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Untitled - PT7AA

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Mais ou menos uma hora depois, Roberto deu a partida ao motor, que se recusou a<br />

funcionar. Só depois de várias tentativas, é que a máquina passou a trabalhar normalmente,<br />

para nosso alívio.<br />

O resto desse dia transcorreu sem novidade. Toda a tripulação estava tão faminta e<br />

sedenta quanto nós, mas ninguém reclamava, o que era muito estranho. Conversando com<br />

Karl sobre isso, concluímos que os pescadores morriam de medo do comandante, que<br />

costumava dar broncas homéricas neles, aparentemente sem motivo algum.<br />

Mais uma noite chegou. Apesar de me esforçar bastante, não conseguia conciliar no<br />

sono. Karl até que dormiu bem, mas eu permanecia desperto o tempo todo.<br />

De madrugada, mais ou menos às duas horas, despertei de repente. Afinal eu tinha<br />

conseguido tirar um cochilo. Karl, que estava no beliche de cima e acompanhava minha<br />

dificuldade em cair no sono, comentou: Até que enfim você dormiu.<br />

- Foi só um cochilinho, respondi. Não devo ter dormido mais de 15 minutos.<br />

- Nada disso. Você dormiu umas duas horas. Roncou pra burro.<br />

- Ainda bem, falei. Estava mesmo precisando de um bom descanso. Até sonhei com<br />

minha casa. Não me lembro de nenhum detalhe, mas sonhei com minha casa.<br />

Amanheceu o dia 17. Quase dois terços de nossa odisséia tinham já ficado para<br />

trás. Apesar dos pesares, o Namorado navegava bem, o tempo estava muito bom, o vento<br />

era favorável e nós só tínhamos de agüentar mais um pouco.<br />

No meio da manhã, Heleno visualizou uma bóia metálica perdida, à deriva, bem à<br />

nossa frente. Antes de recolhê-la, ele mandou os pescadores lançarem duas linhas de pesca<br />

ao mar e fez várias passagens rente a ela, arrastando as linhas pelas proximidades do objeto<br />

flutuante. A cada passagem, um ou dois dourados de bom tamanho eram fisgados. Quando<br />

não havia mais peixes, a bóia foi apanhada e reiniciamos nossa viagem. Um dos pescadores<br />

nos explicou que objetos flutuantes são sempre acompanhados de pequenos peixes, que por<br />

sua vez atraem os predadores maiores, como o dourado. Essa pescaria fora de hora atrasou<br />

um pouco nossa viagem, mas nos proporcionou um espetáculo bem divertido.<br />

A maior parte do tempo nós ficávamos refugiados na popa, atrás da cozinha, o mais<br />

longe possível do mau humor do comandante e do ambiente enfumaçado e mal-cheiroso do<br />

dormitório, onde os dez pescadores permaneciam praticamente o dia inteiro, por absoluta<br />

falta do que fazer.<br />

Chegou a noite. A última noite de nossa viagem. Não tínhamos GPS a bordo, mas<br />

Heleno, com sua experiência de muitos anos, nos falou que chegaríamos a Natal antes do<br />

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