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e o aperfeiçoamento técnico dos processos picturais e escultóricos, que se tornava cada vez mais<br />
necessário, e deveria iniciar-se com o desenho e o domínio da figura humana. O projeto pedagógico<br />
objetivava oferecer as condições para o aperfeiçoamento dos alunos e era em tudo semelhante ao<br />
desenvolvimento nas academias italianas. Com um currículo, que compreendia cursos de perspectiva,<br />
anatomia, modelo vivo, teoria da arte e geometria, enfatizava-se a necessidade do domínio da mão, não<br />
mais simplesmente pelo fazer prático, mas pelo desenvolvimento do conhecimento que não eliminava a<br />
exigência da técnica, mas, com ele um novo status era conferido ao artista, apagando aos poucos o<br />
antigo rótulo de artesão que lhe fora outorgado. LUZ, Angela Ancora da. Uma breve história dos<br />
salões de arte da Europa ao Brasil, p. 31-32 .<br />
23 O período que se estende aproximadamente entre a metade do século XVIII e a metade do século XIX é<br />
geralmente subdividido da seguinte maneira: 1) uma primeira fase pré-romântica, com a poética inglesa<br />
do sublime e do horror e com a paralela poética alemã do Sturm und Drang; 2) uma fase neoclássica,<br />
coincidindo grosso modo com a Revolução Francesa e o império napoleônico; 3)uma reação romântica,<br />
coincidindo com a intolerância burguesa às obtusas restaurações monárquicas, com movimentos de<br />
independência nacional, com as primeiras reivindicações operárias entre 1820 e 1850,<br />
aproximadamente.Mas esta periodização não se sustenta por vários motivos: 1) já nos meados do século<br />
XVIII, o termo romântico é empregado como equivalente de pitoresco e referido à jardinagem, isto é, a<br />
uma arte que não imita nem representa, mas, em consonância com as teses iluministas, opera<br />
diretamente sobre a natureza, modificando-a, corrigindo-a, adaptando-a aos sentimentos humanos e às<br />
oportunidades de vida social, isto é, colocando-a como ambiente de vida; 2)as poéticas do “sublime” e<br />
do Sturm und Drang, um pouco posteriores à poética do “pitoresco”, não se opõem, mas simplesmente<br />
refletem uma postura diferente do sujeito em relação á realidade: para o “pitoresco”, a natureza é um<br />
ambiente variado, acolhedor, propício, que favorece nos indivíduos o desenvolvimento dos sentimentos<br />
sociais; para o “sublime”, ela é um ambiente misterioso e hostil, que desenvolve na pessoa o sentido de<br />
sua solidão (mas também de sua individualidade) e da desesperada tragicidade do existir; 3)as poéticas<br />
do sublime que são definidas como proto-românticas, adotam como modelos as formas clássicas (caso de<br />
Blake e Fussili), e assim constituem um dos componentes fundamentais do Neoclassicismo; na medida,<br />
porém, em que a arte clássica é dada com arquétipo da arte, os artistas não a repetem academicamente,<br />
mas aspiram à sua perfeição com uma tensão nitidamente romântica.Pode-se, pois, afirmar que o<br />
neoclassicismo histórico é apenas uma fase do processo de formação da concepção romântica: aquela<br />
segundo a qual a arte não nasce da natureza, mas da própria arte, e não somente implica um pensamento<br />
da arte, mas é um pensar por imagens não menos legítimo que o pensamento por puros conceitos.<br />
ARGAN, G. C. Op. cit., p. 12.<br />
24 N. A. - Aos poucos estas novas tendências vão penetrando na arte realizada pela Academia, inclusive<br />
aqui no Brasil, de maneira que não se pode falar que o Neoclassicismo imperasse absoluto e “puro”<br />
durante todo século XIX dentro do ensino oficial de arte ou nos trabalhos que eram expostos nos salões<br />
oficiais. Havia, inclusive, a possibilidade dos diversos “tipos” para a realização de uma obra tanto nos<br />
projetos arquitetônicos, quanto no caso da escultura e pintura, adequando-os aos seus fins específicos.<br />
Sobre este ponto, afirma Sonia Gomes Pereira: Assim a composição passava a ser entendida como<br />
escolha do artista entre várias soluções possíveis, tomadas dos modelos nobres da tradição européia, que<br />
constituíam uma verdadeira tipologia. Recorrer a essa tipologia não constituía desmérito, nem implicava<br />
plágio, como alguns críticos posteriores acreditaram; ao contrário, significava alinhar-se a uma<br />
tradição memorável, dando-lhe continuidade. O mesmo ocorria em relação à pintura e à escultura, em<br />
que tanto o aprendizado nos ateliês quanto os diversos concursos destacavam a importância de uma<br />
tradição de tipologias compositivas, que entrelaçam soluções formais com gêneros, temáticas e<br />
iconografias. Acreditamos que falte aos estudos atuais sobre as artes plásticas do século XIX maior<br />
compreensão do papel das tipologias. A literatura nesse campo ainda fica muito restrita à discussão de<br />
estilos, ignorando que na prática dos artistas da época, na maioria das vezes, as escolhas eram muito<br />
mais tipológicas do que estilísticas. Essa carência torna-se mais problemática no enfrentamento da<br />
produção do século XIX, quando verificamos que a expansão do sistema de ensino acadêmico ampliou a<br />
divulgação dessa tipologia, praticamente internacionalizando-a. Também na pintura e na escultura, esse<br />
saber era construído e transmitido na prática dos ateliês e, em geral, não foi codificado nem nos tratados<br />
teóricos nem nos escritos dos próprios artistas, como nos de Ingres. PEREIRA, Sonia Gomes. História,<br />
arte e estilo no século XIX, p. 134.<br />
25 Tanto o Academismo convencional, mais ligado às tradições clássicas, quanto o Academismo que<br />
absorveu influxos românticos, realistas e impressionistas, numa visão geral, estão relacionados, pela<br />
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