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3 – Os diversos seres xilográficos que povoam a série Canudos são mais do que<br />
imagens ilustrativas dos principais personagens destacados em Os Sertões –<br />
Antonio Conselheiro, o Jagunço, o Sertanejo, o Soldado, etc. -, eles são criações<br />
autônomas que além de significarem tais personagens também tem vida<br />
própria e independente enquanto criações artísticas. Vem daí a sua<br />
capacidade de não só representarem um personagem particular quanto<br />
alcançarem um nível universal de significância. Deste contexto se originam a<br />
contundência e o estranhamento que podem causar, pois são seres que nascem<br />
das profundezas subconscientes do homem, trazendo à tona muito de seu<br />
primitivismo original.<br />
4 – A harmonia que vemos entre a erudição de Adir e a cultura “simples” do<br />
povo, presente em várias das suas gravuras, acontece porque, como o próprio<br />
artista afirma (capítulo III), não existe fundamentalmente diferença entre o<br />
que vem do mundo “erudito” e o que vem do mundo “popular”, mas existe<br />
sim o bom ou mal resultado plástico – falta de expressividade -, tanto em<br />
um caso como no outro (“a arte é uma só, ou é boa ou é ruim”). Para Adir, a<br />
arte popular representa uma importante fonte de inspiração na qual ele sempre<br />
encontrou muito apoio para as suas criações se tornarem manifestações vivas da<br />
união destes dois mundo que, no final das contas, se associam vencendo as<br />
convenções.<br />
5 – Adir, como gravador de verve expressionista, foi atraído por temas nos quais<br />
estão presentes os dramas mais intensos resultantes das relações humanas<br />
conflituosas. Desta maneira, questões polêmicas que envolvem o fanatismo<br />
religioso, o misticismo, e as alucinações coletivas que emanam deste<br />
fanatismo, assim como o conflito radical entre seres pertencentes à<br />
sociedades antagônicas (como o universo de Canudos versus a recém-criada<br />
República brasileira), a opressão dos mais fortes sobre os mais fracos, o<br />
abandono, a violência das guerras em geral, enfim, toda sorte de assuntos<br />
trágicos que envolvem o homem, servem-lhe como material de trabalho a<br />
ser elaborado por sua criatividade (tudo isso fica subtendido da resposta dada<br />
por Adir à pergunta: Por que Canudos? apresentada no capítulo II, p. 58). A<br />
Guerra de Canudos foi para ele, por este motivo, um tema repleto de<br />
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possibilidades criativas, principalmente por ter sido exposto com tanta