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marcados, delimitando e ressaltando as formas humanas desenhadas dentro da correta proporção entre as<br />
partes de acordo com os cânones clássicos estipulados desde os gregos e seguidos a risca nas Academias,<br />
desde que redescobertos pelos artistas do Renascimento. Contudo, nestes trabalhos já não se vê a<br />
idealização como aquela dos tempos do neoclassicismo. Aqui homem e mulher são enxergados<br />
objetivamente como seres corpóreos, concretos, num espaço físico real e não como um tipo ideal de<br />
beleza ou personificados segundo algum personagem da mitologia clássica. Este é o olhar do artista<br />
acadêmico do século XX, herdeiro das modificações que vinham ocorrendo gradualmente no ensino das<br />
artes na Academia desde o século XIX. É uma visão quase científica, porém tocada pela poesia plástica<br />
do desenho e do sensível uso do material, neste caso o carvão e o crayon. Tais materiais também terão um<br />
significado importante na obra de Adir Botelho, assim como o domínio total da representação da figura<br />
humana segundo as qualidades que apontamos acima. É dentro deste contexto que se compreende a<br />
importância para a Academia do ensino do desenho da figura humana, pois ao aprender a ver e a<br />
representar com correção o modelo que tinha diante dos olhos, como fizeram Quirino Campofiorito e<br />
Marques Júnior nestes exemplos, o aluno estaria se capacitando a desenhar com desenvoltura tudo o mais<br />
que visse ou imaginasse. Enfim, estaria na verdade adquirindo um meio, uma base, para se libertar das<br />
dificuldades e inibições e criar livremente. Quanto ao significado da palavra “academia” em relação a<br />
estes exercícios de desenho do modelo vivo, segue a seguinte definição: Assim, segundo nossa opinião, o<br />
termo academia, nesse sentido designaria: desenho, pintura ou escultura realizado como exigência em<br />
disciplinas ou em provas de concursos, representando o corpo humano, masculino ou feminino, em geral<br />
inteiro, completamente nu ou sumariamente vestido, a partir de um modelo vivo, estátua ou moldagem de<br />
gesso, ou ainda desenhos e estampas reproduzindo obras clássicas, sempre com a intenção primordial de<br />
estudar ou demonstrar conhecimento de formas anatômicas por meio de torções, atitudes gestuais, bem<br />
como escorços e proporções, na grande maioria das vezes de modo autônomo, isto é, sem a finalidade de<br />
integrar uma composição. As academias sempre reproduzem uma única figura e, na grande maioria dos<br />
casos, sobretudo quando se trata de academias do natural, os modelos apresentam-se de pé ou sentados,<br />
de frente, de perfil ou de costas, às vezes “forçando” torções com o pescoço, o tronco, os braços e as<br />
pernas, ou seja, executando os chamados tours de force. Exemplos em outras posições, deitados ou<br />
agachados são menos comuns. As academias de modelo vivo convencionais são facilmente identificadas<br />
porque estão ambientadas no espaço de um ateliê e os modelos usam um instrumental característico:<br />
bastões, almofadas e cubos para sentar ou apoiar, suportes em forma de cunha para os pés e cordames<br />
para a sustentação dos braços. As academias masculinas identificavam-se mais com os ideais clássicos e,<br />
conseqüentemente, com o Academismo convencional, ao passo que as femininas tornaram-se mais<br />
comuns com a assimilação de influências românticas, realistas e impressionistas. SÁ, Ivan Coelho de.<br />
Academias modelo vivo: terminologia e tipologia. In: Anuário do Museu Nacional de Belas <strong>Arte</strong>s,<br />
volume I, 2009, p.91,93.<br />
252 N. A. - A característica mais importante do croqui é a de ser um estudo rápido com o qual o artista<br />
delineia uma idéia ou figura que tem diante dos olhos. Nos exemplos destacados, vemos croquis de<br />
modelos femininos e masculinos cujas formas são captadas em poucas linhas de contorno e algumas<br />
sombras hachuradas. No caso das figuras realizadas por Del Negro percebemos, principalmente, a<br />
intenção de captar a graciosidade do movimento feminino em poucos traços de contorno e quase nenhuma<br />
indicação de volume. Já os desenhos de Campofiorito aparentam uma maior solidez, seja pelo estudo<br />
mais aprofundado dos volumes, seja pela linha de contorno bem marcada, o que indica, inclusive, uma<br />
pesquisa estilística mais intensa quanto ao traço. De qualquer forma. Estes croquis apresentam as<br />
características apontadas na fala do personagem “Branco” criado por Adir Botelho: No início o croqui é<br />
absoluto, ele determina o procedimento. (Pausa) – O desenho permite questionar, rever, selecionar, é a<br />
manifestação da personalidade do artista; ele é indispensável para a crítica da arte. (BOTELHO, Adir.<br />
O teatro da gravura no Brasil. RJ: EBA/UFRJ, no prelo). Conforme este pensamento, o croqui funciona<br />
como um ágil instrumento de pesquisa que ajuda o artista a encontrar a melhor forma para expressar-se<br />
através da linha ou da mancha, provocando com isso uma “manifestação de sua personalidade” numa<br />
obra cheia de vitalidade ainda que inacabada. Aliás, muitas vezes um croqui é mais expressivo do que a<br />
obra concluída, justamente por ser espontâneo, sem a marca de um excessivo racionalismo e acabamento.<br />
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