IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL
Congresso Imigração em Portugal: Diversidade - Cidadania
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• Motivação<br />
<strong>IMIGRAÇÃO</strong> E DESENVOLVIMENTO<br />
86<br />
Se nos centrarmos nos movimentos por razões evidentemente económicas, a ideia mais<br />
simples que a ciência tem sobre a questão é a clássica hipótese de Harris-Todaro 11 . Este<br />
modelo afirma que a migração tenderá, na ausência de barreiras à mobilidade, a procurar<br />
a igualização dos salários entre as duas zonas. Esta conclusão tem levado muita gente a<br />
repudiar a imigração como contrária aos interesses dos trabalhadores do país anfitrião,<br />
por lhes reduzir os rendimentos. Mas tais atitudes nascem de uma incompreensão do<br />
modelo.<br />
De facto, essa teoria afirma que os migrantes tendem a comparar o salário que recebem<br />
no local de origem (W o ), não com o salário no destino (W d ), mas com o valor esperado<br />
do salário no destino (W d<br />
e ). Este indicador é constituído por vários elementos, cada um<br />
deles com grande importância. O primeiro é, naturalmente, o salário no país de imigração<br />
(W d ). Mas este valor tem de ser multiplicado pela probabilidade de obter emprego<br />
nesse local (p) e descontado do custo de migração (C). Se, como é habitual, a probabilidade<br />
de obter emprego fôr considerada como o complementar da taxa de desemprego<br />
(p=1-u), então vem a fórmula habitual de Harris-Todaro: W o= W d<br />
e =(1-u). W d-C<br />
Os cálculos mostram que, mesmo no caso de se verificar a perfeita equalização (o que<br />
é sempre duvidoso, devido a uma enorme quantidade de barreiras, mais ou menos formais),<br />
permanecem grandes diferenças entre os salários nas zonas de saída e de recepção<br />
de trabalhadores. W d= W o+C<br />
(1-u)<br />
Como se vê, as determinantes dessas diferenças são a taxa de desemprego na zona<br />
desenvolvida e o custo de mobilidade. Além disso, este fenómeno dá-se apenas nos<br />
salários a que concorrem os imigrantes, que são apenas uma pequena parte de todo o<br />
vector salarial da complexa sociedade receptora. E ele assume igualdade de produtividade<br />
entre imigrantes e nacionais, o que nem sempre existe.<br />
O aspecto mais importante de todos é o mais básico. Toda esta abordagem se baseia<br />
na hipótese central da ciência económica, a da racionalidade dos agentes. Os agentes<br />
tendem a ponderar as alternativas e a escolher o caminho que pensam mais adequado às<br />
suas necessidades. Por isso, estes raciocínios contrastam com muitas análises comuns<br />
que, de uma forma ou de outra, partem de um certo grau de irracionalidade dos imigrantes,<br />
seja por desespero, por maldade ou por outras alegadas razões. É, pois, muito<br />
I CONGRESSO - <strong>IMIGRAÇÃO</strong> <strong>EM</strong> <strong>PORTUGAL</strong> [DIVERSIDADE - CIDADANIA - INTEGRAÇÃO]