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Sabemos que a existência dessas atividades num meio está condicionada a fatores<br />
sociológicos: culturais e econômicos.<br />
2) Isto posto, perguntemos antes de mais nada: existe no Brasil ambiente para o<br />
problema do ensino das artes plásticas? As atuais condições econômicas do Brasil não<br />
só permitem que esse problema seja tratado (a nação destina numerário para este fim),<br />
mas, até o exigem, tornando-o imprescindível no nosso meio. E é exatamente a maneira<br />
deficiente com que se está cuidando do nosso ensino artístico... e é exatamente por<br />
causa do desequilíbrio existente entre ele e os problemas culturais de nossa época, que<br />
os alunos da ENBA, pelo seu órgão de classe, o Diretório Acadêmico, deram início a<br />
atual campanha (que conta já com o apoio de um número considerável de intelectuais),<br />
de crítica aos processos de ensino presentemente utilizados. É nesse “desequilíbrio”<br />
que tem raízes a nossa campanha.<br />
- ESTÁ A ENBA CUMPRINDO A FINALIDADE A QUE SE DESTINA UMA ESCOLA<br />
DE ARTE, ISTO É, ESTÁ DESENVOLVENDO AS VOCAÇÕES ARTÍSTICAS DE<br />
ACORDO COM AS POSSIBILIDADES DO MEIO CULTURAL?<br />
Bastaria que se considerasse o fato de que as turmas matriculadas anualmente, no 1º<br />
ano, vão gradativamente abandonando a Escola no decorrer dos seus cursos, a ponto<br />
de se tornarem quase inexistentes no final dos mesmos, para que se chegasse á<br />
conclusão da sua ineficácia, do não preenchimento das suas finalidades. E nós que<br />
diariamente lidamos com sues problemas, sabemos que a razão desse acontecimento é<br />
estar o nosso ensino inteiramente fora de sua época... Culturalmente a Escola é<br />
retrógrada, negando todas as idéias novas no campo das artes plásticas... A<br />
conservação de preconceitos já passados são os fins a que se limitam as suas<br />
atividades. As condições materiais, as instalações – “ateliers” e salas de aula são uma<br />
tortura para os órgãos visuais dos alunos. As atividades didáticas: um atentado contra<br />
a pedagogia moderna e um crime contra a natureza do artista. São essas, de maneira<br />
geral as razões da crise atual da ENBA.<br />
A entrevista segue adiante no mesmo tom denunciatório, mas nos limitaremos, para não nos tornarmos<br />
enfadonhos, a reproduzir desta entrevista apenas mais dois curtos trechos. No primeiro vêm listadas três<br />
propostas para mudança no ensino da ENBA que teriam sido feitas pela direção de Lucio Costa em 1931<br />
e não colocadas oficialmente em prática. O segundo trecho apresenta os “princípios” pelos quais lutava o<br />
Diretório Acadêmico nesta ocasião, visando modernizar o ensino da Escola:<br />
Agora, os “princípios”:<br />
TENTATIVA DE REFORMA DE LUCIO COSTA EM 1931.<br />
Nomeado diretor da Escola Nacional de Belas <strong>Arte</strong>s, Lucio Costa não pode renovar o<br />
ensino da mesma devido a resistências “acadêmicas” encontradas, pedindo, após<br />
alguns meses, sua demissão. Do plano do grande arquiteto constavam:<br />
1- Criação de ateliers livres, externos ou não, de pintura, escultura e gravura,<br />
podendo os alunos optar por um método de ensino de acordo com os mestres que<br />
escolhessem. Os exames seriam em todos os casos, válidos para o diploma.<br />
2- Renovação dos programas e das cadeiras de acordo com as necessidades da época<br />
e da vida prática.<br />
3- Maior liberdade no ensino e mais respeito à personalidade do aluno.<br />
CONSTITUEM problemas morais do Diretório Acadêmico os seguintes princípios,<br />
pelos quais passaremos a objetivar os nossos interesses e pautar as nossas atividades: