Paulo de Tarso: Grego e Romano, Judeu e Cristão - Universidade ...
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<strong>Paulo</strong> <strong>de</strong> <strong>Tarso</strong>: em torno da origem<br />
significar «cidadão», mas apenas «membro <strong>de</strong> um πολίτευμα» 31 ? Nesse caso,<br />
<strong>Paulo</strong> po<strong>de</strong> não ter sido cidadão, mas apenas membro da congregação semiautónoma<br />
<strong>de</strong> Ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong> <strong>Tarso</strong>. Aí chegados, alforriados ou emigrados, os pais<br />
<strong>de</strong> <strong>Paulo</strong> po<strong>de</strong>riam ter sido admitidos nesta organização <strong>de</strong> Ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong> <strong>Tarso</strong>, a<br />
ter esta existido. Ora, é precisamente este o problema: a ausência <strong>de</strong> fontes que<br />
corroborem a existência <strong>de</strong> um πολίτευμα na capital <strong>de</strong> Cilícia. De resto, não<br />
fora <strong>Paulo</strong>, nenhum indício teríamos da existência <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> judaica<br />
<strong>de</strong> cidadãos <strong>de</strong> <strong>Tarso</strong>, nem plenos nem «semi-autónomos» 32 .<br />
É claro que <strong>Paulo</strong> po<strong>de</strong> também ter sido cidadão pleno <strong>de</strong> <strong>Tarso</strong> 33 ; um<br />
sobrinho <strong>de</strong> Fílon foi <strong>de</strong> facto cidadão <strong>de</strong> Alexandria ( Jos. AJ 20.100, BJ 2.309,<br />
492, 4.616, Tac. ann. 15.28.4) e um certo Antíoco foi-o <strong>de</strong> Antioquia ( Jos. c.<br />
Apion. 2.38-39). No final do séc. III d.C., os Ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong> Sar<strong>de</strong>s tinham a sua<br />
sinagoga no edifício termal da cida<strong>de</strong> 34 , e, na mesma altura, em Acmoneia na<br />
Frígia, pelo menos dois Ju<strong>de</strong>us <strong>de</strong>sempenharam vários cargos políticos 35 : contudo,<br />
nestes dois casos, estamos já mais <strong>de</strong> duzentos anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>Paulo</strong> e pelo menos<br />
cinquenta anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Caracala. Há também exemplos <strong>de</strong> apóstatas como o<br />
Dositeu do 3º Livro dos Macabeus (3Mac 1.3) ou os «ποτὲ Ἰουδαῖοι» <strong>de</strong> Esmirna<br />
(CIG 3148= IGR 4.1431) 36 . É, pois, admissível que, atestando terem as tais 500<br />
dracmas, <strong>Paulo</strong>, o pai ou um antepassado possam por exemplo ter comprado a<br />
cidadania <strong>de</strong> <strong>Tarso</strong>, como sucedia em Atenas (antes da proibição imposta por<br />
Augusto – Dio Chrys. 54.7) e em outras πόλεις 37 . Esse acto resultaria assim <strong>de</strong><br />
uma vonta<strong>de</strong> consciente em participar na vida política da cida<strong>de</strong>.<br />
Seria esta cidadania compatível com a história <strong>de</strong> Jerónimo/Fócio? Pelo<br />
menos, creio, não seria incompatível: seria possível que os pais <strong>de</strong> <strong>Paulo</strong> se<br />
tivessem instalado em <strong>Tarso</strong> e tivessem <strong>de</strong>pois comprado a cidadania. Terá T.<br />
Zahn razão, e indicará a expressão fuisse translatos do Comentário a Filémon<br />
que <strong>Paulo</strong> e os pais teriam sido levados como escravos para <strong>Tarso</strong>? A ser assim,<br />
no entanto, <strong>Paulo</strong> seria então um liberto, condição <strong>de</strong> que nenhuma das fontes<br />
próximas do Apóstolo permite suspeitar. Pelo contrário, se <strong>Paulo</strong> tiver sido um<br />
liberto, a informação dos Actos, para quem ele já teria nascido cidadão romano,<br />
estará errada.<br />
31 Πολίτης aparece apenas quatro vezes no Novo Testamento (Lc. 15.15, 19.19, Act. 21.39,<br />
Heb. 8.11). Apenas a ocorrência nos Actos dos Apóstolos supõe uma semântica política.<br />
32 Tajra, 1989, 79-80 vai mais longe e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que πολίτης «most likely refers to Paul’s<br />
membership in the resi<strong>de</strong>nt Jewish community at Tarsus rather than to any citizenship in the<br />
Greek πόλις». Contra Rapske, 1994, 76.<br />
33 Nem os Macabeus/Hasmoneus foram capazes <strong>de</strong> porfiar na sua rejeição do Helenismo.<br />
Cf. Goldstein, 1981, 64-87, 318-326; Kraabel, 1982; Levine, 1999; Gruen, 2003.<br />
34 Kraabel, Seager, 1983; e Trebilco, 1991, 37-57.<br />
35 Sobre Acmoneia, veja-se a síntese <strong>de</strong> Trebilco, 1991, 58-84.<br />
36 Kraabel, 1982, 455.<br />
37 Cf. Robert, 1940; Stern, 1987; Hengel, 1991, 100-101, n. 55.<br />
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