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Mais ou menos uma hora depois, Roberto deu a partida ao motor, que se recusou a<br />
funcionar. Só depois de várias tentativas, é que a máquina passou a trabalhar normalmente,<br />
para nosso alívio.<br />
O resto desse dia transcorreu sem novidade. Toda a tripulação estava tão faminta e<br />
sedenta quanto nós, mas ninguém reclamava, o que era muito estranho. Conversando com<br />
Karl sobre isso, concluímos que os pescadores morriam de medo do comandante, que<br />
costumava dar broncas homéricas neles, aparentemente sem motivo algum.<br />
Mais uma noite chegou. Apesar de me esforçar bastante, não conseguia conciliar no<br />
sono. Karl até que dormiu bem, mas eu permanecia desperto o tempo todo.<br />
De madrugada, mais ou menos às duas horas, despertei de repente. Afinal eu tinha<br />
conseguido tirar um cochilo. Karl, que estava no beliche de cima e acompanhava minha<br />
dificuldade em cair no sono, comentou: Até que enfim você dormiu.<br />
- Foi só um cochilinho, respondi. Não devo ter dormido mais de 15 minutos.<br />
- Nada disso. Você dormiu umas duas horas. Roncou pra burro.<br />
- Ainda bem, falei. Estava mesmo precisando de um bom descanso. Até sonhei com<br />
minha casa. Não me lembro de nenhum detalhe, mas sonhei com minha casa.<br />
Amanheceu o dia 17. Quase dois terços de nossa odisséia tinham já ficado para<br />
trás. Apesar dos pesares, o Namorado navegava bem, o tempo estava muito bom, o vento<br />
era favorável e nós só tínhamos de agüentar mais um pouco.<br />
No meio da manhã, Heleno visualizou uma bóia metálica perdida, à deriva, bem à<br />
nossa frente. Antes de recolhê-la, ele mandou os pescadores lançarem duas linhas de pesca<br />
ao mar e fez várias passagens rente a ela, arrastando as linhas pelas proximidades do objeto<br />
flutuante. A cada passagem, um ou dois dourados de bom tamanho eram fisgados. Quando<br />
não havia mais peixes, a bóia foi apanhada e reiniciamos nossa viagem. Um dos pescadores<br />
nos explicou que objetos flutuantes são sempre acompanhados de pequenos peixes, que por<br />
sua vez atraem os predadores maiores, como o dourado. Essa pescaria fora de hora atrasou<br />
um pouco nossa viagem, mas nos proporcionou um espetáculo bem divertido.<br />
A maior parte do tempo nós ficávamos refugiados na popa, atrás da cozinha, o mais<br />
longe possível do mau humor do comandante e do ambiente enfumaçado e mal-cheiroso do<br />
dormitório, onde os dez pescadores permaneciam praticamente o dia inteiro, por absoluta<br />
falta do que fazer.<br />
Chegou a noite. A última noite de nossa viagem. Não tínhamos GPS a bordo, mas<br />
Heleno, com sua experiência de muitos anos, nos falou que chegaríamos a Natal antes do<br />
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