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Edição 49 - Insieme

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Nem brasileiro, nemitaliano é o título que oprofessor e escritorEugênio Pedro Giovenardi,gaúcho, atuando em SãoPaulo, dá ao texto que oleitor terá o prazer de ler aseguir.Éuma afirmativa quecada um dos sessentamilhões de descendentesno mundo poderiamfazer a partir de seu país.É a Itália dentro do mundo,e o mundo dentro da Itáliano Mundo. Escreve Giovenardi:“Na França, meus colegasde universidade pensavamque eu fosse suíço. Menosmal que existe uma Suíça italianaao lado da alemã e dafrancesa.Nos controles de passaporte,em aeroportos brasileiros,fiscais menos carrancudose com alguma culturageral soletram o sobrenome earriscam: “de origem alemã,americana?”- “Não, italiana”.Ele concluía, talvez, que afisionomia tivesse a ver coma Floresta Negra da Bavieraou com descendentes da máfiade Boston.E quando na Itália, perseguindominhas origens,apresentei-me como brasileiro,neto de imigrantes modeneses,um gesto de desconfiançae um sinal de interrogaçãocobriam o rosto dos interlocutores.- Ma, lei parla italiano.Sim, estudei italiano, comoestudei português para falare escrever.Meus sentimentos sempreestiveram entre o italiano e obrasileiro. Estou sempre entreos dois. Sou uma camadaem transição na qual se confundempercepções e sentimentos.Não posso dizer que tenhauma língua pátria ou materna.Em casa, falava-se ummisto das duas. Por isso, euestudei e aprendi a falar ambas.Minha filha e minhas netas,porém, aprendem a falaro idioma português sem estudá-lo.Mas a língua italiana, comoo amor à música, os rompantesexagerados, a gesticulaçãoque, muitas vezes, émais abundante do que as palavraspara exprimir os pensamentos,o entusiasmo quepassa do riso às lágrimas semcompasso de espera, tudo estáno sangue, tudo fica registradonos arquivos genéticos.E, de repente, a gente se senteitaliano diante de Rafael,da Vinci, Michelangelo.As culturas são a marcada identidade dos povos, nãose destroem mesmo quandoeles desaparecem. A culturaoriginal reaparece, ressurgee, às vezes, se impõe na entoaçãoda voz e das palavras, nogosto artístico, na organizaçãofamiliar, no quadro da parede,no desenho da casa, nareceita culinária.Eu nasci na cultura italianaimersa na placenta de umaoutra cultura nascente.As culturas convivem semse confundir, nem se fusionar.Alemães e italianos têmmarcas profundas no sul dopaís. Penso que o mais significativotraço de identidade,o que me leva instintivamenteàs origens de minha existênciacultural, sem ambigüidades,é o sobrenome.Silva e Giovenardi são nomesque podem não fazer diferençapara mim, mas certamentefarão para o brasilei-SIAMO COSÌidentidade ítalo-brasileiraO ITALQUE EST`ro. A dificuldade que terá emdizer meu nome dá-me umcerto sabor real de excluídoou exilado. E o Silva estranharáainda mais se, em minhajanela, estiver hasteada abandeira do Brasil quando oadversário do futebol for aItália.Por quê?Porque a brasilidade comsua música, seu samba, seuspoetas, seus escritores, suasflorestas misteriosas, seu marde tantas cores, sua fragilidade,suas diferenças, suas desigualdadesvai ocupando espaçosda italianidade.Mas alguma coisa profunda,nebulosa, ressurgirá sempreno meu nome que nasceunos confins da Emilia Romagna,no Ducado de Módena,na velha Etrúria, nos anosde 1579.”Giovenardi aponta duasrealidades culturais, esteiosde sua identidade - a italianidadee a brasilidade. São doishorizontes para olhar e vivero mundo, no prima do universocultural.PROF. ROVÍLIO COSTA,Universidade Federal do RS, ouAcademia Rio-grandense deLetras, por e-mail rovest@viars.netSito: www.viars.com.br/esteditoraFone 051333-61166, Rua VeríssimoRosa, 311 90610-280 PortoAlegre-RSINSIEME JANEIRO • GENNAIO 2003 22

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