Mediação de conflitos a partir do direito fraterno - Unisc
Mediação de conflitos a partir do direito fraterno - Unisc
Mediação de conflitos a partir do direito fraterno - Unisc
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
32 Ana Carolina Ghisleni e Fabiana Marion Spengler<br />
pacifismo em um perío<strong>do</strong> tormentoso da Europa; além disso, torna-se ao mesmo<br />
tempo atual: “inexiste alguma razão para a guerra, mas, mesmo assim ela sempre<br />
retorna”. Na verda<strong>de</strong>, o texto aborda questões sobre a socieda<strong>de</strong> contemporânea e<br />
suas contradições:<br />
aquilo que está em jogo nos <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramentos <strong>de</strong>sta reflexão sobre a<br />
guerra, são as formas auto<strong>de</strong>strutivas, a tessitura paciente da paz por<br />
parte das instituições políticas, o <strong>de</strong>sencantamento, o trabalho<br />
quotidiano das burocracias sem alma, as utopias e os<br />
encorajamentos i<strong>de</strong>ais, as paixões e as tantas razões pelas quais<br />
vale a pena realizar esforços comuns. E a forma dialética <strong>do</strong><br />
confronto confere ao texto uma profundida<strong>de</strong> que talvez nenhum<br />
trata<strong>do</strong> científico po<strong>de</strong> reservar-lhe; imediato e rigoroso ao mesmo<br />
tempo, esse <strong>de</strong>bate abre um horizonte que transcen<strong>de</strong> a época, os<br />
anos trinta, e lança luzes sobre os contornos <strong>de</strong> um problema que<br />
muda no tempo, permanecen<strong>do</strong> sempre igual [...]. 99<br />
A primeira carta foi escrita por Albert Einstein 100 em 30 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1932 a<br />
Sigmund Freud abordan<strong>do</strong> questões sobre a guerra, especialmente suas razões. Além<br />
disso, Einstein esperava po<strong>de</strong>r encontrar nos estu<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>scobertas recentes<br />
realiza<strong>do</strong>s por Freud “respostas, explícitas ou implícitas, a to<strong>do</strong>s os aspectos <strong>de</strong>sse<br />
problema urgente e obsessivo”, já que sua apresentação “po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>marcar o<br />
caminho para novos e frutíferos méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ação”. 101<br />
Einstein iniciou a carta questionan<strong>do</strong> se existia “alguma forma <strong>de</strong> livrar a<br />
humanida<strong>de</strong> da ameaça <strong>de</strong> guerra”. Afirmou que uma forma superficial para abordar o<br />
problema seria “a instituição, por meio <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> internacional, <strong>de</strong> um organismo<br />
legislativo e judiciário para arbitrar to<strong>do</strong> conflito que surgisse entre nações”. Deste<br />
mo<strong>do</strong>, as nações se submeteriam às or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong>ste organismo, porém, estaria sujeito à<br />
anulação <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>cisões por meio <strong>de</strong> pressões extrajudiciais. “A busca da<br />
segurança internacional envolve a renúncia incondicional, por todas as nações, em<br />
<strong>de</strong>terminada medida, à sua liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ação, ou seja, à sua soberania e é<br />
absolutamente evi<strong>de</strong>nte que nenhum outro caminho po<strong>de</strong> conduzir a essa<br />
segurança”. 102<br />
Ventura e Seitenfus 103 afirmam que Einstein também refere que o insucesso<br />
compreen<strong>de</strong> fatores psicológicos, como por exemplo, o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, “que<br />
caracteriza a classe governante <strong>de</strong> cada nação”, pois a<br />
99 Ibi<strong>de</strong>m, p. 41.<br />
100 Segun<strong>do</strong> Resta (RESTA, Eligio. O Direito Fraterno. Tradução <strong>de</strong> Sandra Regina Martini Vial. Santa Cruz<br />
<strong>do</strong> Sul: Edunisc, 2004), Einstein escreveu para Freud porque é no mun<strong>do</strong> da psique, estuda<strong>do</strong> pelo<br />
último, que a resposta para a guerra <strong>de</strong>ve ser buscada: “não é na superfície talvez um pouco frívola<br />
das tantas experiências políticas ou nos andaimes ilusórios <strong>do</strong> Direito que está o cerne <strong>do</strong> problema,<br />
mas na dimensão oculta <strong>do</strong>s percursos da mente e <strong>do</strong>s ‘instintos’”.<br />
101 VENTURA, Deisy <strong>de</strong> Freitas Lima; SEITENFUS, Ricar<strong>do</strong> Antônio Silva. Um diálogo entre Freud e<br />
Einstein: por que a guerra? Santa Maria: FADISMA, 2005, p. 25.<br />
102 Ibi<strong>de</strong>m, p. 21.<br />
103 Ibi<strong>de</strong>m, p. 23.