10.01.2013 Views

Paulo de Tarso: Grego e Romano, Judeu e Cristão - Universidade ...

Paulo de Tarso: Grego e Romano, Judeu e Cristão - Universidade ...

Paulo de Tarso: Grego e Romano, Judeu e Cristão - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Paulo</strong> Sérgio Ferreira<br />

Pelo séc. XVIII se prolongou, <strong>de</strong> um modo geral, o esforço <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>monstração do carácter infundado da lenda, mas o séc. XIX assistiu a um<br />

reflorescimento da i<strong>de</strong>ia da conversão <strong>de</strong> Séneca ao Cristianismo. Para isso,<br />

muito contribuíram duas obras <strong>de</strong> fôlego: uma da autoria <strong>de</strong> Amedée Fleury,<br />

intitulada Saint Paul et Sénèque. Recherches sur les rapports du Philosophe avec<br />

l’Apotre et sur l’infiltration du Christianisme Naissant (Paris 1853) – que<br />

sugeriu a perda do epistolário autêntico, a que se referiam os Padres da<br />

Igreja, e a atribuição a um monge do séc. IX ou X do contrafeito que nos<br />

chegou; continuou a notar as semelhanças entre o pensamento <strong>de</strong> Séneca e o<br />

<strong>de</strong> <strong>Paulo</strong> (cf., p. ex., Bouillet et al. 1829); registou coincidências biográficas<br />

passíveis <strong>de</strong> proporcionarem um contacto directo ou indirecto entre ambas<br />

as personagens; e, ao cabo, concluiu pela influência do Cristianismo<br />

em Séneca 40 ; e outra <strong>de</strong> Johannes Kreyher (L. Annaeus Seneca und seine<br />

Beziehungen zum Urchristentum, 1887), que, a cada passo da obra <strong>de</strong> <strong>Paulo</strong>,<br />

vislumbrava a influência senequiana (e.g. 2Ts 2.1-12, o anticristo seria Nero,<br />

e o katechon Séneca) 41 .<br />

Da refutação <strong>de</strong> Fleury se encarregaram Ch. Aubertin, em Étu<strong>de</strong> critique<br />

sur les rapports supposés entre Sénèque et Saint Paul (Paris 1857), que sustentou<br />

a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a correspondência ter sido forjada no séc. IV, 42 e, já no<br />

séc. XX e na esteira <strong>de</strong> Aubertin, Sevenster, que cuidadosamente reexaminou<br />

as afinida<strong>de</strong>s encontradas por Fleury entre Séneca e <strong>Paulo</strong> <strong>de</strong> <strong>Tarso</strong> para<br />

chegar à conclusão <strong>de</strong> que se encontram ao serviço <strong>de</strong> duas mundividências<br />

completamente diferentes.<br />

Ao consi<strong>de</strong>rarmos as diversas edições da correspondência e os vários estudos<br />

que no séc. XX se publicaram sobre o assunto, <strong>de</strong>paramos com investigadores<br />

que a consi<strong>de</strong>raram apócrifa (Barlow, 1938, 1; Momigliano, 1950, 333; Palagi,<br />

1978, 10-11; Natali, 1995, 96); outros que, embora a tenham consi<strong>de</strong>rado<br />

apócrifa, não <strong>de</strong>ixaram, baseados sobretudo na vida <strong>de</strong> Séneca e na <strong>de</strong> <strong>Paulo</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Tarso</strong>, na cronologia das cartas e em dados <strong>de</strong> natureza arqueológica, <strong>de</strong> notar<br />

uma evolução senequiana, ditada pelo Estoicismo, <strong>de</strong> uma hostilida<strong>de</strong> inicial<br />

e familiar, para certa tolerância relativamente ao Cristianismo, mesmo sem a<br />

assumir expressamente na sua obra poética e filosófica (Scarpat, 1977, 112 e<br />

142; Herrmann, 1979, 5 e 10-17); outros que procuram aduzir argumentos<br />

que sustentassem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o epistolário, na totalida<strong>de</strong> ou em gran<strong>de</strong><br />

parte, ser autêntico (Franceschini, 1981, 827-31; Ramelli, 1997, 301 e 310);<br />

e, por fim, os que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram mais convictamente o carácter genuíno da<br />

correspondência (Gamba, 1998, 209-250).<br />

É, por conseguinte, altura <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rarmos os argumentos <strong>de</strong> natureza<br />

160<br />

40 Colhi esta informação em Sevenster, 1961, 2.<br />

41 Sobre o assunto, v. Scarpat, 1977, 113-114; e Natali, 1995, 79.<br />

42 Sobre o assunto, v. Scarpat, 1977, 113-114; e Natali, 1995, 79.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!