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luzes da cidade de Natal sumindo no horizonte atrás de nós, enquanto a escuridão que<br />
cobria o oceano se expandia à nossa frente.<br />
No domingo, já bem longe da terra, o comandante Peter nos ensinou a manter o<br />
rumo, usando a bússola e o timão. A partir de então, todos nós nos revezaríamos, pilotando<br />
o barco.<br />
Leopoldo, Filippini, Karl e eu nos alternávamos no timão durante o dia inteiro e<br />
parte da noite, enquanto o alemão dormia profundamente em seu beliche, interrompendo o<br />
sono somente quando ia fazer os procedimentos de localização necessários à viagem, ou<br />
quando preparava algo para comermos em seu fogareiro a querosene, fedorento pra chuchu.<br />
Nós fazíamos o possível para evitar acordá-lo, o que, com toda certeza, causaria mais um de<br />
seus disparatados ataques de mal-humor.<br />
Lá para as tantas, quando o alemão finalmente via que já queríamos dormir, ele<br />
assumia o timão e ficava lá até o dia amanhecer.<br />
Foi logo nesse início de viagem que verificamos que, além da bússola, o<br />
comandante Peter dispunha apenas de um mapa náutico e um velhíssimo sextante, para fins<br />
de localização. Estávamos navegando praticamente com os mesmos recursos usados por<br />
Pedro Álvares Cabral em 1500!<br />
No domingo mesmo, o tempo mudou e aquele ventinho gostoso que nos<br />
impulsionava, simplesmente sumiu. A calmaria, que perdurou por muitas e muitas horas, nos<br />
deixava impacientes, nervosos.<br />
Decidimos então utilizar o motor do barco para seguir viagem e incluímos em<br />
nossos planos uma parada em Fernando de Noronha, para reabastecimento.<br />
Afinal de contas, o combustível de um veleiro é o vento. Nossa gasolina tinha outra<br />
finalidade, pois se destinava a alimentar o gerador, depois que desembarcássemos em<br />
SPSP.<br />
Chegamos a Fernando de Noronha no dia 9 à tardinha, onde fomos recebidos por<br />
André – PYØFF, com quem já tínhamos mantido contato através do rádio.<br />
Estava havendo rigoroso racionamento de gasolina em Noronha, mas graças ao<br />
prestígio de André, conseguimos comprar o combustível que iríamos precisar.<br />
Depois de um revigorante banho de chuveiro e um belo jantar no hotel Esmeralda<br />
do Atlântico, regressamos ao barco e partimos da ilha por volta das 21 horas, com destino<br />
aos rochedos.<br />
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