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Paulo de Tarso: Grego e Romano, Judeu e Cristão - Universidade ...

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<strong>Paulo</strong> Sérgio Ferreira<br />

viagem para a Índia. 49 É possível que as viagens <strong>de</strong>ste período e/ou o contacto<br />

com a comunida<strong>de</strong> judaica local e/ou com a <strong>de</strong> Roma tenham proporcionado<br />

a Séneca alguma da informação utilizada na elaboração <strong>de</strong> De superstitione, 50<br />

tratado <strong>de</strong> que nos dão conta os Padres da Igreja, sobretudo Agostinho, e on<strong>de</strong><br />

Séneca consi<strong>de</strong>raria vários cultos orientais, entre os quais o Judaísmo.<br />

Mas se dos contactos senequianos com o Judaísmo ainda encontramos<br />

ecos relativamente seguros na obra senequiana citada pelos Padres da Igreja, já<br />

no que concerne a um eventual contacto com o Cristianismo não <strong>de</strong>paramos<br />

com qualquer indício absolutamente irrefutável em obra senequiana <strong>de</strong><br />

autenticida<strong>de</strong> insuspeita. Resta, por conseguinte, consi<strong>de</strong>rar o círculo <strong>de</strong><br />

amigos e conhecidos do Filósofo para ver se, por esse meio, po<strong>de</strong>ria ter<br />

conhecido <strong>Paulo</strong> <strong>de</strong> <strong>Tarso</strong> e o Cristianismo.<br />

No propósito <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar uma evolução mais ou menos oscilante <strong>de</strong> uma<br />

hostilida<strong>de</strong> primordial e familiar <strong>de</strong> Séneca para certa tolerância relativamente<br />

ao Cristianismo, ditada pelo estoicismo, começou Herrmann por consi<strong>de</strong>rar<br />

as lendas sobre os vários tipos <strong>de</strong> relações entre diversas personagens pagãs e<br />

o Cristianismo; as catorze epistulae Senecae ad Paulum aut Pauli ad Senecam,<br />

em cuja autenticida<strong>de</strong> o investigador não acredita; e o epitáfio <strong>de</strong> Séneca, que,<br />

conforme o próprio Herrmann conclui, «est monothéiste, mais sans trace <strong>de</strong><br />

christianisme.» 51 Em seguida, aduziu Herrmann, como forma <strong>de</strong> conciliar Mt<br />

2.13-18 com Lc 2.21, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jesus se não ter apresentado no templo<br />

<strong>de</strong> Jerusalém, mas no <strong>de</strong> Onias em Leontópolis, que, por sua vez, ficava perto<br />

<strong>de</strong> Heliópolis, on<strong>de</strong> se dizia que a fénix costumava nascer e perecer e que fazia<br />

parte <strong>de</strong> uma região <strong>de</strong> on<strong>de</strong> proviria o livro pseudo-sibilino lançado a 19<br />

d.C., pouco posterior à morte <strong>de</strong> Germânico e <strong>de</strong> forte pendor messiânico,<br />

que Séneca teria conhecido no Egipto, e segundo o qual, no termo <strong>de</strong> um dos<br />

49 Fleury, 1853, I 155-6<br />

50 Três foram, <strong>de</strong> acordo com Rodrigues, 2007, 38 ss., os momentos mais importantes<br />

da emigração judaica para o Egipto: o <strong>de</strong>scrito nos livros do Génesis e do Êxodo, com as<br />

figuras <strong>de</strong> Abraão, José e Moisés; o do hegemonia neobabilónica e do domínio persa (525-<br />

399 a.C.) – os vestígios documentais situam no séc. VII a.C. (período assírio na Palestina) a<br />

ocorrência, no Egipto, dos primeiros sítios judaicos; e o momento <strong>de</strong>corrente das conquistas<br />

<strong>de</strong> Alexandre, nomeadamente após a batalha <strong>de</strong> Gaza, em 312 a.C., e entre 301 e 198 a.C.,<br />

quando a Palestina se encontrava sob domínio político dos Lágidas. À numerosa e po<strong>de</strong>rosa<br />

comunida<strong>de</strong> judaica <strong>de</strong> Alexandria (cf. Fílon, Flacc. 55-56 e Legat. 132) se ficou a <strong>de</strong>ver a<br />

tradução da Bíblia hebraica para grego (versão dos Setenta), a criação <strong>de</strong> textos <strong>de</strong> conteúdo<br />

judaico e <strong>de</strong> forma grega (o romance José e Assenat ou a tragédia Exagoge, <strong>de</strong> Ezequiel), a<br />

filosofia <strong>de</strong> Aristobulo e <strong>de</strong> Fílon, o livro da Sabedoria e, em parte, a obra <strong>de</strong> Flávio Josefo.<br />

Conforme <strong>de</strong>monstrou Kasher, referido por Rodrigues, os ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong> Alexandria lutaram com<br />

os gregos por um políteuma que coexistisse em pé <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> com a polis grega. Em 55 a.C.,<br />

foram os Ju<strong>de</strong>us que, por intermédio <strong>de</strong> Pelúsio, franquearam as portas da cida<strong>de</strong> a Ptolemeu<br />

XII, e tiveram um papel fundamental na campanha alexandrina <strong>de</strong> Júlio César em 48 a.C. A<br />

presença <strong>de</strong> Ju<strong>de</strong>us em Roma – que se não organizaram em políteuma – remonta pelo menos<br />

à anexação da Itália e às Guerras Púnicas.<br />

51 Herrmann, 1979, 17.<br />

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