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291 N. A. – Adir estudou no São Bento, colégio pertencente ao Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro.<br />
Lá vivenciou a rígida disciplina de ensino empregada por esta instituição sob rigorosa orientação católica.<br />
Este fato não pode ser ignorado quando se busca entender as escolhas temáticas de Adir, de uma maneira<br />
ou outra envolvidas com questões relacionadas ao transcendental, ao místico, ao religioso. É o que vemos<br />
acontecer nas histórias de Canudos, Pedra Bonita e Caldeirão.<br />
292 N. A. - O professor Adir Botelho, para simplificar, refere-se as suas figuras ou as de outros artistas<br />
como “bonecos” ou “bonequinhos”.<br />
293 N. A. - O professor Adir nos falou de sua “grande felicidade” toda vez que conseguia um resultado<br />
positivo nestas suas experiências, que eram sempre fruto de um trabalho intenso e fisicamente cansativo,<br />
no qual tirava um número muito grande de provas de estado até chegar ao objetivo almejado, cujo<br />
resultado nunca estava definido de antemão. Isto demonstra o quanto, mesmo lançando mão de um forte<br />
racionalismo na construção do seu trabalho, jamais abandonou a sua intuição criadora e sua inclinação à<br />
emotividade expressionista, deixando espaço para que a gravura “conversasse” com ele na medida em que<br />
fosse nascendo na superfície da madeira e sobre as folhas de papel em que as provas iam sendo impressas<br />
sempre à mão.<br />
294 N. A. Adir nos afirmou que, desde suas primeiras xilogravuras, sempre preferiu fazer com tinta<br />
nanquim o lançamento de suas composições sobre as pranchas de peroba ou canela, que por serem muito<br />
grandes assemelhavam-se a painéis para pintura. Esta preferência por este tipo de tinta se devia a sua<br />
fluidez e por não formar camadas como o guache, por exemplo, forma. Tal procedimento advém<br />
claramente do seu aprendizado inicial como pintor e da sua independência quanto aos métodos utilizados<br />
na criação de suas gravuras. O seu apego a esta maneira de dar início ás suas gravuras era tão grande que<br />
ele não fazia qualquer esboço inicial a lápis sobre um caderno de desenho, como Goeldi fazia, preferindo<br />
lançar-se sempre com seus pincéis e tinta nanquim na prancha de madeira, mesmo que tivesse que se<br />
deslocar carregando o peso de suas enormes pranchas para captar in situ alguma cena ou paisagem, como<br />
aconteceu no caso das gravuras da série Catumbi. Com isso, segundo ele, ficaria preservada a emoção do<br />
gesto inicial, coisa que se perderia ao ser feito o transporte do desenho do papel para a madeira, mesmo<br />
porque, segundo o professor cada meio utilizado tem suas próprias características e imposições<br />
particulares, com o que concordamos inteiramente.<br />
295 N. A. - O pincel tinha, segundo nos informou o professor Adir, uma importância muito grande no<br />
lançamento inicial das suas figuras sobre as pranchas. Como a maioria dos pintores, ele também preferia<br />
os pincéis gastos aos novos, principalmente aqueles que já estivessem com as cerdas gastas em linha<br />
diagonal, de maneira que lhe ficava muito mais fácil trabalhar os meios-tons na superfície da madeira,<br />
através do uso da “tinta-seca”, procedimento também conhecido como “esfregaço”, onde o pincel com<br />
pouco tinta é esfregado criando texturas irregulares e muito expressivas. Por este motivo ele também<br />
preferia trabalhar com madeiras não totalmente lixadas, apenas passadas pela máquina do “desengrosso”,<br />
que deixava suas pranchas ásperas e prontas para o lançamento do desenho a pincel, como se fosse a<br />
superfície de uma tela de linho com sua trama e urdidura bastante evidenciadas. Depois, durante a<br />
gravação, o corte produzido pelas goivas e instrumentos estriados buscaria respeitar tais procedimentos<br />
pictóricos utilizados no lançamento inicial do desenho.<br />
296 LUZ, Angela Ancora da. In: BOTELHO, Adir. Canudos xilogravuras, 2002, p. 10.<br />
297 N. A. - Publicado no catálogo da exposição Adir Botelho- Xilogravuras (17 de maio a 24 de junho de<br />
2012) com a seguinte indicação: Memória sobre pedra Bonita ou Reino Encantado na Comarca de Villa<br />
Bella/ Província de Pernambuco, por Antonio Attico de Souza Leite. In: Revista do Instituto Archeologico<br />
e Geographico de Pernambuco. Tomo XI – Recife, 1904).<br />
298 NAVA, Pedro. In: FERREZ, Gilberto. O Rio antigo do fotógrafo Marc Ferrez, 1984. (Encontra-se<br />
em CD com imagens que nos foi cedido para esta pesquisa).<br />
299 N. A. – Na verdade esta gravura não está incluída na série Catumbi, pertencendo às “avulsas”.<br />
Contudo, dada a sua forte relação com aquele bairro, já que representa o interior do atelier que o professor<br />
Adir tinha naquele local, de onde, “através da janela, descortinava toda a paisagem”, achamos que seria<br />
conveniente colocá-la com as outras desta série.<br />
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