos<br />
França, o retrato a óleo de seu pai executado em<br />
1912 por Veloso Salgado, um tabuleiro de prata rectangular,<br />
tendo grava<strong>da</strong>s as palavras: “Ao Doutor<br />
CARLOS FRANÇA - A Junta Geral do Funchal em<br />
nome do Distrito agradecido - 1911“; e uma taça de<br />
prata, na qual se encontram grava<strong>da</strong>s as palavras:<br />
“Ao Dr. CARLOS FRANÇA, a Madeira agradeci<strong>da</strong>.<br />
Epidemia colérica 1910 - 1911“, objectos legados ao<br />
dito Centro Hospitalar e confiados à guar<strong>da</strong> <strong>da</strong> Obra<br />
de Assistência Materno-Infantil Doutor Bissaya<br />
Barreto, dirigi<strong>da</strong> à <strong>da</strong>ta pelo Dr. José dos Santos<br />
Bessa, grande amigo do testamenteiro, e com a<br />
condição dos ditos objectos se destinarem a um<br />
Museu, concretamente o <strong>da</strong> Ciência e <strong>da</strong> Técnica,<br />
em fase de instalação.<br />
O filho de Carlos França frequentara a Escola de<br />
Regentes Agrícolas de Coimbra, tendo sido<br />
condiscípulo do Dr. José dos Santos Bessa, que além<br />
de médico era regente agrícola, com quem manteve<br />
sempre contactos e a antiga amizade, <strong>da</strong>í as<br />
disposições testamentárias, e é o próprio Santos<br />
Bessa, amigo pessoal do Prof. Doutor Mário Silva,<br />
que recolhe na Quinta de Colares os valores indicados.<br />
Destinar-se-iam ao Museu Nacional <strong>da</strong> Ciência e <strong>da</strong><br />
Técnica, como de facto veio a suceder, a 10 de Outubro<br />
de 1975, conforme Declaração do Professor Doutor<br />
Mário Augusto <strong>da</strong> Silva, à <strong>da</strong>ta Presidente <strong>da</strong> Comissão<br />
de Planeamento do Museu Nacional <strong>da</strong> Ciência e <strong>da</strong><br />
Técnica, com sede em Coimbra, na rua dos Coutinhos<br />
n° 23, pois que em ofício de 14/03/75, o Presidente<br />
<strong>da</strong> Comissão Instaladora do Centro Hospitalar de<br />
Coimbra, Dr. Carlos Alberto R. Santana Maia,<br />
respondendo ao ofício n° 23/75 de 24/02/75 do<br />
Presidente <strong>da</strong> C.I. do M.N.C.T. informa: “Informamos<br />
V. Exa. que a Comissão Instaladora do Centro<br />
Hospitalar de Coimbra não vê qualquer inconveniente<br />
em confiar à guar<strong>da</strong> do Museu Nacional <strong>da</strong> Ciência e<br />
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<strong>da</strong> Técnica, os microscópios que pertenceram ao<br />
cientista Carlos França e que lhe foram legados.<br />
Antes, pelo contrário, se tem como do maior interesse<br />
a iniciativa de V. Exa., uma vez que a exposição<br />
<strong>da</strong>queles objectos, recor<strong>da</strong>ndo quem deles se serviu<br />
a bem <strong>da</strong> Saúde Pública constitue naturalmente, uma<br />
justa homenagem”.<br />
Justa homenagem que em 1976, o Professor Mário<br />
Silva, Director do Museu, procurava prestar não só<br />
com a exposição dos valores históricos referidos mas<br />
também através <strong>da</strong>s “Publicações” do Museu,<br />
infelizmente interrompi<strong>da</strong>s após o seu falecimento,<br />
ocorrido em 1977.<br />
Pensamos que todo este espólio se encontra<br />
actualmente em depósito, aguar<strong>da</strong>ndo a utilização<br />
adequa<strong>da</strong>. A exposição do material referido e<br />
disponível, de incontestável valor histórico e científico,<br />
bem como de fotografias, manuscritos, bibliografia<br />
(activa e passiva) seria próprio de uma boa política<br />
patrimonial.<br />
Sendo a palavra-chave de to<strong>da</strong> a recente revolução<br />
dos Museus, a palavra ALARGAMENTO, a exposição<br />
do espólio de Carlos França, nome prestigioso <strong>da</strong><br />
Ciência Portuguesa e que se encontra<br />
indissoluvelmente ligado à história <strong>da</strong> Madeira,<br />
permitiria a qualquer Museu atingir esse Alargamento<br />
e aos visitantes do Museu enriquecerem os seus<br />
conhecimentos e a sua sensibili<strong>da</strong>de. O visitante<br />
deveria sentir-se sempre “mais feliz à saí<strong>da</strong> do que à<br />
entra<strong>da</strong>”, precisamente por ter enriquecido os seus<br />
conhecimentos.<br />
Consideremos também que sectores ignorados até<br />
à <strong>da</strong>ta são hoje em dia considerados dignos de<br />
pertencer ao património cultural.<br />
Só assim um Museu cumprirá a missão para que<br />
foi criado, pois que “a ver<strong>da</strong>deira riqueza de um Museu<br />
está no uso que o Homem dele faz e não apenas no<br />
valor dos objectos que nele estão expostos” (palavras<br />
de Alpha Oumar Konaré, presidente do ICOM, Lisboa,<br />
1990).<br />
* Investigadora. Socie<strong>da</strong>de de Estudos do Século XVIII.