Mediação de conflitos a partir do direito fraterno - Unisc
Mediação de conflitos a partir do direito fraterno - Unisc
Mediação de conflitos a partir do direito fraterno - Unisc
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Mediação</strong> <strong>de</strong> <strong>conflitos</strong> a <strong>partir</strong> <strong>do</strong> Direito Fraterno<br />
Além disso, enfatiza a importância da socieda<strong>de</strong>, vez que cada indivíduo incorpora<br />
alguma parte <strong>de</strong>la, é por meio <strong>de</strong>la que há a transmissão <strong>de</strong> gerações sucessivas e da<br />
civilização, bem como porque é uma autorida<strong>de</strong> moral. Assim, refere que a socieda<strong>de</strong><br />
é ao mesmo tempo a fonte e a guardiã da civilização, porque ela é o<br />
canal pelo qual a civilização chega até nós, ela nos aparece, portanto,<br />
como uma realida<strong>de</strong> infinitamente mais rica, mais alta <strong>do</strong> que a nossa,<br />
uma realida<strong>de</strong> da qual nos vem tu<strong>do</strong> o que temos diante <strong>do</strong>s olhos, e<br />
que, entretanto, nos transcen<strong>de</strong> por to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s já que, <strong>de</strong>ssas<br />
riquezas intelectuais e morais das quais elas têm a guarda, algumas<br />
parcelas somente alcançam a alguns <strong>de</strong> nós. E quanto mais nós<br />
avançamos na história, mais a civilização humana se torna uma coisa<br />
enorme e complexa; [...] Afinal, o que é uma autorida<strong>de</strong> moral, senão o<br />
caráter que atribuímos a um ser, não importa se real ou se i<strong>de</strong>al, mas<br />
que concebemos como constituin<strong>do</strong> uma potência moral superior<br />
àquela que nós somos? Todavia o atributo característico <strong>de</strong> toda<br />
autorida<strong>de</strong> moral é o <strong>de</strong> impor o respeito; em razão <strong>de</strong>sse respeito,<br />
nossa vonta<strong>de</strong> difere das or<strong>de</strong>ns que aquela prescreve. A socieda<strong>de</strong>,<br />
portanto, tem nela tu<strong>do</strong> o que é necessário para comunicar a certas<br />
regras <strong>de</strong> conduta esse mesmo caráter imperativo, distintivo da<br />
obrigação moral. 138<br />
É consi<strong>de</strong>rada socieda<strong>de</strong> civilizada aquela em que os <strong>direito</strong>s <strong>de</strong> cidadania se<br />
combinam facilmente com as diferenças <strong>de</strong> raça, religião ou cultura. 139<br />
A composição da socieda<strong>de</strong> pressupõe uma diferença <strong>de</strong> nível entre cada<br />
indivíduo e a massa. O indivíduo po<strong>de</strong> possuir quantas qualida<strong>de</strong>s quiser, mas quanto<br />
mais isso acontecer, mais inverossímil será a igualda<strong>de</strong> e a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formação<br />
<strong>de</strong> unida<strong>de</strong> com a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s outros. 140 Segun<strong>do</strong> Simmel, o problema da<br />
socieda<strong>de</strong> está nas relações que suas forças e formas estabelecem com os indivíduos<br />
– e se a socieda<strong>de</strong> existe <strong>de</strong>ntro ou fora <strong>de</strong>les. Mesmo quem reconhece a ‘vida’<br />
autêntica somente nos indivíduos, e i<strong>de</strong>ntifica a vida da socieda<strong>de</strong> com seus membros<br />
individuais, não po<strong>de</strong>ria negar uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>conflitos</strong> reais entre indivíduo e<br />
socieda<strong>de</strong>. De um la<strong>do</strong>, porque, nos indivíduos, os elementos fun<strong>de</strong>m-se no fenômeno<br />
particular <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> ‘socieda<strong>de</strong>’, e esta adquire seus próprios pilares e órgãos que<br />
se contrapõem ao indivíduo com exigências e atitu<strong>de</strong>s como se fosse um parti<strong>do</strong><br />
estranho. Por outro la<strong>do</strong>, o conflito está sugeri<strong>do</strong> justamente por meio da inerência da<br />
socieda<strong>de</strong> no indivíduo. Pois a capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ser humano se dividir em partes e sentir<br />
qualquer parte <strong>de</strong> si mesmo como seu ser autêntico – parte que coli<strong>de</strong> com outras<br />
partes e que luta pela <strong>de</strong>terminação da ação individual – põe o ser humano, à medida<br />
que ele sente como ser social, em relação frequentemente conflituosa com os<br />
impulsos <strong>de</strong> seu eu que não foram absorvi<strong>do</strong>s pelo seu caráter social. O conflito entre<br />
138 Ibi<strong>de</strong>m, p. 69.<br />
139 DAHRENDORF, Ralf. O conflito social mo<strong>de</strong>rno: um ensaio sobre a política da liberda<strong>de</strong>. São Paulo:<br />
Edusp, 1992.<br />
140 SIMMEL, Georg. Questões fundamentais da sociologia: indivíduo e socieda<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge<br />
Zahar Ed., 2006.<br />
41